Fevereiro tem recordes de desmatamento na Amazônia e Cerrado
Área desmatada aumentou 62% em relação ao registrado no mês anterior, na Amazônia, e 26%, no Cerrado
Área desmatada aumentou 62% em relação ao registrado no mês anterior, na Amazônia, e 26%, no Cerrado
O desmatamento nos biomas Amazônia e Cerrado bateu recordes no mês de fevereiro de 2023. O Sistema DETER, do INPE (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), registrou 322 km² de desmatamento na Amazônia Legal, um aumento de 62% em relação ao mesmo período do ano passado e de 93% em relação ao mês de janeiro de 2023.
A área de desmatamento registrada para o mês de fevereiro foi a maior da série histórica desde 2015. Os estados que concentram as maiores áreas de alertas de desmatamento são o Mato Grosso com 162 km² (50,3% do total), seguido de Pará e Amazonas, ambos com 46 km² (14.2% do total).
No Cerrado, a área desmatada em fevereiro foi ainda maior: o DETER registrou um total de 558 km² desmatados. Desde o início da série histórica registrada pelo INPE em 2018, o dado para o mês de fevereiro é disparadamente o maior, representando um aumento de 99% em relação a fevereiro do ano passado e de 26% em relação ao mês de janeiro deste ano, que também já vinha em uma tendência de alta.
O acumulado da área desmatada desde o início do ano já atingiu 1.000 km², sendo 26% maior que no mesmo período do ano passado. É o maior acumulado de início do ano da série histórica do DETER, e quase o dobro da média dos últimos quatro anos. Em fevereiro, a Bahia concentrou 48% da destruição do Cerrado, com 268 km² desmatados. Os demais campeões do desmatamento em fevereiro foram o Tocantins (68 km²), o Piauí (63 km²) e o Maranhão (52 km²).
Os quatro estados que mais desmataram em fevereiro de 2023 compõem o MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia), região que é considerada a principal fronteira de expansão agrícola no Brasil e uma das grandes frentes de destruição de ecossistemas do mundo. Juntos, os quatro estados contribuíram com mais de 80% da área desmatada no Cerrado em fevereiro.
Esse é o segundo relatório mensal do DETER após a posse do presidente Luis Inácio Lula da Silva, que tomou em janeiro uma série de medidas tendo em vista a retomada da pauta de proteção ambiental em nível federal, como o anúncio da criação do plano nacional para controle do desmatamento nos biomas brasileiros.
O especialista em conservação e líder da Estratégia de Conservação Zero do WWF-Brasil, Frederico Machado, afirma que é difícil reverter os danos de uma política anti-ambiental em tão pouco tempo, pois os números dos primeiros dois meses de 2023 não revelam uma tendência clara.
Na Amazônia o aumento do desmatamento em fevereiro ocorreu após a queda em janeiro, quando foram registrados 167 km² de alertas de desmatamento – uma redução de 61% em comparação a janeiro de 2022.
Tanto a redução de janeiro como a alta de fevereiro podem estar relacionadas a uma maior cobertura de nuvens nessa época do ano, que corresponde à temporada de chuvas na Amazônia. O sistema DETER utiliza imagens de satélites com sensores ópticos que podem ser afetados pela ocorrência de nuvens.
“Ainda é cedo para confirmar qualquer tendência relacionada ao desmatamento, pois janeiro e fevereiro são períodos de muitas nuvens e chuva, com valores historicamente menores de destruição. O que podemos afirmar com clareza é que os eventos climáticos estão afetando de forma mais recorrente o Brasil e que o controle do desmatamento é fundamental para atenuar as perdas. As ações anunciadas pelo atual Governo são bem-vindas, mas é necessário que toda a sociedade participe desse processo de reconstrução ambiental”, afirma Mariana Napolitano, gerente de Conservação do WWF-Brasil.
Há uma movimentação por parte do atual governo para redução do desmatamento, como os retornos do Plano de Ação para Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal (PPCDAm) e do Fundo Amazônia, este que tem mais de R$ 3 bilhões para financiar ações de fiscalização, ambos foram essenciais para redução do desmatamento entre 2004 e 2012 mas ainda não é o bastante.
“Foram iniciativas que já surtiram efeito no passado, no entanto o momento agora é outro. A Amazônia e o Brasil de hoje não é o mesmo de 10, 20 anos atrás. Vai ser necessário muito mais trabalho repondo os quadros de fiscais ambiental e também inovações tecnológicas, legais e infralegais, para combater as queimadas, o desmatamento, a violência contra os povos da florestas e o garimpo ilegal, que não só estiveram fora do controle, como foram apoiados pelo último governo”, explica Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.
Para ele, o aumento dos alertas de desmatamento em fevereiro, comparado ao ano anterior, pode ser interpretado por inúmeros fatores: “Primeiro, é necessário entender a metodologia do programa de monitoramento realizado pelo INPE, que é referência nacional e internacional. Os sistemas são baseados em satélites ópticos e eles não conseguem enxergar abaixo das nuvens. Isso pode ter sido responsável por essas diferenças tão grandes nos dois primeiros meses”, pontua.
A troca no comando do governo federal também pode ser um dos fatores que corroboram esse aumento: “Acabamos de sair de um governo que apoiava o desmatamento. Enquanto a fiscalização e o controle não chegam em todo território, os desmatadores ilegais podem estar aproveitando para expandir esse desmatamento enquanto essas ações do Estado não incidem sobre o território”, salienta Rômulo.
Para Frederico Machado, a redução do desmatamento só ocorrerá “quando houver uma reversão consistente da fragilização das instituições responsáveis pela fiscalização e quando o discurso do novo governo ganhar mais materialidade”. O especialista acredita que o mais importante neste momento, é a retomada das ações de comando e controle, o “fortalecimento dos órgãos que foram sucateados nos últimos anos, valorização dos povos da floresta e seus saberes e a implementação de uma economia sustentável, área em que o Brasil tem um grande potencial e pode assumir papel de protagonismo”.