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brigadas
Foto: Divulgação | Fundação Boticário.

Enquanto a ocorrência de incêndios florestais segue batendo recordes no Brasil, devastando enormes áreas dos biomas do país, grupo de voluntários se organizam e se mobilizam para combater o fogo, mesmo sem apoio financeiro ou institucional. 

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A atuação organizada destes grupos, juntamente com brigadistas do ICMBio e do PrevFogo/Ibama, tem sido fundamental no combate aos incêndios. São eles que chegam mais rápido aos focos, especialmente em locais distantes dos grandes centros, executando rapidamente o primeiro combate e evitando que as chamas se alastrem. 

É um trabalho duro, que exige grande esforço físico, como enfrentar sensações térmicas que ultrapassam 250°C e caminhar dezenas de quilômetros por dia em áreas de difícil acesso. E muitas vezes isso é feito sem recursos que garantam uma estrutura mínima, como formação de brigadistas, além da compra e manutenção de equipamentos para o combate ao fogo.

“Ser voluntário é uma paixão. É o que nos move para nos arriscarmos para evitar que os incêndios ocorram e para proteger o meio ambiente. Somos apaixonados pelo que fazemos e nos dedicamos muito.”  

Rafael Gava, brigadista florestal e diretor executivo da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV)

Segundo dados do Instituto Nacional de Pesquisa Espacial (Inpe), até agosto deste ano, o Brasil registrou cerca de 80 mil focos de incêndio. Amazônia e Cerrado são os biomas mais atingidos, registrando 78% do total. Com a baixa umidade do ar, fortes ventos e poucas chuvas, intensificados pelas mudanças climáticas, o país entra em um período de alto risco para propagação dos incêndios.

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Inspiração

A Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV) é um exemplo de efetividade na mobilização pela proteção à natureza. A rede composta por 932 voluntários, começou em 2019 com líderes de brigadas. Hoje, a RNBV tem 15 brigadas que atuam em oito estados e diferentes biomas, como Cerrado, Mata Atlântica e Amazônia e 7 novas brigadas aguardam formalização. 

“As brigadas voluntárias estão em lugares onde o Corpo de Bombeiros não consegue chegar com tanta agilidade. Se uma equipe conseguir chegar em até três horas do início do fogo para um combate direto, duas pessoas conseguem apagar o foco inicial. Com uma demora maior, é provável que alguns focos evoluam, se transformando em grandes incêndios, queimando dezenas ou centenas de milhares de hectares de vegetação. O combate rápido é essencial para controlar e evitar a propagação”, explica Aryanne “Ária” Rodrigues, líder da Brigada Voluntária de Colinas do Sul, na Chapada dos Veadeiros.

 Foto: Divulgação | Fundação Boticário

Grávida de sete meses e estudante de Geologia da Universidade Federal de Goiás (UFG), Ária é retrato do perfil dos voluntários que dedicam tempo e esforços em prol do meio ambiente e da comunidade. Entre os participantes estão professores, agricultores, guias turísticos, comerciantes locais, estudantes e outros cidadãos.

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Além da exaustão física provocada pela característica do trabalho voluntário que desempenham, os brigadistas ainda precisam conciliar a atividade com o dia a dia. 

“Depois do trabalho diário, que costuma ser no horário comercial, o voluntário segue para o combate de incêndios. Isso pode acontecer das 19 horas às 7 horas da manhã do dia seguinte. Tem casos que a linha de fogo é tão distante que não compensa voltar e o voluntário fica mais de 24 horas no mato e longe de casa”

Amilton Sá, cineasta e coordenador executivo da Rede Contra Fogo.

Falta dinheiro

Mesmo neste momento em que combater incêndios florestais é cada vez mais urgente, formar e manter brigadas é um desafio no Brasil. Para garantir que este trabalho fundamental seja realizado, muitas vezes os voluntários investem recursos próprios nas atividades.

“Os custos de estruturação, treinamento e operacionalização para que todos possam executar o trabalho de forma segura e eficaz é alto. Tem voluntário que banca gasolina, pedágio e alimentação. Muitos ainda têm de comprar o próprio equipamento de proteção.”

Rafael Gava, brigadista florestal e diretor executivo da Rede Nacional de Brigadas Voluntárias (RNBV)

Mesmo com toda a dedicação dos voluntários, muitas brigadas não conseguem manter suas atividades e iniciativas potenciais simplesmente deixam de existir. 

Chapada dos Veadeiros

A Brigada Voluntária Ambiental de Cavalcante (BRIVAC) é exemplo do impacto dessa fragilidade. O grupo atua no município de Cavalcante, localizado ao norte da Chapada dos Veadeiros, em Goiás, uma das regiões mais afetadas pelas chamas. Atualmente, usa carros particulares dos brigadistas para chegar aos focos do incêndio.

Para o período crítico deste ano, a brigada contará com seu primeiro veículo próprio, doado pela Fundação Grupo Boticário de Proteção à Natureza que mantém em Cavalcante uma reserva natural.

“O Cerrado está presente em vários estados e suas nascentes abastecem bacias hidrográficas em todo o país. Além disso, a sua riqueza natural é fonte de renda e desenvolvimento. Uma área que sofre com o desmatamento e com o fogo descontrolado”, afirma a diretora executiva da Fundação Grupo Boticário, Malu Nunes. 

Segundo Malu, “a doação tem o intuito de estimular outras organizações da sociedade civil e empresas a conhecerem as brigadas voluntárias e contribuírem com esse trabalho tão importante.”

Consciência e prevenção 

Para Braulio Dias, membro da Rede de Especialistas em Conservação da Natureza (RECN), é importante reforçar o engajamento da sociedade civil e a promoção da educação ambiental, além de um maior apoio de instituições públicas e privadas e das administrações municipais. “A atividade de combate a incêndios florestais é de elevadíssimo risco. Não é qualquer um que vai para frente de fogo. Essa é uma das questões pelas quais não se incentiva as pessoas comuns a fazerem o combate e sim a cuidarem para que não surjam novos focos. Temos que ter maior capacitação e priorizar a prevenção”, ressalta.

 Foto: Divulgação | Fundação Boticário

Além das brigadas voluntárias, existem as brigadas oficiais do governo federal. As do Ibama, que atuam dentro de áreas protegidas, evitando incêndio em territórios indígenas e quilombolas; e as brigadas do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), que atuam dentro de unidades de conservação federais. Fora isso, alguns estados têm brigadas próprias, normalmente associadas à Defesa Civil ou ao Corpo de Bombeiros.

“Se todo mundo trabalhar junto, formando uma rede de apoio e com políticas públicas efetivas, é possível ajudar ainda mais na prevenção e no combate a esses grandes incêndios que impactam grande parte das nossas áreas naturais”, diz André Zecchin, biólogo e coordenador da Reserva Natural Serra do Tombador, localizada em Cavalcante (GO) e mantida pela Fundação Grupo Boticário.