As empresas estão realmente engajadas nas questões ambientais?
Ruy Fortini alerta para a necessidade de um compromisso real das empresas e da sociedade com um futuro que vai além da sigla ESG
Ruy Fortini alerta para a necessidade de um compromisso real das empresas e da sociedade com um futuro que vai além da sigla ESG
Nos últimos anos, vimos o ESG se tornar uma pauta na agenda corporativa, no entanto, é fundamental olharmos um pouco mais além das declarações das empresas que dizem colocar em prática ações voltadas ao meio ambiente e começarmos a questionar a verdadeira intenção por trás desse movimento.
De fato, a iniciativa privada deve ter um papel fundamental na luta pela preservação da biodiversidade, afinal, grandes empresas e negócios são a causa de grandes problemas ambientais. Um exemplo disso é o Relatório Anual do Desmatamento, feito pela Mapbiomas, que comprova que o agronegócio é o principal responsável pelo desmatamento ilegal no país. Segundo o estudo, a destruição foi centralizada em duas áreas onde a sociobiodiversidade tem se tornado rapidamente pasto, commodities agrícolas e especulação fundiária.
Com a máxima de que os investidores, consumidores e demais stakeholders estão de olho nas organizações alinhadas ao ESG, empresas fazem de tudo para se adequar à agenda, inclusive, camuflar os dados. Uma pesquisa anônima da Harris Poll para o Google Cloud, que ouviu cerca de 1,5 mil CEOs e outros executivos em empresas com mais de 500 funcionários, mostra que 58% dos líderes alegam que as organizações praticam greenwashing, isto é, mentem ou omitem informações sobre práticas ambientais.
Essa pesquisa revela uma realidade preocupante, em que muitas empresas estão falsamente engajadas em pautas ESG apenas para se beneficiarem da imagem positiva associada a isso, enquanto o verdadeiro compromisso se torna cada vez mais utópico. Além disso, é ineficaz lançar campanhas ou promover ações em prol do meio ambiente para engajar os consumidores, quando as organizações negligenciam toda a cadeia produtiva que pode estar envolvida, por exemplo, com mão de obra escrava.
Em suma, se as empresas estão, de fato, interessadas com o futuro do meio ambiente, o primeiro passo para melhorar esse cenário é parar de destruí-lo. E também devem adotar uma abordagem mais holística, incorporando práticas sustentáveis em todas as áreas de suas operações. E a sociedade, por sua vez, precisa estar atenta e exigir que as empresas sejam transparentes e verdadeiramente comprometidas, assim como deve haver monitoramentos e regulamentos mais rígidos para que as empresas possam assumir, enfim, a própria responsabilidade pelos danos que causam.