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“Atraso no financiamento climático pode levar a um futuro devastador”

Segundo alerta da WoodMac, países em desenvolvimento precisam receber o apoio financeiro prometido para garantir a transição energética

Enchente no Rio Grande do Sul
Enchente no Rio Grande do Sul. Foto: Lauro Alves | Secom | Fotos Públicas

A emergência climática é uma realidade. As enchentes no Rio Grande do Sul são uma mostra de que, além de combater as causas do aquecimento global, é fundamental se preparar para eventos extremos que estão se tornando cada vez mais constantes. Mas, para isso é preciso dinheiro. E a promessa de um financiamento climático países em desenvolvimento precisa se tornar realidade.

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De acordo com a respeitada empresa de análise de energia Wood Mackenzie, caso os grandes investidores internacionais não apoiem a transição energética global, a humanidade vai experimentar “um futuro devastador” com um aquecimento médio de 3°C acima dos níveis pré-industriais.

A estimativa do aquecimento de 3°C projetada pela WoodMac tem como base a projeção de gastos médios de US$ 1,7 biliões por ano para a transição energética, durante os próximos cinco anos. Esse valor está 55% abaixo necessário para atingir as metas do acordo climático de Paris de 2015 que defendem o aquecimento de 1,5°C.

O site do governo brasileiro ressalta que “o Acordo de Paris determina que os países desenvolvidos deverão investir 100 bilhões de dólares por ano em medidas de combate à mudança do clima e adaptação, em países em desenvolvimento” – uma determinação que não vem sendo cumprida.

Enchente em Canoas, no Rio Grande do Sul. Foto: Gustavo Mansur | Palácio Piratini
Enchente em Canoas, no Rio Grande do Sul. Foto: Gustavo Mansur | Palácio Piratini

Compromisso político

“Com metade da população global indo às urnas em 2024, as realidades políticas e o ceticismo climático nos principais países emissores, como os EUA e a Europa, poderão reduzir o apoio à transição, à medida que os eleitores procuram segurança econômica e estabilidade de preços”, alerta Prakash Sharma, autor do relatório e vice-presidente de cenários e tecnologias da WoodMac.

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Segundo Sharma, o primeiro balanço global concluído durante a COP28 do ano passado “também confirmou que nenhum grande país estava no caminho certo para cumprir os compromissos alinhados com Paris e que eram necessárias fortes ações políticas e investimento de capital para acelerar a transição”. No entanto, “a Europa e o Reino Unido já adiaram as metas climáticas para 2030 e outros países podem seguir o exemplo”.

Na COP28, os países também se comprometeram a triplicar a capacidade global de energia renovável e a duplicar o ritmo das melhorias anuais na eficiência energética até 2030. Mas a WoodMac prevê que o investimento disponível para controlar as emissões globais não é suficiente para manter o limite de aquecimento de 1,5°C até 2027, o que deve aumentar ainda mais até 2032.

energia renovável eólica e solar
Foto: Pixabay

Segundo os pesquisadores, as taxas de juros mais altas e os gargalos na cadeia de abastecimento já aumentaram o custo dos projetos de energia renovável em 10 a 20%. No cenário “atrasado” da consultora, “a energia solar e a eólica dominam os mercados de energia a longo prazo, mas as adições a curto prazo são abrandadas devido a estrangulamentos na transmissão”, com as empresas de serviços públicos a recorrerem inabalavelmente a centrais de combustíveis fósseis para equilibrarem as suas redes.

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A WoodMac afirma que “uma transição mais lenta significa que as tecnologias de captura e remoção de carbono teriam de desempenhar um papel dominante na restauração do equilíbrio de carbono e no cumprimento dos objetivos climáticos a longo prazo”, mas tudo indica que essas tecnologias não estão prontas para cumprir as metas.

Financiamento para países em desenvolvimento

Enquanto Wood Mackenzie apresentava o cenário alarmante de atraso no investimento para a transição energética, organizações internacionais procuravam formas de mobilizar financiamento para os países mais pobres na linha da frente da emergência climática. Vale lembrar que estes países, além de terem contribuído menos para o aquecimento global são os que mais sofrem com as suas consequências.

Na semana passada, a Stamp Out Poverty, com sede em Londres, no Reino Unido, publicou um guia para um imposto sobre danos climáticos para empresas de combustíveis fósseis, começando com apenas US$ 5 por tonelada de poluição climática e aumentando depois em US$ 5 dólares por ano, o que arrecadaria cerca de US$ 900 bilhões de dólares em financiamento de perdas e danos até 2030.

Marinha leva água para Eldorado do Sul.
Marinha leva água para Eldorado do Sul. Foto: Marinha do Brasil

A análise “demonstra que os países mais ricos e economicamente mais poderosos, com a maior responsabilidade histórica pelas alterações climáticas, não precisam de ir além das suas indústrias de combustíveis fósseis para arrecadar dezenas de milhares de milhões por ano em rendimento extra, tributando-os com muito mais rigor. Esta é certamente a forma mais justa de aumentar as receitas do fundo de perdas e danos para garantir que seja suficientemente financiado para ser adequado à sua finalidade”, explica o diretor do Stamp Out Poverty, David Hillman.

O relatório propôs a atribuição de US$ 720 bilhões ao financiamento internacional de perdas e danos, ao mesmo tempo que destinava os restantes US$ 180 bilhões a um “dividendo interno” para apoiar as comunidades dos países ricos que são afetadas pela transição energética.

condenação shell clima petrolíferas
Foto: Zbynek Burival | Unsplash

“Um imposto sobre danos climáticos seria uma ferramenta poderosa para ajudar a alcançar ambos os objetivos: desbloquear centenas de bilhões de financiamento para aqueles que estão na ponta da crise climática e, ao mesmo tempo, ajudar a acelerar uma transição rápida e justa para longe dos combustíveis fósseis em todo o mundo”, afirmou Areeba Hamid, diretora adjunta do Greenpeace do Reino Unido, outra organização que endossou o relatório.

“As condições climáticas extremas estão ceifando vidas e causando danos catastróficos em todo o mundo”, acrescentou Hamid. “Enquanto as comunidades que menos contribuíram para a crise se encontram na linha da frente e as famílias em toda a Europa lutam com contas de energia altíssimas, a indústria dos combustíveis fósseis continua a obter lucros enormes sem qualquer responsabilidade pelo seu impacto histórico e contínuo”.

Bancos financiam caos climático

Teresa Anderson, líder global de justiça climática da ActionAid International, citou também os grandes bancos internacionais que “estão injetando bilhões em combustíveis fósseis”, sabendo que as suas decisões conduzem diretamente ao caos climático, especialmente para comunidades na África, Ásia e América Latina.

No ano passado, um estudo da ActionAid “mostrou que estes bancos financiam uma quantidade surpreendente de combustíveis fósseis e atividades agrícolas industriais no Sul Global”, acrescentou. Essas atividades estão “causando apropriação de terras, desmatamento, poluição da água e do solo, e perda de meios de subsistência – tudo isto agravando a injustiça para as comunidades que também são rotineiramente atingidas por secas, inundações e ciclones graças às alterações climáticas”.

Segundo Anderson, “os grandes bancos têm o poder de fechar as torneiras” e os fundos públicos também devem ser desviados para investimentos em energia limpa e na transição climática. “Há um apetite crescente pela ação climática”, disse ela. “Mas isso ainda não é acompanhado pela disposição de pagar por isso. Ou mesmo para parar de lucrar com a destruição climática.”

Com informações de The Energy Mix

enchente em porto alegre
Enchente em Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Foto: Gustavo Mansur | Palácio Piratini