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Projeto acolhe imigrantes que querem aprender português gratuitamente

Escola Municipal Espaço de Bitita reúne 140 alunos e 28 educadores em projeto educacional para imigrantes e refugiados

projeto imigrantes
Foto: Marli Kuhnen

Mais do que um centro de ensino da língua portuguesa para estrangeiros, o Espaço de Bitita, como é conhecida a EMEF Infante Dom Henrique, localizada no Bairro do Canindé em São Paulo, um lugar de acolhida, onde a aprendizagem do idioma é a porta de entrada para inclusão social e profissional.

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Além das aulas regulares para crianças, a EMEF abre suas portas para aulas presenciais de português para estrangeiros e coordenação de turmas online do idioma.  “No ensino remoto contamos com voluntários de outros estados e de outras regiões do país, bem como atendemos estudantes nessas condições”, fala o Diretor da escola e idealizador do projeto “Português para Imigrantes” Claudio Marques da Silva Neto.

O método pedagógico adotado no projeto é o Português como Língua de Acolhimento (PLAC), que se dedica ao ensino de português, com destaque para deslocados forçados, em situação de maior vulnerabilidade e que não têm o português como língua materna.

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Foto: Marli Kuhnen

Para a Gestora de Educação atuante no projeto, Sulima Pogrebinschi, o método PLAC visa garantir os direitos dos imigrantes no país e tem como objetivo “que aprendam o português, não somente no aspecto linguístico, mas que seja contextualizado. O idioma vai inseri-lo na sociedade, dando condições de trabalho, estudo e de trocas interculturais”.

Atualmente estão inscritos 140 alunos no projeto que é viabilizado pelo trabalho de 25 professores e 3 coordenadores voluntários. O material didático é doado pela entidade “Portas Abertas” e complementado pelos coordenadores pedagógicos. A escola, além do local, fornece uma refeição aos alunos no intervalo das aulas presenciais.

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Projeto nasceu da dificuldade

Em 2014 a escola recebeu o primeiro grupo de alunos sírios e a dificuldade do ensino de português para falantes de árabe foi marcante. Mas enquanto as crianças progrediam e começavam a compreender a língua, a família continuava sem conhecer o idioma. “Assim, decidimos criar o “Projeto Português para Imigrantes”, que passou a acontecer em março de 2015, com a ajuda de professores voluntários” – comenta Claudio. Desta forma, a escola passou a ministrar aulas da língua portuguesa também para os adultos da família.

Em 2015 a escola teve papel importante na formulação da portaria que instituiu o Projeto “Portas Abertas: Português para Imigrantes” criado pela Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania e Secretaria Municipal de Educação para regulamentar a Lei nº 16.478/2016, que institui a Política Municipal para a População Imigrante.

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Foto: Marli Kuhnen

O projeto foi reforçado pela parceria com o Governo Federal através do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (PRONATEC), porém esta parceria duraria apenas até a próxima mudança de governo.

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Em 2017 sem o apoio federal, a Prefeitura destinava apenas dois professores remunerados e profissionais da rede pública recebiam para dar aulas extras para os estrangeiros. Porém a baixa remuneração e a carga de trabalho excessiva, desmotivava os professores e o projeto só seguiu adiante com o apoio dos voluntários.

Brasil: rota de imigrantes

O Brasil é considerado um país acolhedor pela maioria dos estrangeiros que firmam raízes por aqui.  É um país membro da Organização Internacional para as Migrações (OIM), principal organismo intergovernamental no campo da imigração.

Na última década houve um aumento de 24,4% no número de imigrantes residentes no país, e segundo dados do Observatório das Migrações Internacionais (OBMigra), hoje temos cerca de 1,3 milhões de pessoas que adotaram o Brasil como segunda pátria.

Destes, a ACNUR (Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados) no Brasil reconhece 60.011 como refugiados, ou seja, pessoas que tiveram de fugir de seu país por temor causado por conflitos ou por perseguições que colocam suas vidas em risco.

Estes refugiados são de 117 países diferentes, mas o maior fluxo está entre venezuelanos (48.789), sírios (3.667), congoleses (1.448) e angolanos (1.363). Um novo fluxo tem sido observado recentemente após a tomada de poder pelo Talibã no Afeganistão, que é dos imigrantes oriundos deste país que têm chegado em grande número ao Brasil todos os dias.

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Parte da equipe de educadores do projeto. Foto: Marli Kuhnen

E como a chegada de novos grupos não cessa, as matrículas para o curso de português são contínuas no Espaço de Bitita e a cada mês abre-se uma nova turma de Introdução a língua portuguesa.

Como participar?

Interessados em aprender o idioma português podem se inscrever através do formulário que deve ser acessado pelo link: https://forms.office.com/r/mX4AFW6WTf

Já quem quiser colaborar ministrando aulas ou dando apoio pedagógico pode enviar um e-mail para: [email protected].

Quem era Bitita?

Bitita era o apelido de infância da escritora Carolina de Jesus que viveu em uma favela, que era localizada próxima a escola. Sua obra é amplamente difundida na EMEF e o seu livro “Quarto de Despejo” é um dos mais conhecidos entre os alunos e retrata acontecimentos na vida sofrida da protagonista e sua luta para ter uma vida digna e sair da favela.

carolina de jesus
Carolina de Jesus assina um de seus livros. Foto: Arquivo Nacional | Domínio Público

Como o bairro do Canindé é o pano de fundo do livro, estabeleceu-se uma relação próxima dos alunos da escola com a obra. Por este motivo, quando a escola promoveu uma votação entre os estudantes para mudar o nome da EMEF de Infante Dom Henrique para outro, o nome Espaço de Bitita foi o vencedor com 40% dos votos.

Embora o processo de mudança de nome ainda não tenha sido aprovado pela Prefeitura, alunos e professores já adotaram informalmente o apelido do local para Espaço de Bitita, que consideram mais representativo e inclusivo.