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Ailton Krenak ABL
Ailton Krenak é o primeiro indígena a se tornar ‘imortal’ da Academia Brasileira de Letras. | Foto: Divulgação

Primeiro indígena eleito para ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras (ABL) em mais de 120 anos desde a sua fundação, o ambientalista, filósofo, poeta e escritor Ailton Krenak tomou posse na última sexta-feira (5) em cerimônia realizada na sede da organização no Rio de Janeiro.

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O autor de livros como Ideias para Adiar o Fim do Mundo e A Vida Não É Útil ocupa a cadeira 5, que pertencia antes ao historiador José Murilo de Carvalho, morto em agosto de 2023. O lugar já pertenceu também à escritora Rachel de Queiroz, primeira mulher a fazer parte da ABL, no período de 1977 a 2003, e ao médico Osvaldo Cruz, de 1912 a 1917.

Em seu discurso, o escritor fez referência ao poema “Eu Sou 300”, de Mario de Andrade, para falar sobre a pluralidade dos povos originários que ele representa ao ingressar na ABL. “Eu não sou mais do que um, mas eu posso invocar mais do que 300. Nesse caso, 305 povos, que nos últimos 30 anos passaram a ter disposição de dizer: ‘Estou aqui’. Sou guarani, sou xavante, sou caiapó, sou yanomami, sou terena”, afirmou.

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Ailton Krenak recebeu da atriz Fernanda Montenegro o colar de imortal. | Fotos: Divulgação

Participaram do evento os ministros dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, e da Cultura, Margareth Menezes. Também o diretor do Instituto Guimarães Rosa (IGR), ministro Marco Antonio Nakata; a presidente da Fundação Nacional dos Povos Indígenas (Funai), Joenia Wapichana; e o secretário-Executivo do Ministério dos Povos Indígenas, Eloy Terena.

Na solenidade, Krenak recebeu da atriz Fernanda Montenegro o colar de imortal, a espada das mãos do também acadêmico Arnaldo Niskier e o diploma de Antonio Carlos Secchin.

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“Foi uma honra prestigiar esse momento histórico de representação dos povos indígenas na cultura e na literatura brasileira, no qual a Academia Brasileira de Letras ‘imortalizou’ o nosso Ailton Krenak, essa liderança indígena, que já colaborou muito, com a sua trajetória de ativismo, na nossa constituição de 1988”, destacou a presidenta Joenia Wapichana, fazendo referência ao simbólico gesto protagonizado por ele na década de 1980.

Ailton Krenak ABL
O evento contou com a presença da presidenta da Funai, Joenia Wapichana. | Fotos: Lohana Chaves/Funai

“É muito simbólico participar desse ato. Krenak é um pensador, um estudioso e um conhecedor do Brasil profundo. Traz consigo a ancestralidade e o conhecimento. A Academia, a Cultura e todo o Brasil ganham com a posse dele hoje”, declarou Margareth Menezes.

A cerimônia foi transmitida pelo YouTube – veja aqui.

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Em defesa dos povos indígenas

A pluralidade indígena ao qual Ailton Krenak representa vai muito além do discurso. Ele tem uma trajetória marcada pelo ativismo socioambiental e de defesa dos direitos dos povos indígenas. Natural de Itabirinha, na região do Vale do Rio Doce, em Minas Gerais, lar do povo Krenak, área que tem sido bastante afetada pela atividade mineradora, Ailton Alves Lacerda Krenak, aos 17 anos, mudou-se com a família para o Paraná, onde trabalhou como produtor gráfico e jornalista. Desde a década de 1980 se dedica à causa indígena, tendo participado da fundação da União das Nações Indígenas (UNI) e da Aliança dos Povos da Floresta, movimento que visava a criação de reservas naturais na Amazônia.

Atuou para a aprovação da emenda constitucional referente aos direitos dos povos originários. Em 1987, durante discurso na Assembleia Nacional Constituinte, que resultou na promulgação da atual Constituição, pintou o rosto com tinta preta de jenipapo em protesto ao retrocesso dos direitos indígenas.

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Em seu discurso, ele falou sobre a pluralidade dos povos originários. | Fotos: Divulgação

Entre 2003 e 2010, Ailton Krenak foi assessor especial do governo de Minas Gerais para assuntos indígenas, nas gestões de Aécio Neves e António Anastasia. Em 2014, foi palestrante do seminário internacional Os Mil Nomes de Gaia, realizado no Rio de Janeiro.

No ano de 2020, conquista o Prêmio Juca Pato de Intelectual do Ano concedido pela União Brasileira dos Escritores (UBE), pelo livro “Ideias para adiar o fim do mundo”. Krenak, que já teve livros publicados em 17 países, é Doutor Honoris Causa pela Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF) e ocupa a cadeira 24 da Academia Mineira de Letras. Atualmente, vive na Reserva Indígena Krenak, no município de Resplendor, em Minas Gerais.

Obras

Traduzida para mais de 13 países, a obra de Ailton Krenak se divide entre os seguintes ensaios e coletâneas de entrevistas:

  • Tembetá
  • Lugares de Origem
  • Futuro Ancestral
  • O amanhã não está à venda
  • Ideias para adiar o fim do mundo
  • A vida não é útil
  • O sistema e o antissistema: três ensaios, três mundos no mesmo mundo

Com informações da Funai, ABL, MinC e Rafael Cardoso (Agência Brasil)