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Famílias com insegurança alimentar gastam mais com saúde

Um paradoxo cruel: quem vive em situação de maior vulnerabilidade tem mais despesas médicas

insegurança alimentar
A fome no Brasil aumentou nos últimos anos. | Foto: Rens D | Unsplash

A insegurança alimentar é definida como a disponibilidade limitada ou incerta de alimentos nutricionalmente adequados, seguros e em quantidade. É sabido como a saúde pode ser afetada nesse contexto, mas pesquisadores da Wake Forest University School of Medicine, nos EUA, querem mostrar como a fome afeta financeiramente as famílias justamente em seus gastos em saúde.

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“Sabemos que a insegurança alimentar tem um impacto negativo nos resultados individuais de saúde”, afirma Deepak Palakshappa, professor associado de medicina interna geral na Wake Forest University School of Medicine e principal investigador do estudo. “Mas precisamos de uma melhor compreensão das implicações financeiras nas famílias e nos gastos com saúde”.

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O número de pessoas atingidas pela fome está aumentando em todo o mundo. | Foto: Manan Vatsyayana | FAO

O estudo de Palakshappa revela um paradoxo cruel: quem vive em situação de maior vulnerabilidade tem mais despesas médicas. As famílias com insegurança alimentar possuem gastos totais com saúde 20% maiores do que as famílias com segurança alimentar, uma diferença anual de cerca de US$ 2.456 (quase 13 mil reais na conversão de 10 de janeiro de 2023).

Para traçar o paralelo entre o que se gasta em saúde quando se vive em insegurança alimentar foram coletados dados de 14.666 indivíduos de 6.621 famílias. As informações integram a Pesquisa do Painel de Despesas Médicas de 2016 e 2017, realizada anualmente pela Agência de Pesquisa e Qualidade em Saúde. A pesquisa coleta informações de provedores médicos dos EUA sobre serviços de saúde, seguro saúde, despesas e características sociodemográficas.

Sem SUS

O estudo analisou pessoas com vários tipos de cobertura de seguro saúde, uma vez que os Estados Unidos não possuem um sistema público universal, e, ainda assim, foi constatado o aumento de gastos em todos os contextos onde a insegurança alimentar se fez presente.

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A equipe também descobriu que uma em cada cinco famílias possui mais de um plano de seguro. Palakshappa aponta que a expansão de subsídios públicos, como o SNAP (sigla em inglês para Programa de Assistência Nutricional Suplementar), pode aliviar a insegurança alimentar nos EUA. SNAP é um programa governamental que ajuda a população carente a comprar alimentos para uma boa saúde.

O estudo foi divulgado, em inglês, na Health Affairs.

Fome no Brasil

Apesar da Constituição Federal de 88 ter incluído o direito humano à alimentação, ter acesso a uma alimentação saudável ainda não é garantido para milhões de brasileiros. A fome no Brasil aumentou nos últimos anos.

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Foto: Unidos do Bem

Segundo uma pesquisa global da Gallup, a insegurança alimentar no Brasil ultrapassou em quatro vezes a média global em 2021 comparado a 120 países (em desenvolvimento e desenvolvidos). Já um relatório da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) revela que 61,3 milhões de brasileiros enfrentaram algum grau de insegurança alimentar entre 2019 a 2021. Do total, a situação foi classificada como insegurança alimentar grave para 15,4 milhões de pessoas. Outro dado alarmante é da Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar), divulgado em junho de 2022, aponta que mais de 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil.