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alimentos biodiversos
O jambo pertence ao gênero Syzygium e à família Myrtaceae, que inclui também a goiaba, a pitanga, o jamelão, a jabuticaba e o eucalipto. | Foto: Pxfuel

Essencial para melhorar a nutrição e reduzir a fome da população, a biodiversidade alimentar está presente no mundo todo, porém apenas 1,3% da população brasileira tem acesso a uma dieta biodiversa. O dado é resultado de uma pesquisa realizada por um grupo de cientistas de diferentes universidades do Brasil.

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São milhares de espécies nativas que garantem à culinária brasileira diversidade com sabores únicos do país. O Pará, por exemplo, é rico em alimentos biodiversos, como a Caapeba-Amazônica (Piper peltatum L.), a Urtiga vermelha (Laportea aestuans (L.) Chew), Beldroega (Portulaca oleracea L.) e até mesmo o jambu (Acmella oleracea).

Tais alimentos, como listados acima, embora possuam um grande consumo local e regional, são desconhecidos pela maioria dos brasileiros. O Brasil é um país considerado megabiodiverso, lar de mais de 50 mil espécies nativas de plantas, fungos e algas, porém muito pouco é utilizado em benefício da dieta média do brasileiro.

Analisando os alimentos biodiversos

O estudo reuniu pesquisadores de diferentes áreas das Universidades Federais do Pará (UFPA), do Rio Grande do Norte (UFRN), de Campina Grande (UFCG), da Paraíba (UFPB) e de Pernambuco (UFPE), além da Universidade de São Paulo (USP), Universidade Estadual da Paraíba (UEPB) e Universidade Católica de Pernambuco.

Para desenvolver a pesquisa, os cientistas utilizaram dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares, do IBGE, realizada com mais de 40 mil pessoas, entre 2017 e 2018. Foram estimadas a frequência de consumo de alimentos biodiversos, levando em consideração variáveis socioeconômicas, como idade, sexo, escolaridade e segurança alimentar.

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Do tucumã, fruta típica da região amazônica, ao pequi, típico do Cerrado, os chamados alimentos biodiversos incluem plantas alimentícias não convencionais (Panc), carnes de caça e cogumelos comestíveis. Os pesquisadores elaboraram uma lista de alimentos biodiversos separados nestas três categorias.

tucumã
Tucumã. | Foto: P. S. Sena CC 4.0

O alimento que mais apareceu foi o pequi, fruto popular da culinária do Cerrado, que foi citado 135 vezes, principalmente por goianos. Algumas frutas como o jenipapo, o babaçu e o butiá foram reportadas apenas uma vez, por moradores da Bahia, Maranhão e Paraná, respectivamente.

“Foi possível observar que as plantas são mais consumidas por mulheres, principalmente não brancas, das regiões Norte e Nordeste do País, e com uma menor renda per capita”, diz Aline Carvalho, professora da Faculdade de Saúde Pública, ao Jornal da USP.

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Os cogumelos, por sua vez, foram mais encontrados na mesa de mulheres brancas, das regiões Sul e Sudeste, com uma maior renda.

Com relação às carnes de caça, como paca, jacaré e cotia, homens negros e indígenas em situação de insegurança alimentar, que também residem na zona rural no Norte e no Nordeste, são os maiores consumidores.

Vale ressaltar que no Brasil a caça de animais silvestres é proibida, com exceção para a caça de subsistência (necessidade de alimentar a si mesmo ou à própria família) e para alguns casos autorizados pelos órgãos competentes.

Alimentos, saúde e natureza

O enfraquecimento da relação humano-natureza e o afastamento dos centros urbanos com a diversidade natural podem ser citados como fatores que contribuem para a falta desses alimentos na nossa mesa. “Eles são muito pouco consumidos, o que pode ter vários motivos: ou aquele alimento já não é mais considerado cultural naquele local, ou porque ele nem mesmo está presente no supermercado”, explica Aline.

capuchinha
Capuchinha. Foto: Martina Bulková | Pixabay

O aumento no consumo de tais alimentos pode, além de ser uma ferramenta para reduzir os altos índices de desnutrição e fome no país, complementar a alimentação, fornecendo micronutrientes essenciais.

“Esses alimentos são nutritivos, ricos em micronutrientes, vitaminas e minerais, ideais para diversificar nossa dieta e promover um estilo de vida saudável e sustentável”, afirma a nutricionista Elenilma Barros da Silva, da Diretoria de Serviços de Alimentação Estudantil – Disae da UFPA.

A notável falta de biodiversidade na dieta brasileira é uma preocupação para a saúde da população, que cada vez mais consome alimentos ultraprocessados. “É preciso promover a segurança alimentar, uma alimentação que seja de qualidade e em quantidade suficiente para toda a população. Esse trabalho vai desde nós mostrarmos de que maneira esses alimentos [biodiversos] poderiam ser consumidos, mas complementar com diversos outros projetos que fomentem uma alimentação natural”, complementa Aline.

O projeto Sustentarea, um Núcleo de Extensão Universitária da USP coordenado pela pesquisadora, busca popularizar esses alimentos – conheça aqui.

Os resultados do estudo foram publicados no artigo Biodiversity is overlooked in the diets of different social groups in Brazil, disponível na revista Scientific Reports.

Com informações do Jornal da USP e UFPA