Lideranças públicas do Brasil têm formação em economia circular

A adoção de uma economia circular passa por políticas públicas que promovam modelos não lineares de produção, consumo e descarte. E para que estas políticas sejam criadas de forma consistente é necessário conhecimentos sobre o tema e reconhecimento da sua importância para um futuro mais saudável e sustentável.

Com o objetivo de aprofundar o conhecimento para a formulação de políticas públicas em economia circular no Brasil, a União Europeia, por meio do Programa Plásticos Circulares nas Américas (CPAP), se uniu à Fundação Ellen MacArthur, com o apoio da Exchange 4 Change Brasil, para uma iniciativa inédita. Gestores e lideranças dos poderes Executivo e Legislativo foram convidados a participar de uma formação sobre economia circular.

Além de alinhar conhecimento e compreensão sobre mecanismos e estratégias de transição da economia linear para a economia circular, a formação irá promover um espaço de troca e compartilhamento de experiências de outros países.

“O Programa da UE – Plásticos Circulares nas Américas (CPAP) – promove uma articulação intersetorial para apoiar a transição para uma economia circular de plásticos por meio do diálogo e da cooperação internacional. A troca de experiências, integrando todos os parceiros possíveis, é fundamental na identificação de alternativas viáveis que beneficie a todos. Acreditamos que só assim vamos conseguir avançar nesta agenda tão importante para o Brasil e para o mundo”, acredita Jean-Pierre Bou, Chefe Adjunto da Delegação da União Europeia no Brasil.

De acordo com Luísa Santiago, diretora executiva para a América Latina na Fundação Ellen MacArthur, essa é uma oportunidade de aprendizagem sobre economia circular que pode ajudar na formulação das políticas públicas. “A economia circular está cada vez mais presente nas políticas públicas do país. Queremos aproveitar esse momento para aprofundar o conhecimento sobre o tema e mostrar como a economia circular é sistêmica, gera renda e emprego e reduz as nossas emissões de carbono”.

A diretora destaca ainda que segundo relatório produzido pela Fundação Ellen MacArthur, a aderência ao modelo circular de economia na América Latina e no Caribe, além de reduzir significativamente emissões de GEE (gases do efeito estufa) nas cadeias de valor, também aponta para a geração de cerca de 4.8 milhões de novas vagas de emprego em áreas específicas como gestão de resíduos, reciclagem e setores de serviços na região até 2030.

A formação surge após uma série de eventos promovidos pela UE no Brasil. O Roadshow 2023 UE-Brasil para soluções de economia circular foi organizado no Rio de Janeiro, em Fortaleza, em São Paulo e o próximo será em Manaus. Esses encontros promovem a conexão dos atores do Brasil e da UE para operacionalizar e tropicalizar soluções de economia circular no Brasil.

Esta nova iniciativa nasce dessa experiência e tem o intuito de qualificar o debate e auxiliar o processo de implementação de novas ações governamentais, especialmente aquelas que viabilizam um desenvolvimento de baixo carbono e promovem a geração de empregos verdes e renda.

Programação

A formação começou nesta terça-feira, 3 de outubro, com o Seminário sobre Economia Circular no auditório da Caixa Econômica Federal, em Brasília. O evento teve mais de 60 pessoas de 10 Ministérios e órgãos do Governo Federal. Como os eventos são presenciais e acontecem em Brasília, a participação de lideranças das Esplanada dos Ministérios é maior.

Outros quatro encontros estão agendados para este ano, com o próximo acontecendo no dia 18 de outubro. Representantes do Governo Federal, Representações Públicas e Bancos de Desenvolvimento podem se inscrever. Para isso basta entrar em contato com a Fundação Ellen MacArthur ou a Delegação da União Europeia no Brasil por meio deste formulário.

Cada encontro terá um macrotema e uma experiência de país específicos para serem discutidos. Serão exploradas as possibilidades de aplicação da economia circular em setores como agrícola e extrativista, industrial e de transformação, comércio, serviços e financeiro. Ao final da formação, serão disponibilizados certificados aos participantes assinados pelas organizações realizadoras, além de um documento em PDF com o registro de conteúdos e aprendizados elaborados durante a iniciativa.

Economia circular

A economia circular propõe um redesenho dos produtos e modelos de negócio que contemplem os seus três princípios fundamentais: eliminar resíduos e poluição, circular produtos e materiais e regenerar a natureza. Dessa forma, é capaz de gerar um sistema resiliente e positivo para as pessoas, as empresas, e o meio ambiente.

O conceito surgiu para se contrapor ao modelo econômico atual que funciona em uma lógica linear, baseado em extrair recursos naturais, transformá-los em produtos e materiais e descartá-los depois de um curto período de uso. Essa lógica de produção e consumo tem sido responsável pelos maiores problemas ambientais que temos, como mudanças climáticas, perda de biodiversidade e poluição.

Ainda de acordo com o último relatório produzido pela Fundação Ellen MacArthur, na América Latina e no Caribe, por exemplo, são geradas 541 mil toneladas de lixo por dia – e a projeção é que esse número aumente em 25% até 2050, com base no modelo atual. Além disso, a região contribui com cerca de 10% das emissões globais de GEE e já vem registrando um declínio de 94% em sua biodiversidade, um número muito maior do que em qualquer outra região observada no mundo desde 1975.

Embora grande parte dos esforços da luta climática ainda estejam em torno da transição energética, ela só fará frente a 55% das emissões. Os outros 45%, cruciais para o cumprimento do Acordo de Paris, somente serão resolvidos com a transição para uma economia circular.