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Mudanças climáticas estão mudando a “geografia do vinho”, diz estudo

Com alteração de temperaturas e ciclos de chuva, regiões vinícolas podem se tornar economicamente inviáveis para o cultivo de uvas

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Foto: Kym Ellis | Unsplash

O clima, com seus ciclos de chuvas e variações de temperatura, interfere diretamente na produção agrícola. Com as uvas não é diferente: ondas de calor e chuvas imprevisíveis, a matéria prima do vinho pode deixar de ser cultivada em alguns lugares e, estranhamente, se adaptar a novas regiões.

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Um estudo mostra que o Reino Unido e outras regiões onde as uvas para vinho não encontravam boas condições de desenvolvimento, podem se tornar lugares propícios para vinícolas. O estudo, “Impactos das mudanças climáticas e adaptações da produção de vinho”, foi publicado na revista Nature Reviews Earth & Environment.

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Foto: iStock

Segundo os pesquisadores, “as mudanças climáticas já estão afetando o rendimento, a composição e a qualidade do vinho. Como resultado, a geografia da produção de vinho pode mudar. Cerca de 90% das regiões vinícolas tradicionais localizadas na Espanha, Itália, Grécia e sul da Califórnia podem desaparecer até ao final do século devido à seca excessiva e às ondas de calor mais frequentes”.

 

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O estudo avaliou os efeitos da seca, do aumento das temperaturas e diferentes ameaças às regiões onde tradicionalmente se produz vinho e descobriram que existe um risco “significativo”, entre 49% e 70%, da produção de vinho perder a viabilidade econômica nestes locais, dependendo da intensidade do aquecimento global.

 

“As mudanças climáticas estão mudando a geografia do vinho. Haverá vencedores e perdedores”, disse o principal autor do estudo, Cornelis van Leeuwen, professor de viticultura do Institut des Sciences de la Vigne et du Vin da Universidade de Bordeaux e da Bordeaux Sciences Agro.

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vinícola vinho uvas
Foto: Boudewijn Boer | Unsplash

“Ainda é possível produzir vinho em quase qualquer lugar, mesmo em climas tropicais. Mas o foco deste estudo são vinhos de qualidade com rendimentos economicamente viáveis”, disse van Leeuwen, em entrevista à agência de notícias AFP.

 

De acordo com o estudo, até 25% dos vinhedos poderia ter uma produção de vinho melhor, em regiões totalmente novas surgindo em altitudes e latitudes mais elevadas.

 

“Temperaturas mais altas podem aumentar a adequação de outras regiões, como os estados americanos de Washington e Oregon, além da Tasmânia e do norte da França. Isso está impulsionando o surgimento de novas regiões vinícolas, como o sul do Reino Unido”, afirma o estudo.

 

A “nova geografia” do vinho vai depender do quanto as temperaturas no mundo vão subir. Se o aquecimento global se mantiver 2ºC acima da média pré-industrial estabelecida pelo Acordo de Paris, as regiões vinícolas terão de se ajustar – a maioria sobreviverá.

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Foto: Rodrigo Abreu | Unsplash

“Os produtores existentes podem se adaptar a um certo aquecimento alterando o material vegetal, sistemas de condução e gestão da vinha. No entanto, estas adaptações podem não ser suficientes para manter a produção de vinho economicamente viável em todas as áreas”, explicam os especialistas.

 

Caso o aquecimento seja maior, “a maioria das regiões mediterrânicas pode tornar-se inadequada para a produção de vinho”.

 

O estudo acrescenta que, nas zonas baixas e costeiras da Grécia, Itália e Espanha, cerca de 90% das regiões vinícolas “podem estar em risco de desaparecer até ao final do século”. E o sul da Califórnia poderá assistir ao esgotamento de até metade de suas famosas vinícolas. Produtores franceses podem precisar recorrer a variedades de uvas mais resistentes, como Chenin para as brancas e Grenache para as tintas.

 

Van Leeuwen disse que a irrigação para compensar as alterações no ciclo de chuvas não é uma boa alternativa já que “as vinhas irrigadas são mais vulneráveis ​​à seca se houver falta de água”. O especialista ainda ressaltou que usar um recurso tão escasso para irrigar culturas resistentes seria uma “loucura”.

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Foto: Maksym Kaharlytskyi | Unsplash