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Expansão de sistema global de gasodutos ameaça metas de Paris

Brasil é o 6° pais mais comprometido com o crescimento do setor e tem US$ 40 bilhões em projetos de quase 6 mil km de gasodutos

gasodutos
Apesar da desaceleração de 13% em 2020, sistema de gasodutos continua sendo uma ameaça. Foto: Pixabay

Um relatório lançado no dia 1º de fevereiro de 2021 Global Energy Monitor (GEM) mostra que a expansão de dutos de gás e óleo continua o movimento de desaceleração que já dura uma década: em 2020, o aumento anual de oleodutos e gasodutos em todo o mundo caiu 13%.

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Apesar disso, US $1,3 trilhão estão comprometidos com uma expansão de 212 mil km de dutos de petróleo e gás, minando as promessas das principais economias de alcançar neutralidade de carbono até meados do século. Segundo a pesquisa, se os países agirem para cumprir as metas do Acordo de Paris, esses ativos estariam seriamente ameaçados.

No topo da lista está a China, com US $173 bilhões empenhados em gasodutos (86%) e oleodutos (14%), seguida pelos EUA, com US $110 bilhões, divididos quase igualmente entre gás e óleo, e pela Índia, com US $104 bilhões, sendo 99% disso em gás. O Brasil é o sexto da lista, atrás de Rússia (US $86 bi, sendo 100% em gás) e Austrália (US $43 bi, também 100% em gás).

O Brasil tem neste momento US $40 bilhões empenhados na construção ou planejamento de quase 6 mil km de gasodutos pela Petrobras, informa o relatório.

As primeiras ações de Joe Biden na presidência dos EUA podem sinalizar para o aumento do risco sobre esses ativos. O democrata suspendeu financiamentos para óleo e gás em terras federais, enterrou o projeto do Keystone XL e enviará ao Congresso medidas para eliminar subsídio aos combustíveis fósseis. O novo presidente já prometeu também cortar financiamentos para a energia fóssil no exterior, acompanhando os britânicos, que anunciaram a mesma decisão em dezembro.

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“O cenário político enfrentado pela nova administração em 2021 é radicalmente diferente daquele que Biden deixou em 2017”, disse James Browning, autor principal do relatório. “O gás fóssil é agora reconhecido como uma “lorota” climática, não como uma solução climática. Isso significa que Biden enfrenta a difícil decisão de controlar a infraestrutura de gás, que é a maneira mais eficaz de limitar as emissões”.

“No mês passado, o chefe do Banco Europeu de Investimento, a maior instituição financeira pública do mundo, disse ‘o gás acabou'”, comenta Greig Aitken, pesquisador financeiro do GEM. “Já é hora de outras instituições financeiras significativas, tanto públicas quanto privadas, intensificarem e seguirem a liderança do BEI para acabar com seu apoio a projetos e empresas de infraestrutura de petróleo e gás”.

Os resultados do estudo são baseados no Global Fossil Infrastructure Tracker, um levantamento projeto a projeto de oleodutos, gasodutos e terminais em todo o mundo.

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Confira outros destaques do relatório

Gasoduto no Alasca. Foto: Pixabay

Bombas climáticas

Os projetos de oleodutos em construção e em pré-construção permitirão um aumento de 170 gigatoneladas nas emissões de CO2 de petróleo e gás, apenas 15% menos do que as emissões de CO2 projetadas para toda a vida útil da frota mundial de usinas de carvão atualmente em operação.

Domínio do gás

Dezoito dos 20 dutos mais longos em construção ou planejamento e 82,7% de todos os dutos em desenvolvimento irão transportar gás. Esse cenário reflete o sucesso da estratégia da indústria de combustíveis fósseis em perpetuar o mito de que o gás pode ser um “combustível de ponte” para um futuro de energia limpa.

Vaca Muerta

A Argentina possui a segunda maior reserva mundial de gás de xisto e a queima de todo o gás da bacia do Neuquén consumiria 11,4% do orçamento mundial de carbono para a meta de aquecimento global abaixo de 1,5C. Em julho de 2020 o governo argentino propôs um novo gasoduto de 2.055 km de Vaca Muerta, na bacia do Neuquén, para o Brasil. O plano B é a esperança do país para alavancar o projeto, depois que o gasoduto proposto de 1.040 km de Vaca Muerta para Buenos Aires ter falhado em obter financiamento.

EUA lideram risco climático

O país é o líder no desenvolvimento de dutos medidos pela capacidade, com 19,6 milhões de barris de óleo equivalente por dia em desenvolvimento. Esta expansão apresenta um grande risco climático já que as exportações americanas de gás natural liquefeito têm a maior intensidade de gases de efeito estufa de qualquer grande exportador, de acordo com o Boston Consulting Group.

Parando os clones da Keystone

A Administração Biden cancelou o oleoduto Keystone XL e pode determinar o destino dos “clones Keystone”, tais como o oleoduto de substituição da Linha 3, tomando medidas em sete áreas principais: aprovações de oleodutos, medidas de estímulo verde, nomeações FERC, ações executivas, nomeações de gabinete, subsídios ao exterior e aprovações para terminais de exportação de petróleo e gás.

Gigante chinesa

A China continua com uma expansão maciça de 32.800 km da rede de oleodutos e gasodutos do país. Essa rede está sendo consolidada sob uma nova empresa, a PipeChina, que em breve será a maior construtora de gasodutos do mundo.

Poucas restrições ao financiamento

Apesar de uma sinalização para o aumento da pressão, os bancos têm agido pouco para mitigar seu impacto na crise climática. Uma análise da Bacia do Permiano, que ultrapassou o Campo de Ghawar da Arábia Saudita para se tornar o maior campo petrolífero produtor do mundo, mostra o apoio financeiro de mais de 100 instituições. Enquanto 50 grandes instituições financeiras já implementaram políticas que restringem o apoio às areias asfálticas ou à extração do Ártico, até agora apenas quatro incluíram restrições a dutos de gás e óleo.

Os dutos estão perdendo sua licença social

A intensa oposição de proprietários de terras, grupos indígenas e ativistas do clima está causando o cancelamento ou atraso de dutos de alto perfil, e está mudando a percepção dos dutos como um investimento “seguro”.