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manguezal Gramacho
Foto: Divulgação | Comlurb

O antigo lixão de Gramacho ganhou fama com o filme Lixo Extraordinário, de 2010, que retrata a história do artista plástico Vik Muniz com os catadores e catadoras de recicláveis que viviam no local. O Jardim Gramacho traz também a triste notoriedade de ter sido o maior aterro da América Latina, recebendo 80 milhões de toneladas de lixo entre 1970 e 2012. E, depois de ter sido desativado, o lugar soma à sua história um projeto de reflorestamento que deu origem a um enorme manguezal.

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lixão gramacho
Antigo lixão Jardim Gramacho. Foto: Tânia Rego | Agência Brasil

As montanhas de lixo da região da Baía de Guanabara, hoje se transformaram em uma floresta de mangue repleta de vida. A transformação se tornou possível graças à uma parceria entre a Companhia Municipal de Limpeza do Rio de Janeiro, o biólogo Mário Moscatelli e diversas instituições e organizações ambientais, como a Urban Sea Institute, o OceanPact, do Instituto Mar Urbano, do (ICMBio) e a cooperativa de trabalhadores de manguezal local.

manguezal Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News

A restauração da área de mangue começou há cerca de 10 anos com o plantio em dez hectares, mas foi sendo ampliada e hoje alcançou a impressionante área de 600 mil metros quadrados, o equivalente a 60 campos oficiais de futebol, a maior área de manguezal recuperada na Baía de Guanabara.

O poder do mangue

Os manguezais são ecossistemas valiosos. Pesquisadores estimam que mangues pode armazenar até quatro vezes mais carbono nas raízes e no solo do que a florestas, tornando-os fundamentais para qualquer estratégia climática de mitigação.

Os mangues também protegem a área costeira graças à sua resistência a tempestades e outros eventos, ajudando a evitar enchentes e outros danos. Estudos demostraram que ao chegar aos manguezais, as tempestades perdem cerca de 66% de sua energia cinética.

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manguezal Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News

Além disso, estas áreas são verdadeiros refúgios para diferentes espécies, funcionando como local de reprodução e berçários de diversos peixes, crustáceos e outros animais. Isso significa que os manguezais também têm um impacto direto no equilíbrio de rios e mares e, consequentemente, nas atividades de pesca e alimentação de milhões de pessoas.

Estas características estão voltando ao manguezal que hoje ocupa a área do antigo aterro. Muitas espécies de aves e crustáceos já são vistas no local, mostrando que a recuperação do ecossistema é real. “Os animais, aqui, encontram abrigo, alimentação farta, e área de reprodução segura. Além disso, funciona como um filtro, tanto na água, retirando elemento contaminantes, quanto e principalmente da atmosfera”, explica o biólogo Mário Moscatelli.

caranguejos manguezal Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News

Os caminhos do lixo

Márcio se dedica há quase 3 décadas ao cuidado da região e conta que hoje o mangue está em plena recuperação, mas enfrenta a ameaça do lixo que chega agora por outros caminhos. “Antes poluímos a baía e os rios. Agora, é a baía e os rios que nos poluem”, explica ele.

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lixo plástico manguezal Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News

Uma contenção foi construída para barrar os resíduos, mesmo assim o plástico e outros materiais dividem espaço com a fauna e a flora locais. “Toda essa estrutura de proteção não precisaria existir se as pessoas tivessem o mínimo de bom senso e não jogassem lixo dentro dos rios”, conclui o biólogo, lembrando que o descarte irregular é também uma das causas das enchentes comuns na região.

De acordo com o biólogo, só em 2023 já foram retiradas 320 toneladas de detritos em uma área de plantio de 15 mil metros quadrados. São resíduos de origem doméstica e até mesmo eletrodomésticos e móveis foram encontrados no local. “Esses detritos desembocam na baía de Guanabara e, com a maré cheia, acabam no manguezal, prejudicando o avanço na recuperação. O manguezal é um berçário natural para aves, peixes, moluscos e crustáceos e precisa ser preservado”, apela o biólogo.

aves manguezal Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News

Hoje, além de Moscatelli, uma equipe de 10 pessoas atua na revitalização do manguezal, graças à parceria com a Statled Brasil, gestora do contrato de revitalização do espaço. As atividades incluem o replantio de mudas de espécies nativas, como o mangue-vermelho (Rhizophora mangle), o mangue-negro (Avicennia schaueriana) e o mangue-branco (Laguncularia racemosa).

plantio mudas mangue Gramacho
Foto: Reprodução | YouTube Africa News