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Jovens comunicadores indígenas ganham blog

Criado pela agência Amazônia Real, blog é espaço para estudantes abordarem suas próprias narrativas de dentro das aldeias

blog jovens indígenas Amazônia Real
Foto: Alberto César Araújo | Amazônia Real

Por Iris Brasil | Amazônia Real

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A Amazônia Real completou no dia 20 de outubro sete anos de fundação como uma mídia digital de jornalismo independente e investigativo. Para comemorar essa data a agência lança nesta segunda-feira (26) o Blog Jovens Cidadãos da Amazônia, que trará conteúdos exclusivos produzidos por jovens comunicadores indígenas de dentro de suas aldeias e comunidades tradicionais sobre como vêm e estão enfrentando a pandemia da Covid-19.  

Participam do Blog Jovens Cidadãos da Amazônia os indígenas Bitate Uru-Eu Wau-Wau, Clemildo Parintintin, Jociane Parintintin, Samela Sateré-Mawé, Janderson Henrique Macuxi e Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau. Foram convidados para serem colunistas do blog as lideranças  Vanda Ortega Witoto e Dario Kopenawa Yanomami.

O projeto do blog foi contemplado com o financiamento de três meses pelo Amazonas Rainforest Journalism Fund, que tem o apoio do Pulitzer Center.

Cada jovem enviará imagens e pequenas histórias para serem publicadas no site da agência Amazônia Real por meio de um aplicativo desenvolvido pela Amazônia Real e pela empresa de tecnologia Cajuideas. Cada comunicador indígena que participa do projeto também será remunerado com bolsas pela produção de conteúdo e receberão equipamentos, como celulares.

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Segundo a coordenadora-geral do projeto, jornalista Kátia Brasil, uma das fundadoras da Amazônia Real, o Blog Jovens Cidadãos nasceu de uma demanda dos estudantes indígenas, que desejavam falar sobre a vivência em suas comunidades e relatar fatos que somente eles poderiam levar para a mídia. Entre as histórias que serão contadas no blog estão o cotidiano na comunidade, eventos, presença de visitantes e temas relativos ao dia-a-dia, como educação, meio ambiente e cultura.

“A primeira fase do projeto será com jovens comunicadores indígenas, mas nas outras etapas vamos convidar jovens quilombolas, ribeirinhos e de comunidade de trabalhadores rurais”, diz a jornalista.

O antropólogo João Paulo Barreto ministrando oficina para os jovens em Manaus. Foto: Alberto César Araújo | Amazônia Real

O primeiro passo para a concretização do projeto aconteceu durante as realizações das Oficinas Jovens Cidadãos. O projeto tem o objetivo de formar jovens de comunidades tradicionais no protagonismo das narrativas na internet e uso da tecnologia e comunicação nas redes sociais.  O tema central das oficinas é a “Identidade e Pertencimento” como oportunidade de troca de conhecimento, de intercâmbio e de valorização da cultura dos povos.  

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Entre 2018 e 2019, mais de 30 jovens indígenas participaram das oficinas em Manaus, entre eles, estudantes dos povos Wapichana, de Roraima; Uru-Eu-Wau-Wau, de Rondônia; Juma, Parintintin, Tenharin, Wanano, Tukano, Baré, Arapaso, Witoto e Sateré-Mawé, todos do Amazonas. O projeto das oficinas contou com o apoio da Fundação Ford e da Aliança para o Clima e o Uso da Terra – CLUA. 

Na oficina de 2019, o antropólogo João Paulo Barreto ministrou uma aula para os jovens em que falou sobre a importância da internet na vida dos jovens indígenas como uma estratégia de autoafirmação e sobrevivência. “As redes sociais hoje são uma ferramenta importante para divulgação da identidade indígena. Também é uma ferramenta de mobilização e fortalecimento da autoestima indígena, quando bem usada pelos jovens”, afirma.

Kátia Brasil conta que o projeto Jovens Cidadãos foi inspirado no Movimento Brooklyn Center (BMC) dos Estados Unidos, criado por pessoas preocupadas com a educação, questões da juventude, comunicação e redes sociais, em 2007. Na ocasião, um grupo comunitário de Nova York capturou mudanças cotidianas e iniciou conversas sobre a vida da cidade com as fotos nas mídias sociais.

O grupo, que tem, em sua maioria, jovens negros, é formado por moradores de Bed-Stuy e Crown Heights que identificaram questões importantes para que eles pudessem melhorar as condições de vida em sua comunidade.

“Nas oficinas em Manaus, os jovens da Amazônia aprendem o que é a importância da comunicação cidadã; a trabalhar com a fotografia e vídeo para criar suas próprias narrativas, preservar sua cultura, identidade e pertencimento étnico no ambiente da internet, além de saber que o ambiente da rede social requer atenção para combater a desinformação”, diz a jornalista.

Pandemia impõe isolamento

Os jovens vão contar suas histórias de enfrentamento na pandemia. Foto: Puré Juma Uru-Eu-Wau-Wau | Amazônia Real)v

Por causa da pandemia da Covid-19, os jovens indígenas estão dentro de suas comunidades e aldeias. Muitos estão com dificuldade de se comunicar com outras áreas e regiões, problema que é agravado pela precariedade da telefonia e do acesso à internet. “O que está faltando é a comunicação. É tudo através de rádio e hoje em dia quase ninguém está usando”, relata em um dos posts inaugurais o jovem Puré Juma Uru- Eu-Wau-Wau. Leia a primeira matéria aqui.

Mas essas barreiras não são suficientes para tirar a vontade e o entusiasmo deles para falar sobre suas comunidades. Com a iniciativa, a Amazônia Real apenas cumpre sua missão de defender os povos tradicionais da floresta por meio de uma comunicação mais democrática e inclusiva. “Como o nosso aplicativo para o envio dos conteúdos já estava pronto, decidimos inaugurar o Blog Jovens Cidadãos em 2020. O objetivo do blog é disseminar o conteúdo tanto no site como nas mídias sociais para repercutir os acontecimentos das comunidades dos estudantes”, diz a jornalista.

Segundo Kátia, os jovens irão entrevistar pessoas das comunidades que cuidam da aldeia, da escola, da saúde, da preservação da floresta, dos rios e demais espaços comuns, combatem os desmatamentos, emergências climáticas, entre outros temas de interesse deles. Ou, ainda, apresentar seu território em sua própria narrativa coletiva. Festas culturais, formaturas na escola e rituais tradicionais também compõem o cotidiano nas aldeias e comunidades da região amazônica. Os textos serão no estilo reportagem noticiosa, opinião ou resenha.

“Mostrar essas mudanças nas comunidades é importante também para dar visibilidade aos diferentes aspectos dos povos tradicionais e os impactos da pandemia da Covid-19. É uma oportunidade para que os jovens tenham sua própria perspectiva antes de um tema abordado chegar a versões da mídia tradicional”, diz Kátia Brasil.

Amazônia Real

Participantes da 2a.Oficina Jovens Cidadãos em Manaus. Foto: Alberto César Araújo | Amazônia Real

A agência de jornalismo independente e investigativo Amazônia Real é uma mídia digital sem fins lucrativos fundada e dirigida pelas jornalistas Kátia Brasil e Elaíze Farias, em 2013, em Manaus, no Amazonas, Norte do Brasil. A missão da agência é fazer jornalismo ético e investigativo, pautado nas questões da Amazônia e de seu povo. A linha editorial é voltada à defesa da democratização da informação, da liberdade de expressão, da liberdade de imprensa e dos direitos humanos.

O jornalismo produzido pela Amazônia Real conta com o trabalho de uma rede de mais de 40 profissionais com sensibilidade na busca de grandes histórias da Amazônia e de suas populações, em especial daquelas que têm pouco espaço e visibilidade na chamada grande imprensa.