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Exposição conta história do Xingu com registros de indígenas

Com produção audiovisual indígena contemporânea e imagens históricas, mostra reúne cerca de 200 itens no IMS de São Paulo

exposição indígenas foto xingu
Kainahu Kuikuro, integrante do Coletivo Kuikuro de Cinema, no ritual do Kuarup na aldeia Afukuri, julho de 2021. Foto: Takumã Kuikuro | Acervo do fotógrafo.

Xingu é o primeiro grande território indígena demarcado no Brasil, em 1961. É a casa de sociedades tradicionais que enfrentam há séculos diversas formas de intervenção e violência e inspiram a luta por direitos dos povos originários. Ainda alvo de disputas e ameaças, o território, localizado no estado do Mato Grosso, é habitado atualmente por mais de 6 mil indígenas, de 16 etnias.

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Esta trajetória de lutas e resistências é mostrada, sob o ponto de vista de artistas e comunicadores indígenas, na exposição Xingu: contatos, no Instituto Moreira Salles de São Paulo, a partir de 5 de novembro, último sábado.

A equipe de curadoria é formada pelo cineasta Takumã Kuikuro, diretor de documentários como As hiper mulheres (2011), pelo jornalista Guilherme Freitas, editor-assistente da serrote, revista de ensaios do IMS, e pela assistente de curadoria Marina Frúgoli.

Com entrada gratuita, a mostra apresenta múltiplas narrativas e olhares em torno do território, tendo como destaque a produção audiovisual indígena contemporânea, que tem no Xingu um de seus principais polos. O conjunto inclui seis curtas-metragens, feitos especialmente para a exposição, de autoria de Divino TserewahúKamatxi Ikpeng, Kamikia KisêdjêKujãesage Kaiabi, Piratá Waurá e do Coletivo Kuikuro de Cinema.

Instituto Moreira Salles SP
O Instituto Moreira Salles fica na Avenida Paulista, 2424. Foto: Reprodução | IMS SP

A exposição traz ainda um trabalho inédito do artista Denilson Baniwa, fotografias produzidas pelos comunicadores indígenas da Rede Xingu +, e um mural, com grafismos alto-xinguanos, criado pelo artista Wally Amaru na empena de um prédio na rua da Consolação.

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Também são exibidos imagens, reportagens e outros documentos produzidos no Xingu por não indígenas desde o final do século 19. O conjunto inclui desde registros de viajantes europeus, passando pela documentação de expedições do Estado brasileiro até a cobertura da imprensa durante a campanha pela demarcação do Parque Indígena do Xingu, decretada em 1961. Na mostra, essas imagens são confrontadas pelas produção de artistas e comunicadores indígenas, num processo de diálogo, contraste e elaboração de novas perspectivas.

Fruto de dois anos de pesquisa, a seleção apresenta cerca de 200 itens. Os materiais provêm do acervo de diferentes instituições, como o próprio IMS, o Instituto Socioambiental (ISA), o Instituto Goiano de Pré-História e Antropologia da PUC Goiás, o Museu do Índio e a ONG Vídeo nas Aldeias, entre outras. As imagens de acervo passaram por um processo de requalificação, conduzido em diálogo com pesquisadores e lideranças indígenas, para identificar pessoas, locais e situações.

“Hoje nós somos protagonistas da nossa história. Antes não conhecíamos o audiovisual, agora conhecemos. Somos donos da nossa imagem e levamos as lutas dos povos do Xingu para museus, festivais, cinemas, redes sociais e exposições”, conta o cocurador Takumã Kuikuro.

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Para ele, as narrativas em torno do Xingu sofreram muitos apagamentos, sendo preciso reforçar o protagonismo das lideranças indígenas na luta pela demarcação do parque e na diplomacia com os brancos. “Queremos contar nossa história para que os não indígenas possam reconhecer e ensinar aos seus filhos o protagonismo dos povos indígenas do Xingu e de todo o Brasil”, completa Takumã.

exposição indígenas Xingu
Frame do curta A câmera é a flecha, 2022. Foto: Coletivo Kuikuro de Cinema.

A câmera e a flecha

A inserção do audiovisual nas comunidades indígenas, tanto como instrumento de preservação de saberes e tradições quanto como ferramenta de autorrepresentação, é um dos temas centrais dos filmes que serão exibidos no primeiro andar. Em Kamatxi cineastaKamatxi Ikpeng mostra a importância das ferramentas audiovisuais para as lutas atuais dos Ikpeng. Em A câmera é a flechaTakumã Kuikuro e o Coletivo Kuikuro de Cinema repassam duas décadas de atuação nas aldeias de todo o Xingu e em festivais ao redor do mundo. Em Somos cineastasDivino Tserewahú reúne depoimentos sobre o papel do audiovisual na cultura Xavante. Um dos pioneiros do cinema indígena no Brasil, Divino participou da primeira oficina do Vídeo nas Aldeias no Xingu, em 1997.

O primeiro andar apresenta ainda dois itens de arquivo que ilustram os caminhos do audiovisual na história do Xingu. Um curta-metragem produzido pelos alunos da primeira grande oficina do projeto Vídeo nas Aldeias, realizada em 1997 no Posto Diauarum, no Território Indígena do Xingu. E uma seleção do acervo pessoal de Pirakumã Yawalapiti, liderança histórica que tinha o hábito de filmar assembleias, rituais e festas desde os anos 1990.

Perspectiva histórica

No segundo andar da exposição, o público encontra uma perspectiva histórica do território. São apresentadas desde as primeiras fotografias feitas na região, durante a expedição do etnólogo alemão Karl von den Steinen na década de 1880, passando pela documentação realizadas pelo Estado brasileiro na primeira metade do século 20, com a Comissão Rondon e o Serviço de Proteção ao Índio, até chegar à cobertura da imprensa da Expedição Roncador-Xingu, sobretudo pela revista O Cruzeiro, com os fotógrafos Jean Manzon, José Medeiros e Henri Ballot – os arquivos de Medeiros e Ballot estão sob a guarda do IMS.

Neste núcleo, as imagens produzidas pelos não indígenas são intercaladas e interrogadas por filmes e fotografias de artistas indígenas. O artista Denilson Baniwa assina um trabalho criado a partir das reportagens da revista O Cruzeiroquestionando a representação das culturas indígenas na imprensa brasileira. Uma narrativa tradicional Kuikuro traz o ponto de vista dos xinguanos sobre a chegada dos não indígenas à região.

Raoni
Foto: Nicolas Tucat | AFP

São exibidas ainda fotos e documentos que registram a presença do cacique Raoni Metyktire e de outras lideranças xinguanas durante os debates da Constituinte, em 1987 e 1988. Os materiais apresentados reforçam como o Xingu se tornou um marco e símbolo da resistência indígena, servindo como referencial para outras demarcações.

Em cartaz até 9 de abril de 2023, a mostra contará com uma série de atividades paralelas, que serão divulgadas ao longo do período expositivo. Ao visitar a exposição, o público poderá conhecer mais sobre a história de lutas e resistências dos povos xinguanos, como enfatiza o escritor e ativista Ailton Krenak. “O Parque Indígena do Xingu é inspirado na ideia de conservação, e ele inspira muito. Inspira a luta indígena no sentido da conservação da biodiversidade e na convivência da diversidade de povos dentro de um mesmo território. Ele é um imenso repertório de experiências positivas que inspira as lutas dos indígenas até hoje.”

indígenas constituição
À frente na bancada, da esquerda para a direita: Teseya Panará, Kanhõc Kayapó, Raoni Mētyktire e Tutu Pombo Kayapó, dentre outros, ocupam auditório da liderança do PMDB nas negociações do capítulo dos indígenas na Constituinte, Brasília, 31.05.1988. Crédito: Foto: Beto Ricardo | Acervo Instituto Socioambiental.

Podcast

A pesquisa para a exposição começou durante a produção do podcast Xingu: terra marcada, que teve a participação dos curadores Guilherme Freitas e Takumã Kuikuro. Lançada em abril de 2021 pela Batuta, rádio de internet do IMS, a série narra a história da campanha pela demarcação do Parque Indígena do Xingu e seu significado para a luta pelos direitos indígenas até hoje. Em cinco episódios, o podcast traz entrevistas com pesquisadores e lideranças, mostrando a perspectiva dos povos xinguanos sobre a trajetória do parque e a situação atual dos indígenas. O programa está disponível, para acesso gratuito, no site da Batuta, no Spotify, na Apple Podcasts e em outras plataformas.

Xingu: contatos

exposição indígenas xingu
Watatakalu Yawalapiti, 2019. Foto: Sitah | Acervo da fotógrafa
  • Quando? de 5 de novembro de 2022 a 9 de abril de 2023
  • Horário? Terça a domingo e feriados (exceto segundas), das 10h às 20h.
  • Onde? IMS Paulista ( Avenida Paulista, 2424 – São Paulo/SP – Tel.: 11 2842-9120)
  • Quanto? Entrada gratuita