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Trem com carga tóxica descarrila e explode nos EUA

Acidente grave levanta discussões sobre o transporte de cargas perigosas nos EUA e uso de produtos tóxicos

Foto: National Transportation Safety Board | Wikimedia Commons

Enquanto as atenções se voltavam para OVNIs que estão sobrevoando e sendo abatidos nos EUA e em outros países, outro meio de transporte e cargas bem mais comuns deixaram de receber o destaque que mereciam. Um acidente envolvendo um trem que transportava cloreto de vinila, usado para fabricar PVC, descarrilou e explodiu na região de fronteira entre Ohio e Pensilvânia.

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A solução das autoridades foi realizar a queima controlada dos produtos químicos tóxicos que estavam sendo transportados em mais de 50 vagões, para evitar uma explosão muito mais perigosa. Como resultado, uma cidade com cerca de 5 mil habitantes foi evacuada por conta da fumaça – uma nuvem tóxica com fosgênio e cloreto de hidrogênio, gases extremamente nocivos à saúde humana usados inclusive como armas na I Guerra Mundial.

A falta de destaque do acidente, que felizmente não teve vítimas fatais, é um problema pois, segundo ambientalistas e defensores da saúde pública, este é um exemplo do que pode acontecer durante o transporte ferroviários de cargas tóxicas. Estima-se que 25 milhões de americanos vivam em locais com riscos de explosão de trens. Se o acidente tivesse ocorrido alguns quilômetros mais ao leste, por exemplo, teria queimado no centro de Pittsburgh, com dezenas de milhares de habitantes em perigo imediato.

Responsabilidade da indústria

Ron Kaminkow, engenheiro de locomotivas da Amtrak e ex-engenheiro de carga da Norfolk Southern, afirma que a indústria ferroviária americana não possui uma supervisão eficaz e reduziu ao máximo a força de trabalho nos últimos anos, apesar de registrar lucros recordes. Mais de 20 mil funcionários foram demitidos pelas empresas ferroviárias, entre 2018 e 2019.

“Este acidente é a ponta do iceberg e uma bandeira vermelha”, disse Kaminkow, que é secretário do Railroad Workers United, um grupo trabalhista sem fins lucrativos que coordena os sindicatos ferroviários do país. “Se algo não for feito, então vai piorar, e o próximo descarrilamento pode ser cataclísmico.”

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trem
Foto: Ankush Minda na Unsplash

Apesar da causa do acidente ainda não ter sido 100% determinada, a Railroad Workers United afirma que trem que descarrilhou não foi inspecionado adequadamente.

De acordo com o Departamento de Transporte dos EUA, cerca de 4,5 milhões de toneladas de produtos químicos tóxicos são transportados por trem a cada ano e uma média de 12.000 vagões transportando materiais perigosos passam por cidades e vilas todos os dias.

Transporte perigoso

O acidente serve como alerta para o que pode acontecer com outras cargas, ainda mais mortais. Em 2020 o Departamento de Transporte dos EUA aprovou o transporte de gás natural liquefeito, ou GNL, por meio de ferrovia sem regulamentos de segurança adicionais. Com a nova regra, trens podem transportar 100 ou mais vagões-tanque com 30 mil galões de GNL.

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Para se ter uma ideia do risco, 22 vagões-tanque cheios de GNL contêm a mesma quantidade de energia que a bomba de Hiroshima.

Materiais perigosos

Outra discussão que pode ser levantada com o acidente é o próprio uso do PVC. Este plástico tem sido usado para fabricar pisos, tubos e outros produtos, especialmente da construção civil, por quase 100 anos.

Desde 2014, a Agência de Proteção Ambiental dos EUA vem sendo pressionada para regular os resíduos de PVC como perigosos. O material foi definido por especialistas em saúde como um “poluente orgânico persistente” durante a Convenção de Estocolmo das Nações Unidas de 2001 sobre Poluentes Orgânicos Persistentes, um tratado que busca proteger a saúde humana de produtos químicos que permanecem intactos no meio ambiente por longos períodos – os EUA não ratificaram o tratado, mas participam como observadores.

PVC canos
Foto: Pixabay

“Esse descarrilamento e explosão, embora não esteja descarregando PVC, é indicativo da natureza perigosa desse material”, disse Emily Jeffers, advogada do Centro de Diversidade Biológica. “Enquanto continuarmos a usar o PVC, continuaremos a ter acidentes como este e é totalmente evitável.

“Se regulamentarmos o PVC como o resíduo perigoso que é, isso poderia forçar os produtores a desenvolver materiais com propriedades menos tóxicas”, acrescentou Jeffers. “Vivemos sem PVC antes e tenho certeza que podemos viver sem ele novamente.”