Desde 201, a Tapera das Artes, organização social de Aquiraz, no Ceará, desenvolve atividades pedagógicas utilizando a linguagem da luteria, ofício de construir e conservar instrumentos musicais. Os jovens atendidos pela instituição tiram música daquilo que poderia ir para o lixo, transformando em arte materiais recicláveis como garrafas, pedaços de madeira e outros objetos.
“É emocionante ver como essa arte toca tão profundamente os aprendizes. Ela nos despertou para um novo mundo de possibilidades e criatividade”, conta Ritelza Cabral, fundadora e presidente do Conselho Administrativo da Tapera, que reconhece que a luteria revolucionou a trajetória da própria associação.
A construção e concerto de instrumentos musicais pelos jovens inclui o uso de diversos materiais, desde os orgânicos, como cabaça, bambu e madeira, até matérias primas sintéticas como plástico, papel, borracha e metal. Parte dos materiais é doada por parceiros da Tapera e outra parte é coletada do lixo pelos próprios alunos.
A proposta é explorar esta variedade de objetos para criar instrumentos musicais e esculturas sonoras em busca de novas sonoridades, novas formas estéticas e alternativas sustentáveis para a luteria.
As aulas de luteria acontecem de segunda a sexta, de 8h às 17h, com a presença de um coordenador e oito assistentes, sendo duas crianças bolsistas. “A luteria possibilita um direcionamento profissional para os participantes que se interessam pelo ofício”, destaca Magno Miranda, presidente da Tapera.
Grupo Catavento
Além da criar instrumentos, a luteria contribuiu para que um grupo musical nascesse dentro da Tapera da Artes. O Grupo Catavento começou em 2015 nas oficinas profissionalizantes ministrada pelo mentor e diretor artístico pedagógico da luteria experimental da Tapera, Fernando Sardo, e hoje apresenta performances com instrumentos musicais criados a partir de diversos materiais recicláveis, ressignificando a estética, formatos e suas utilidades, possibilitando assim, criar novos timbres, cores e sons.
“No repertório estão músicas autorais em diálogo com músicas do mundo, trazendo alegria e sentimentos poéticos para novas formas de ver a vida”, comenta o diretor Fernando. Entre as apresentações do grupo está o show realizado na Bienal do Lixo, que aconteceu este ano em São Paulo.
O grupo conta com quatro integrantes: Aramins, Calaça, Alexandro e Domingos. Algumas apresentações tem a participação especial do Mestre Fernando Sardo e outros convidados.
Tapera das Artes
A música sempre foi a grande paixão de Ritelza Cabral, idealizadora da Tapera das Artes. Em 1993, iniciou voluntariamente ateliês com 30 crianças e adolescentes oriundos de famílias de baixa renda do distrito de Tapera, no município de Aquiraz, ocupando as mangueiras de seu sítio. O trabalho logo criou corpo e em pouco tempo já existiam 60 crianças abrigadas nas sombras dos manguezais, e os sons dos pífaros repercutiam intensamente, encantando rendeiras, pescadores, agricultores e familiares dos pequeninos músicos.
O sucesso que o programa gerou na comunidade possibilitou em pouco tempo a sua expansão, propiciando nos anos seguintes a inclusão de novas ações educativas, com atividades voltadas para o desenvolvimento de diversas atividades artísticas. As mangueiras já não eram suficientes para abrigar os participantes e, em 1996, os pequeninos estavam ocupando espaço apropriado na primeira sede da instituição.
A partir daí foi possível a implantação de um programa pedagógico permanente, que gerou vários grupos musicais artísticos, dentre eles a Orquestra Bachiana Jovem de Aquiraz, criada com apoio do maestro João Carlos Martins, sob a regência do maestro Ênio Antunes. Outras conquistas foram a criação do Centro Cultural, parceria com a Fundação Vitae, e do Teatro Escola da Tapera das Artes, com recursos não reembolsáveis do BNDES; ambos oferecem ações formativas de relevância para a cultura no Estado do Ceará.
Desde suas primeiras ações, a Tapera das Artes cumpre um importante papel em Aquiraz, cidade do litoral leste do Ceará, propiciando a formação integral, desenvolvimento do potencial humano, suas competências e habilidades, e o enriquecimento cultural de crianças, adolescentes, jovens e seus familiares, moradores da região, com a oferta de vários projetos e programas que têm como eixo central a música, mas que trabalham a formação do ser para posturas cidadãs ao longo da vida.