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Folhas de café podem auxiliar no tratamento de Parkinson

Pesquisa da Universidade Federal de Lavras aponta que o subproduto – muitas vezes descartado – pode ser usado de forma medicinal

café Parkinson
Daisy del Carmen Reyes, produtora da Cooperativa San Carlos II. | Foto: Maren Barbee | Flickr

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal de Lavras, em Minas Gerais, revelou que as folhas de café, subproduto muitas vezes descartado, podem ser usadas de forma medicinal. O estudo comprova que essas folhas possuem o composto Levodopa (ou L-DOPA), fármaco utilizado no tratamento da doença de Parkinson, um distúrbio neurodegenerativo que afeta o sistema nervoso.

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Os pesquisadores ressaltam que vários outros compostos de importância medicinal também foram previamente observados nessas folhagens e que, com futuros estudos aprimorados, será possível uma compreensão mais profunda de todas as potenciais aplicações das folhas de café na medicina.

“Esperamos que essa pesquisa abra caminho para a utilização dessas folhas com importantes usos medicinais. Dessa forma, muitos brasileiros que dependem do cultivo do café podem ser beneficiados pela colheita não só dos frutos, mas também das folhas dessa valiosa espécie agronômica”, afirma Thales Henrique Cherubino Ribeiro, o principal pesquisador do estudo e doutorando do Programa de Pós-Graduação em Fisiologia Vegetal.

café mudanças climáticas
Foto: Pixabay

Os trabalhos científicos desempenham um papel crucial no avanço do conhecimento, contudo, “muitas vezes requerem tempo para se traduzirem em benefícios tangíveis para a sociedade. No entanto, no contexto da nossa pesquisa, esse processo é mais acessível: em regiões onde o cultivo tradicional do café é uma prática comum, as comunidades locais têm o hábito de preparar e consumir o chá feito a partir das folhas dessa planta”, ressalta Ribeiro. O pesquisador enfatiza a recomendação do chá de folhas de café como uma fonte inestimável de nutrientes “desde que medidas fitossanitárias adequadas tenham sido tomadas para garantir que as folhas estejam livres de eventuais agrotóxicos”,

Enzimas importantes em dois tipos de café

A pesquisa analisou os “caminhos” metabólicos das folhas de duas espécies de café: Coffea arabica e Coffea canephora. Em ambas, foram identificadas enzimas importantes, como a Polifenoloxidase (PPO) e a DOPA descarboxilase (DDC), que produzem L-DOPA.

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Para ajudar na compreensão das análises, o pesquisador faz uma comparação. “Pense na planta de café como se ela fosse um carro. Em um carro popular, existem, aproximadamente, 28 mil peças que devem funcionar em harmonia para que o carro desempenhe a sua função. No pé de café, existem, aproximadamente, 50 mil genes, ou peças, que devem trabalhar em conjunto para que a planta sobreviva e se reproduza. Uma etapa que pode ser aplicada para decifrar o funcionamento de um carro, ou de qualquer máquina, é a engenharia reversa. Basicamente, se adquire um carro já pronto e o desmonta, componente por componente, sistema por sistema, até que todas as informações necessárias estejam organizadas. A primeira etapa da nossa metodologia foi basicamente isso”, explica.

cafe
Foto: Divulgação

Dessa forma, os pesquisadores, por meio de técnicas de sequenciamento genético, conseguiram desenvolver um modelo de todas as peças (genes) que são necessárias para o funcionamento adequado da folha de café.

“Algumas peças são óbvias e outras são ‘secretas’. Nas folhas, a clorofila, por exemplo, pode ser comparada a rodas evidentes que fazem a folha funcionar. Entretanto, outros componentes são completamente desconhecidos. Nosso trabalho foi focar em peças que ninguém tinha suspeitado que existissem em folhas de café. Ao final, foi produzida uma lista com diversos componentes até então desconhecidos que as análises de sequenciamento genético nos indicaram. Entre eles, estava o L-DOPA, no qual focamos”, explica Ribeiro.

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Além do pesquisador, uma equipe multidisciplinar desenvolveu, ainda, técnicas para provar a existência do L-DOPA nas folhas das duas espécies. Por meio das diversas análises, foi identificada, quantificada e confirmada a presença desse componente.

A pesquisa resultou no artigo “Engenharia reversa de redes metabólicas indicam a presença de compostos de utilidade médica, como a L-DOPA, em café”, publicado no periódico científico International Journal of Molecular Sciences em agosto de 2023 – veja aqui.

Por Claudinei Rezende da UFLA com Fapemig