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agroecologia arroz

A região do Baixo São Francisco, em Sergipe, sempre foi conhecida pelo cultivo de arroz, representando mais de 80% de toda a produção estadual. A rizicultura tradicional, com uso de agrotóxicos e fertilizantes no plantio, era o padrão dos produtores locais.

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Isso mudou quando algumas famílias do Movimento dos Pequenos Agricultores – MPA aceitaram o desafio de realizar a transição do cultivo do arroz convencional para o arroz agroecológico, sem o uso de defensores e fertilizantes químicos.

O resultado foi uma colheita farta. Em fevereiro, treze famílias dos municípios de Neópolis, Pacatuba, Própria e Ilha das Flores colheram 150 toneladas de arroz agroecológico do tipo agulhinha em 17 hectares de plantio, atingindo uma produtividade superior à média estadual. Segundo dados do Sidra/IBGE a média de rendimento do arroz agroecológico foi de 8,6 toneladas por hectare contra 7,4 toneladas por hectare do arroz convencional, em janeiro de 2020.

O modelo de produção agroecológica reduziu o uso de agrotóxicos em mais de 90% na lavoura. A transição para o plantio agroecológico se mostrou positiva para os produtores e é também benéfica para o meio ambiente e para os consumidores, que terão no seu prato alimento sem produtos químicos que podem fazer mal à saúde.

Sustentabilidade e saúde

“Nessa produção do arroz agroecológico só foi usado defensivos orgânicos como o extrato da castanha com álcool, óleo de neem e a urina da vaca”, conta José Raimundo, um dos rizicultores do MPA que participou do projeto.

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O uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos polui solo e água na região que margeia o Rio São Francisco, chegando também à população local. Dados do Relatório Nacional de Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos produzido pelo Ministério da Saúde mostram que a taxa de letalidade por intoxicação por agrotóxicos em Sergipe foi a maior do país em 2015 – ficou em 18,52.

Segundo o relatório, entre 2007 e 2015, foram notificados no Brasil mais de 84 mil casos de intoxicação por agrotóxicos e 36,5% deste total foram provocados por agrotóxicos de uso agrícola.

Muito trabalho e cooperação

Para chegar a este resultado foram anos de trabalho. Camponesas e camponeses do MPA se uniram a Cáritas Diocesana de Propriá, de Sergipe, e criaram o projeto “Dom Távora”, que garantiu verba para a transição da produção convencional para a agroecológica.

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A semente desta mudança foi plantada em 2017, quando José Francisco dos Santos, então estudante do curso técnico de Agropecuária da Escola Família Agrícola de Ladeirinhas, desenvolveu o primeiro projeto de sistema agroecológico para seu trabalho de conclusão de curso.

Em parceria com o MPA de Sergipe, José e sua família plantaram 7 hectares e o plantio teve um desempenho superior ao plantio convencional. “Hoje não é mais uma experiência é uma realidade”, comemora com Mauro Cibulski, rizicultor e militante do MPA.

Ele conta que a produção agroecológica é importante para a independência dos rizicultores uma vez que muitas vezes empresários forneciam o insumo agrícola e, em troca, ficavam com a produção.

Próximos desafios

Após a colheita farta e livre de agrotóxicos, o desafio é vender o arroz. As 150 toneladas de arroz agroecológico colhidas em fevereiro, serão vendidas em feiras, para movimentos parceiros e para órgãos públicos, como escolas e hospitais.

O sucesso da transição já atraiu o interesse de outros produtores que querem passar a cultivar arroz sem o uso de agrotóxicos e fertilizantes químicos, mas para que este movimento continue crescendo é necessário o apoio do governo e órgãos competentes para a criação de uma política de estado que ofereça mais crédito, incentivos fiscais e um programa de comercialização do arroz agroecológico.