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O governo do Reino Unido apresentou na última terça-feira (11/6) ao Parlamento uma proposta de emenda que formalizará dentro da lei sobre mudança climática (Climate Change Act) de 2008 o objetivo de que as emissões de gases de efeito estufa do país sejam neutralizadas até o ano de 2050, em consonância com os compromissos assumidos pelos britânicos no âmbito do Acordo de Paris e das metas globais para descarbonizar a economia global em meados deste século. Esta proposta coloca o Reino Unido no caminho para se tornar a primeira economia do G7 a definir uma lei para emissões líquidas zero.

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“Como a primeira grande economia global a definir metas de emissão de carbono de longo prazo, o Reino Unido pode se orgulhar de seu esforço contra a mudança do clima”, afirmou a Primeira-Ministra Theresa May. “Fizemos um enorme progresso nos últimos anos, com a promoção de crescimento econômico e geração de emprego ao mesmo tempo em que diminuímos nossas emissões”.

Essa meta é baseada nas recomendações do Comitê sobre Mudança do Clima do Reino Unido, um painel independente formado por especialistas em diferentes áreas com o objetivo de oferecer subsídios para a formulação e execução de políticas públicas nessa área no país. Em seu relatório recente, o Comitê prevê que a neutralidade das emissões britânicas até 2050 pode trazer benefícios significativos para a saúde pública, limpando o ar, reduzindo as ocorrências de doenças cardiorrespiratórias e, assim, diminuindo a pressão e os custos que o sistema governamental de saúde enfrenta hoje – sem falar nos benefícios ambientais, como conservação da diversidade biológica.

Embora a execução das ações necessárias para viabilizar esse compromisso dependa dos futuros governos britânicos, as bases estabelecidas pela nova legislação oferecem um ponto de partida sólido para promover a redução das emissões em setores-chave da economia do Reino Unido nas próximas décadas, com foco em inovação tecnológica.

De acordo com o governo britânico, o Reino Unido já é um centro de excelência em crescimento limpo e inovação em baixo carbono. Os setores de tecnologia de baixa emissão e energia limpa contribuem hoje com £ 44,5 bilhões anuais para o Produto Interno Bruto (PIB) britânico. Além disso, o país também estabeleceu uma estratégia (Road to Zero) para acabar com a venda de veículos com motores à combustão, beneficiando novas tecnologias de automóveis elétricos.

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Segundo com o Comitê, o custo para viabilizar emissões líquidas zero no Reino Unido até 2050 seria de 1% a 2% do PIB britânico – o mesmo valor que o custo estimado há dez anos para atingir a atual meta de 80% de redução de emissões que orienta a legislação atual.

A incorporação dessa emenda à lei climática facilitará o processo legislativo necessário para sua aprovação, o que atende também a uma exigência de ativistas juvenis e do movimento Extinction Rebellion em favor de ação rápida contra a mudança do clima e se alinha à declaração recente de emergência climática feita pelo Parlamento britânico, o primeiro do mundo a fazer isso.

A expectativa agora é que outros países, especialmente grandes economias do mundo, acompanhem o Reino Unido nesse movimento em prol da descarbonização da economia global. “Este é um compromisso histórico que reverberará em todo o mundo”, apontou Laurence Tubiana, CEO daEuropean Climate Foundation e uma das arquitetas diplomáticas do Acordo de Paris. “Todos os olhos agora se voltarão para os demais países da Europa para que eles acompanhem esse movimento, de modo que o ritmo da descarbonização seja acelerado em todo o continente”.

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Além da emenda à lei climática britânica, o governo de Theresa May também criou hoje o Grupo de Coordenação Juvenil, com o objetivo de incluir a juventude britânica na discussão sobre políticas públicas de meio ambiente e clima. A criação desse grupo atende a uma demanda dos jovens britânicos evocada inúmeras vezes nos últimos meses, especialmente no contexto das chamadas “greves climáticas” realizadas por estudantes em todo o mundo, encabeçadas pela jovem sueca Greta Thunberg.

“O anúncio de hoje é um primeiro passo crucial para o Reino Unido, que demonstra que aqueles que estão no poder estão começando a ouvir e reconhecer o estado crítico de nosso planeta”, disse Gareth Redmond-King, chefe do programa de clima e energia no escritório britânico da ONG WWF. “A última década mostrou que essa meta é possível – sabemos o que é necessário para chegar à neutralidade de nossas emissões e a velocidade do desenvolvimento tecnológico, como painéis solares e turbinas eólicas, nos dá esperança de que podemos chegar a emissões líquidas zero mesmo antes de 2045”.

De acordo com Phil MacDonald, analista de energia da ONG Sandbag, um ponto central que permitiu ao Reino Unido avançar em torno dessa meta foi o abandono do carvão na geração de eletricidade. “A matriz elétrica britânica hoje é quase totalmente livre de carvão, e essa lacuna foi preenchida com mais eficiência energética e uso de fontes limpas. Isso pode ser uma inspiração para que outros países que dependem hoje do carvão para geração elétrica, como a Alemanha, encontrem caminhos rápidos e viáveis para abandonar esse combustível sujo e possam também chegar às emissões líquidas zero em um futuro próximo”, comentou MacDonald.

Para a Primeira-Ministra britânica, a definição dessa lei é uma oportunidade para que o Reino Unido avance ainda mais e se consolide como uma liderança internacional na luta contra a mudança do clima. “Agora é hora de ir mais longe e rápido na proteção do meio ambiente para as futuras gerações. Este país encabeçou a Revolução Industrial e hoje devemos liderar o mundo na busca por uma forma de crescimento mais limpa e verde”, concluiu May.