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Calor gerado pelo desmatamento compromete trabalho ao ar livre

Estudo revela que aumento da temperatura já coloca em risco o bem-estar e a produtividade de 2,8 milhões de trabalhadores

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Foto: Jay EE | Unsplash

Foi publicado na revista científica One Earth, no dia 17 de dezembro de 2021, um estudo sobre os impactos do aquecimento global na população com revelações importantes sobre o impacto do aumento da temperatura nos trópicos sobre o bem-estar e a produtividade das pessoas que trabalham ao ar livre.

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O estudo, conduzido por uma equipe multidisciplinar da Duke University, University of Washington e da organização não governamental The Nature Conservancy (TNC), teve por base as condições de trabalho consideradas seguras, informações de satélite e dados populacionais, em 94 países com florestas tropicais, observando temperatura e umidade.

Ao cruzar as referências, o estudo identificou que o aquecimento global, associado ao desmatamento recente entre 2003 e2018, aumentou a exposição ao calor para 4,9 milhões de pessoas ao redor mundo, incluindo 2,8 milhões que trabalham ao ar livre.

“Por causa da mudança climática, estas áreas nos trópicos já estão no limite do que é considerado seguro ou confortável para trabalhar no final da manhã para tarde.”  

Luke Parsons , pesquisador climático da Universidade Duke
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O aumento da temperatura e da umidade causados ​​pela perda de árvores tem reduzido o número de horas seguras do dia para as pessoas trabalharem, principalmente para quem realiza trabalhos pesados. Foto: Ivan Henao | Unsplash

Um crescente número de pesquisas tem mostrado que o desmatamento está relacionado a um aumento nas temperaturas locais, pois diminui os benefícios do resfriamento que as árvores trazem para uma área. Por exemplo, nas áreas da Amazônia no Brasil que foram fortemente desmatadas, nas últimas duas décadas as temperaturas foram até 10° C mais altas do que as regiões florestadas.

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Uma das conclusões mais significativas foi referente à segurança do trabalho considerando os impactos na saúde de um trabalhador em uma determinada umidade e temperatura. De acordo com os pesquisadores, houve reduções significativas nas horas seguras de trabalho em áreas desmatadas quando comparadas com as de floresta tropical intacta.

Riscos associados ao calor

Segundo Beatriz Oliveira , pesquisadora da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca do Brasil, a exposição ao calor pode afetar o humor e as doenças mentais, além de reduzir o desempenho físico e psicológico, incluindo lapsos de concentração, fadiga, irritabilidade, aumentando o risco de acidentes,

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Foto: Thayran Melo | Unsplash

No Brasil, o estudo destaca a exposição desproporcional ao calor nos estados do Pará e Mato Grosso e alerta que as projeções de aquecimento devem agravar ainda mais a situação.

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Projeções

O estudo projeta que o aquecimento global futuro de mais 2°C em relação ao presente pode afetar 250 mil pessoas com a perda de mais duas horas de trabalho seguro por dia em comparação com 2003.

Segundo Luke Parsons, que liderou grande parte da pesquisa, os dados reforçam a importância das florestas tropicais na mitigação dos efeitos do aquecimento global. “Nossas descobertas destacam o papel vital que as florestas tropicais desempenham como `ar-condicionado natural`, em especial para as populações mais vulneráveis ​​às mudanças climáticas, visto que são normalmente de regiões onde o trabalho ao ar livre tende a ser a principal opção para muitos”, explica o pesquisador da Duke University.

Já o coautor e cientista de mudanças climáticas da TNC, Nick Wolff, destacou a urgente necessidade de conter e reverter o desmatamento das florestas. 

“Já sabíamos que o desmatamento tropical está associado a aumentos localizados de temperatura, mas, devido ao aquecimento acelerado que está ocorrendo em todo o planeta, é urgente realizar mais pesquisas sobre como as mudanças estão afetando populações humanas vulneráveis​​em todos os trópicos. Os vários compromissos para conter e reverter o desmatamento que surgiram na COP 26, em Glasgow, foram apenas um começo. Agora precisamos ver esses compromissos se convertendo rapidamente em ações locais tangíveis”, explicou Nick.

Wolff afirmou, ainda, que o estudo evidenciou que remover a floresta tropical não é ruim apenas para as mudanças climáticas globais, mas também para os ecossistemas e comunidades locais. E, assim, evitar o desmatamento trará um benefício tangível para as pessoas que vivem em áreas de floresta tropical.