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Amazônia tem a maior taxa de desmatamento desde 2006

Foram 3 recordes seguidos nos 3 anos do governo Bolsonaro e a floresta está cada vez mais perto do ponto de ruptura do seu equilíbrio

proteção ambiental lei
Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real

O Projeto de Monitoramento do Desmatamento na Amazônia Legal por Satélite-PRODES, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais-INPE divulgou nesta quinta-feira, 18 de novembro de 2021, os dados de desmatamento da Amazônia Legal entre agosto de 2020 e julho de 2021. Os números são considerados oficiais pelo governo federal e confirmam a tendência já indicada pelos alertas mensais de desmatamento do sistema DETER, também do INPE: foi o ano mais devastador desde 2019, consolidando uma série macabra de três recordes consecutivos sob a gestão Bolsonaro. 

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A estimativa da taxa oficial de desmatamento na Amazônia Legal divulgada hoje por meio do Programa Prodes, aponta que 13.235 km² foram desmatados entre agosto de 2020 e julho de 2021. Os dados divulgados pelo Inpe representam um aumento de 21,97% na taxa de desmatamento em relação ao ano anterior. Esta é a maior taxa de desflorestamento já registrada, desde 2006. O Pará liderou as taxas de destruição, com 5.257km2 (40% do desmatamento total no período), seguido pelos estados do Amazonas e Mato Grosso.

Na média, houve um aumento de 52,9% na área desmatada nos três anos de governo Bolsonaro (média de 11.405 km² entre 2019 e 2021) em relação à média dos três anos anteriores (média de 7.458 km² entre 2016 e 2018). Em três anos de governo Bolsonaro, foram três recordes consecutivos de desmatamento na Amazônia. Cientistas alertam que a floresta está cada vez mais perto do ponto de ruptura do seu equilíbrio.

“O governo atual elevou drasticamente o patamar de desmatamento na maior floresta tropical do planeta. Estes são níveis inaceitáveis perante à emergência climática que vivemos no Brasil e no mundo, com extremos climáticos e seus impactos cada vez mais devastadores e frequentes.”

Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace
desmatamento Amazônia
Foto: Felipe Werneck | Ibama

Cristiane Mazzetti, porta-voz da campanha da Amazônia do Greenpeace, faz um alerta:  “Essa situação só vai piorar, se o Senado aprovar o PL da Grilagem, que beneficia invasores de terras públicas e incentiva ainda mais desmatamento”, completa.

No período em que a taxa foi medida, 32% dos alertas de desmatamento se concentraram nas Florestas Públicas Não Destinadas, alvo frequente de grilagem de terras. A última audiência pública do Senado para discutir o PL 2633/2020, já aprovado na Câmara dos Deputados deve acontecer na próxima semana, com isso a matéria pode ser votada em Plenário logo na sequência.

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Impactos ambientais e econômicos

O anúncio das taxas de desmatamento chega na semana seguinte ao encerramento da COP 26, onde o governo brasileiro tentou limpar sua imagem. NO entanto, os representantes do Brasil na cúpula já sabiam que um novo recorde havia sido batido: o documento divulgado no dia 18 de novembro de 2021 tem data de 27 de Outubro de 2021, ou seja, antes da COP 26.

O anúncio também ocorre ao mesmo tempo que o cerco para o desmatamento começa a se fechar. Além do risco de perda dos serviços ambientais da floresta e dos efeitos devastadores sobre o clima causados pelo desmatamento da Amazônia, os dados PRODES acendem a luz vermelha também para a economia. Durante a COP 26, mais de 100 países se comprometeram a zerar o desmatamento de florestas – compromisso reiterado no acordo bi-lateral firmado entre as duas maiores economias do planeta, Estados Unidos e China, na semana passada.

Empresas do Reino Unido, com suporte de seu governo, anunciaram um arrojado manifesto contra qualquer tipo de desmatamento associado com a produção de soja, anúncio este que trata tanto de ecossistemas florestais, como os não-florestais (a exemplo de parte do Cerrado) e que não aceita sequer o desmatamento legal. Esta semana, a Comissão Europeia, braço executivo da União Europeia, divulgou proposta para bloquear a importação de commodities associadas ao desmatamento e à degradação florestal, definindo o ano de 2030 como o limite para o desmatamento.

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“Se o desmatamento não for interrompido imediatamente, as exportações brasileiras do agro ficarão cada vez mais restritas a um pequeno número de países que ainda não aderiram a esses acordos. São mercados marginais que, no futuro, também deverão aderir ao esforço global de combate ao desmatamento porque no caso do Brasil é de longe a principal fonte de emissões dos gases que estão alterando o clima em todo o planeta”, adverte Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.

“Este é o Brasil real que o governo Bolsonaro tenta esconder com discursos fantasiosos e ações de greenwashing no exterior.”

Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil
desmatamento
Imagem aérea de desmatamento registrada pelo Greenpeace durante sobrevoo no estado de Roraima em abril de 2021. Foto: Christian Braga | Greenpeace

“O que a realidade mostra é que o governo Bolsonaro acelerou a rota de destruição da Amazônia. Se não revertermos essa tendência, acabando com o desmatamento e restaurando as áreas já degradadas, a floresta amazônica poderá alcançar um ponto de não reversão e iniciar um processo de degradação acelerado. Se isso acontecer, o Brasil deixará de contar com os serviços ambientais vitais que ela presta, como o armazenamento de carbono e a regulação do regime de chuvas do país”, reforça Mauricio Voivodic, diretor-executivo do WWF-Brasil.

Ponto de não reversão cada vez mais próximo para a Amazônia

Há uma semana, foi divulgado na COP 26, o relatório final do Painel Científico da Amazônia, que reuniu mais de 200 cientistas para avaliar o estado atual do bioma.  A principal conclusão é que a floresta já está perto de um “ponto de não reversão” a partir do qual sua estabilidade se compromete, dando início a um processo automático de degradação que já não poderá ser parado.

terras indígenas preservação
Foto: Bruno Kelly | Amazônia Real

Ainda segundo esse relatório, a região conhecida como o “Arco do Desmatamento” já se tornou uma faixa da Amazônia que emite carbono na atmosfera, em vez de absorvê-lo. Atualmente, o desmatamento da Amazônia responde por quase metade das emissões brasileiras.

“Manter a floresta em pé é essencial se quisermos atingir a meta do Acordo de Paris de limitar o aumento da temperatura média do planeta em até 1,5°C até o fim do século”, lembra Voivodic.  Ainda segundo o relatório do Painel Científico da Amazônia, a floresta retira mais de 1 bilhão de toneladas de CO2 da atmosfera todo ano, o equivalente à metade de todos os gases do efeito estufa que o Brasil emitiu no ano passado.

O desmatamento na Amazônia já vem impactando o regime de chuvas em todo o Centro-Oeste e Sudeste do Brasil, causando graves prejuízos à segurança hídrica e alimentar do país. Além disso, na esteira do desmatamento, a grilagem, garimpo e invasão de terras têm colocado cada vez mais em risco a sobrevivência de populações indígenas e comunidades tradicionais.