A política de desmonte ambiental do governo Bolsonaro causou mais um constrangimento ao Brasil na última sexta-feira (11). O país foi o campeão em duas categorias do Prêmio “Fóssil do Ano”, dado por uma rede de 1.300 ONGs aos países que mais atrapalham o combate à mudança do clima.
O tradicional antiprêmio, organizado pela CAN (Climate Action Network), é concedido durante as conferências do clima da ONU, as COPs. Como não houve COP neste ano devido à pandemia, a CAN organizou um Fóssil especial virtual, para “homenagear” os países que “fizeram seu melhor para serem os piores” nos últimos cinco anos.
O Brasil dividiu as cinco categorias da premiação com outros dois países, os EUA e a Austrália. Não por acaso, foram os únicos três grandes emissores do mundo a ficar de fora da Cúpula de Ambição Climática organizada pela ONU para marcar o aniversário do Acordo de Paris.
A Austrália venceu em “Não honrar a meta de 1,5 °C” por defender o carvão mineral e se recusar a adotar uma meta de neutralização de emissões. Os EUA de Donald Trump venceram por “não prover financiamento climático” e o prêmio máximo “fóssil colossal” por terem abandonado o Acordo de Paris.
A primeira estatueta do Brasil recebida foi na categoria “Não proteger as pessoas dos Impactos Climáticos”, pelos esforços do governo Bolsonaro em destruir os ecossistemas brasileiros e não proteger os povos indígenas das queimadas e dos efeitos da mudança do clima.

A “política da motosserra” de Bolsonaro, explicam os avaliadores, atrapalhou de vez a ideia de esfriar o planeta e resultou no aumento de 14% dos incêndios na Amazônia em relação ao já catastrófico ano passado. O destaque foi também para a devastação da maior área úmida tropical do mundo, o Pantanal, que teve quase 30% do seu bioma queimado, destruindo a vida das comunidades indígenas e de toda a sua biodiversidade. Os avaliadores destacaram ainda outras iniciativas do atual governo para justificar o prêmio, como oferecer concessões ao agronegócio e aos magnatas da mineração, virar as costas às comunidades indígenas, prometer altos investimentos para a geração de energia por combustíveis fósseis e, é claro, por negar as mudanças climáticas.
O segundo prêmio foi concedido na categoria “Reduzir o espaço da sociedade civil”. Neste quesito, o Brasil ganhou até da Rússia e se destacou pela escalada de repressão aos grupos da sociedade civil que resistem às políticas de desmonte ambiental e lutam pelos direitos das comunidades indígenas. O destaque foi ao plano do Conselho Nacional da Amazônia Legal, coordenado pelo vice-presidente, general Hamilton Mourão, que pretende, por meio de um marco regulatório, ter o “controle” de 100% das ONGs que atuam na região até 2022. A meta do governo é que atuem na região amazônica apenas as entidades da sociedade civil que atendam aos “interesses nacionais”, que, no entanto, não são descritos por Mourão.
Queimada próxima à Flona do Jacundá, 2020 | Foto Bruno Kelly | Amazônia Real Pantanal em chamas, 2020 A comunidade Huni Kuī, no Acre, 2019
“A sociedade civil, apesar das ameaças, precisa se fortalecer para pressionar, nacional e internacionalmente, por medidas efetivas de redução nas emissões, pela preservação das florestas e proteção dos indígenas”, disse Nayara Castiglioni Amaral, coordenadora-geral do Engajamundo, que recebeu os prêmios.
As duas novas estatuetas agora farão companhia para o grande prêmio recebido no ano passado, quando o Brasil saiu da COP25 com o troféu Fóssil do Ano, como “país que mais atrapalhou o clima em 2019”.