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A forma como utilizamos o solo é um dos principais fatores para as mudanças do clima, colocando demandas insustentáveis ​​nos sistemas terrestres de que os seres humanos e a natureza dependem. Esta é a principal conclusão do Relatório Especial do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) e Terra, apresentado nesta quinta-feira (8) em Genebra.

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O novo documento do IPCC explora a relação entre clima, pessoas e terra em um mundo cada vez mais quente. Ele adverte que as mudanças climáticas estão colocando mais estresse sobre a terra, aumentando a degradação, a perda de biodiversidade e a insegurança alimentar.

O uso da terra contribui com cerca de 23% do total de emissões globais de gases de efeito estufa (GEE) via ação humana – as causas principais são desmatamento, conversão de habitat para a agricultura e emissões de gases por parte das criações de gado. Em todo o mundo, o setor de alimentos é responsável por 75% do desmatamento, sendo que a pressão é maior nos trópicos. A remoção de florestas e a conversão de ecossistemas naturais libera carbono e contribui para uma perda de biodiversidade e degradação da terra sem precedentes.

No Brasil, o setor de uso da terra é a principal causa de emissões de GEE. Segundo o Sistema de Estimativas de Emissões de Gases de Efeito Estufa (SEEG), Agropecuária e Mudança de Uso da Terra e Florestas corresponderam, respectivamente, a 23,9% e a 46,12% das emissões brasileiras em 2017, data do dado mais recente disponível.

Aumento do desmatamento

O cenário torna-se ainda mais preocupante com as notícias de aumento de desmatamento divulgadas recentemente pelo Instituto de Pesquisas Espaciais (Inpe). De acordo com o Deter, sistema utilizado pelo Inpe e tido como referência em todo o mundo, o desmatamento em julho de 2019 foi 278% maior do que no mesmo mês do ano passado – foram apontadas perdas de 2.254,9 km² contra 596,6 km², apenas na Amazônia.

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“A divulgação aberta dos dados de desmatamento, como tradicionalmente tem sido feita pelo Inpe e pelo Imazon, busca conscientizar sobre a progressão destes números e ajudar a traçar estratégias de combate a esta prática, que traz prejuízos ao meio ambiente e à população. Enquanto o mundo trabalha pela ampliação de metas do Acordo do Paris, o nosso país precisa, pelo menos, atuar de forma imediata para eliminar o desmatamento ilegal e fazer a restauração e o reflorestamento com que se comprometeu”, diz o diretor de Conservação e Restauração de Ecossistemas do WWF-Brasil, Edegar Rosa.

De acordo com a sua NDC (Contribuição Nacionalmente Determinada), o Brasil se comprometeu a eliminar o desmatamento ilegal; restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de florestas, além de alcançar participação estimada de 45% de energias renováveis até 2030.

O Brasil ratificou o documento no Congresso em 2016. No entanto, as movimentações do Ministério do Meio Ambiente e do governo Bolsonaro têm agido em outra direção: houve queda nas fiscalizações e autuações para desmatamento ilegal, mudanças estruturais no corpo técnico do Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade), além de declarações que apontam para maior permissividade. Como consequência, os ânimos estão acirrados, como em invasões de garimpeiros ilegais em terras indígenas.

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Resultados no cotidiano

O relatório do IPCC ressalta que a mudança climática já está afetando os quatro pilares da segurança alimentar – disponibilidade, acesso, utilização e estabilidade – por meio do aumento das temperaturas, mudanças nos padrões de precipitação e maior frequência de alguns eventos extremos, como secas e inundações.

“Além de diminuir as emissões, precisamos nos preparar para os problemas já existentes das mudanças climáticas”, afirma Rosa, “É essencial não só para a saúde do planeta, mas, principalmente, das pessoas. Sem um ambiente saudável será impossível prover alimentos, habitação e segurança climática para todos”, diz Rosa.

Assessor chefe em mudanças climáticas e líder do IPCC no WWF Internacional, Dr. Stephen Cornelius, ressalta a importância de termos ações urgentes contra a crise climática: “Este relatório envia uma mensagem clara de que a forma como usamos atualmente a terra está contribuindo para as mudanças climáticas, prejudicando sua capacidade de apoiar pessoas e a natureza. As prioridades incluem a proteção e a restauração de ecossistemas naturais e a mudança para a produção e consumo sustentável de alimentos.”

Ele acrescenta ainda que uma mudança para o manejo sustentável da terra deve ser acompanhada pelos necessários cortes rápidos e profundos nas emissões de combustíveis fósseis, “se quisermos cumprir a meta de 1,5 °C do Acordo de Paris”.

O relatório destaca ainda as sinergias e transições relacionadas às nossas escolhas. Para isso, o WWF defende um conjunto integrado de ferramentas de gestão sustentável da terra necessárias para garantir um futuro seguro para o clima, que apoie a segurança alimentar e a natureza, com destaque para as soluções climáticas baseadas na natureza. Por exemplo, os manguezais ajudam a aumentar a resiliência climática, ao mesmo tempo em que fornecem uma gama de serviços ecossistêmicos para as comunidades locais e dão suporte a viveiros de peixes.

Calendário

A partir da semana que vem, o Brasil e o mundo promovem uma série de eventos com o objetivo de engajar mais empresas, governos subnacionais e a sociedade em metas mais audaciosas relacionadas ao Acordo de Paris. O primeiro desses grandes eventos acontece de 19 a 23 de setembro em Salvador, com a Semana do Clima regional América Latina, na cidade de Salvador.

No mês seguinte, junto com uma grande greve climática organizada por jovens de todo o mundo, haverá a Cúpula do Clima em Nova York. De acordo com Rosa, esta será a primeira oportunidade para os governos anunciarem planos audaciosos.

“O planeta, a biodiversidade e a segurança alimentar das pessoas que vivem na Terra dependem de metas e ações mais fortes”, diz o diretor Rosa.

Outros eventos importantes até o final do ano incluem a Conferência Brasileira do Clima, em outubro, na cidade de Recife, e a Conferência de Partes da ONU no Chile (COP25).