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Proposta sugere investir em hortas urbanas para combater fome em SP

Hortas garantiriam o abastecimento em “desertos alimentares” e a segurança alimentar da população.

horta urbana
Foto: iStock

A criação de hortas urbanas pode auxiliar no combate à fome na cidade de São Paulo. É o que indica o projeto São Paulo Composta, Cultiva, liderado pelo Instituto Polis, que articula em prol de avanços na gestão dos resíduos orgânicos na cidade e de estímulos ao desenvolvimento da agroecologia.

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A indicação é uma das propostas apresentadas pela iniciativa à prefeitura da capital para compor o Programa de Metas municipal, que está sendo submetido a audiências públicas pela gestão Covas ao longo do mês de abril. As sessões serão finalizadas em 5 de maio. 

Em 2020, a situação da fome e miséria no país foi potencializada pela pandemia de Covid-19. Segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede PENSSAN), 19 milhões de pessoas (9% dos domicílios brasileiros) vivenciaram níveis de insegurança alimentar grave, isto é, passaram fome, no fim do ano passado.

Horta no telhado do Shopping Eldorado

A pesquisa também identificou que 55,2% dos lares brasileiros, o que corresponde à 116,8 milhões de pessoas, conviveram com algum grau de insegurança alimentar. O acesso pleno e regular das pessoas a alimentos de qualidade e em quantidade suficiente atingiu o menor patamar em 17 anos. Em São Paulo não é diferente, havendo uma necessidade de abastecimento alimentar no município principalmente em regiões periféricas da cidade.

A proposta do projeto São Paulo Composta, Cultiva sugere a criação de hortas orgânicas a fim de amenizar o cenário de fome da cidade. A meta considera o enorme potencial de produção agrícola da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP), capaz de abastecer 20 milhões de pessoas com hortaliças, conforme recente estudo realizado pelo Instituto Escolhas. 

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“As hortas que estamos propondo devem estar incorporadas ao Programa de Agricultura Urbana e Periurbana de São Paulo (PROAURP), que existe desde 2004, mas se encontra fragilizado”, explica André Ruoppolo Biazoti, gestor ambiental e pesquisador do projeto São Paulo Composta, Cultiva. Para a iniciativa, hortas possibilitam o encurtamento do sistema alimentar, aproximando os produtores dos consumidores e evitando intermediários, o que supriria a ausência de alimento fresco em algumas regiões da cidade e oferece uma oportunidade de geração de renda para a população.

“Em locais conhecidos como desertos alimentares não é possível encontrar alimentos frescos de qualidade, apenas industrializados. Nessas regiões, as hortas poderiam garantir o abastecimento alimentar para as famílias e ainda poderiam incentivar a geração de renda por meio da comercialização de hortaliças”, afirma Biazoti.

Horta do Centro Cultural São Paulo

A meta proposta prevê que a Prefeitura identifique terrenos ociosos – públicos e privados – e estabeleça parcerias para a implantação de hortas, cadastrando famílias interessadas e fornecendo os insumos básicos para iniciar a produção, conforme já previsto no PROAURP.

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A partir das experiências já existentes no município, como a da Associação de Agricultores da Zona Leste (AAZL), o documento endossa a proposta da Prefeitura de criação de 400 hortas, sugerindo que tenham entre 1.500 m² e 3.000 m² e que sejam voltadas ao abastecimento alimentar. Este número foi considerado devido à capacidade técnica da Secretaria Municipal das Subprefeituras (SMSUB) para assistência, instalação e manutenção das hortas, reconhecendo que a estrutura atual é precária e precisa ser aprimorada para atender a meta. Além disso, esse modelo poderia suprir demandas locais de consumo de hortaliças e garantir renda para o sustento de 1 a 2 famílias por horta.

Programa de Metas

As propostas de metas foram elaboradas considerando que o município ainda não conseguiu cumprir os objetivos em relação à gestão de resíduos orgânicos definidos no Plano de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos (PGIRS), em vigência desde 2014. Além disso, ao analisar o Programa de Metas 2017-2020, assim como sua revisão programática realizada em 2019 e o Relatório 2019-2020 elaborado pela gestão anterior, a equipe do projeto São Paulo Composta, Cultiva notou que a temática não foi devidamente desenvolvida e aprofundada.

“Reconhecemos as dificuldades técnicas e operacionais para o cumprimento de metas arrojadas como as estipuladas pelo PGIRS 2014. No entanto, avaliamos que é muito negativa a falta de integração entre os Planos Municipais e o Programa de Metas do Governo Municipal”, afirma Elisabeth Grimberg, coordenadora da área de Resíduos Sólidos do Instituto Pólis e do projeto São Paulo Composta, Cultiva. “As propostas da campanha foram elaboradas como uma forma de auxiliar tecnicamente o governo na definição de suas prioridades de ação e no avanço da gestão de resíduos orgânicos no município de São Paulo”, relata.

Fazenda Urbana de Paraisópolis

Além da criação de hortas, uma das principais metas sugeridas é a implantação de um experimento com a coleta diferenciada de resíduos orgânicos domiciliares, assim como a ampliação da reciclagem de resíduos orgânicos urbanos para feiras livres, podas, mercados públicos e sacolões públicos.

Atualmente, a capital paulista gera 5.700 toneladas de resíduos orgânicos diariamente, mas apenas 0,3% disso é reciclado. “São Paulo envia quase a totalidade dos resíduos orgânicos gerados a cada dia para aterros sanitários, o que representa a terceira maior fonte de emissões de gases do efeito estufa da cidade”, relata Elisabeth. “Além do impacto ambiental, isso também é um desperdício de uma rica matéria prima que poderia voltar para o solo, aumentar a produtividade dos agricultores do Cinturão Verde e promover a economia circular e inclusiva”, enfatiza.

No momento, São Paulo conta com 5 pátios de compostagem com capacidade de reciclar 10 toneladas por dia. Como meta, a proposta incluída na versão para consulta considera a ampliação da compostagem para dois terços das feiras livres da cidade, que conta com cerca de 900, e a criação de mais 3 novos pátios. “Ainda assim, seria um avanço muito pequeno diante do já realizado e um desperdício de capacidade para os pátios de compostagem”, afirma Elisabeth que enfatiza que o município teria a capacidade de atingir uma meta ainda mais avançada.

aplicativo quintal

De acordo com a coordenadora do Pólis, São Paulo poderia incluir todos os resíduos orgânicos vindos de podas, mercados e sacolões e mais 300 feiras livres no programa de reciclagem utilizando a mesma operação proposta. Além disso, ainda seria possível o investimento na coleta desse tipo de resíduo nos domicílios. “Mas, para isso, é necessário a instalação de unidades de compostagem maiores, com novas tecnologias e métodos de reciclagem mais eficientes”, explica.

As demais metas sugeridas estão disponíveis no site do São Paulo Composta, Cultiva .