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Nestlé impulsiona cadeia de leite orgânico no Brasil

Por meio de incentivos, a empresa quer dobrar a produção total de leite orgânico no país.

A Nestlé, maior comercializadora de leite do Brasil, criou um programa para fomentar a cadeia de leite orgânico brasileira. A empresa que produz 2 bilhões de litros de leite por ano, decidiu investir na cadeia de orgânicos seguindo uma demanda de seus consumidores por alimentos mais saudáveis.

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Segundo o Ministério do Meio Ambiente, o mercado de produtos orgânicos, desde 2009, cresce em média 25% ao ano. Assim, a Nestlé pretende comprar, por meio de seus produtores, cerca de 20 mil litros de leite orgânico por dia, número que praticamente dobra a produção total de leite orgânico no Brasil.

Atualmente, a demanda por leite orgânico é maior que a disponibilidade, por isso, para estimular a produção, a empresa enfrentou alguns desafios. O primeiro e maior deles foi encontrar produtores de leite orgânico disponíveis para fazer a conversão da produção convencional para a orgânica, que leva um período de cerca de 24 meses, sendo 1 ano para a recuperação do solo e vegetação, 6 meses para o animal e 18 meses para a certificação. Durante este período o produtor que está se adequando acaba ficando com custos maiores.

Pensando em tornar o processo mais atrativo para seus fornecedores, a Nestlé decidiu já pagar o valor do leite orgânico, que é quase o dobro do valor do leite convencional, desde o início da conversão, dando maior segurança a seus produtores. “O produtor de orgânico precisa de auxílio no Brasil e nós vemos nossa responsabilidade em fomentar essa produção”, disse Taissara Martins, agrônoma responsável pelo desenvolvimento de fornecedores da Nestlé.

Para se tornar orgânico, o produtor precisa ser auditado e certificado. Neste caso, a companhia trabalha com a certificação do IBD, que além de participar de toda a conversão, juntamente com a Embrapa, também verifica se as normas estão sendo cumpridas de acordo com a Lei Brasileira para Produção Orgânica Agropecuária. Segundo Alexandre Harkay, da IBD Certificações, atualmente o Brasil já possui 34 fazendas orgânicas certificadas.

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Foto: Divulgação

Programa Balde Cheio – Embrapa

Para qualificar a cadeia, a Nestlé também subsidia a assistência técnica aos produtores, que é feita pela Embrapa, através do programa Balde Cheio, um projeto de transferência de tecnologia que promove o avanço da pecuária leiteira e contribui para tornar as pequenas propriedades sustentáveis e mais rentáveis.

De acordo com o pesquisador Artur Chinelato, o desafio maior é substituir métodos tradicionais, como as adubações químicas, por compostos orgânicos e os medicamentos alopáticos por fitoterápicos ou homeopáticos, mantendo a alta produtividade. O bem-estar dos animais também deve ser uma preocupação constante do produtor orgânico.

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Os bons resultados servem de incentivo para produtores orgânicos, como Junior Saldanha, de São Carlos (SP). Certificado há um ano, o agricultor tem conseguido lucro com o leite orgânico. A produção diária atual é de 750 litros, mas a previsão para o próximo ano é de mil litros/dia. Após se tornar orgânico, o produtor diminuiu os gastos com o fornecimento de suplementação e melhorou a disponibilidade de pasto.

SALDANHA
Junior Saldanha está no processo de conversão de sua propriedade em Itirapina, interior de São Paulo | Foto: Mayra Rosa/CicloVivo

O desafio das sementes

Outra questão que a empresa encontrou pelo caminho, foi a dificuldade dos produtores para fazer a suplementação alimentar dos animais. O pecuarista não pode usar milho ou soja transgênica. No entanto, estas sementes são mais caras e difíceis de serem encontradas.

Por isso, a Nestlé também investiu na consultoria da Fundação Motiki Okada para seus produtores. A fundação trabalha, entre outras coisas, com pesquisas de desenvolvimento de sementes orgânicas, por meio da seleção, melhoramento e multiplicação das mesmas.

“É um desafio a produção de grãos orgânicos, não tem uma solução simples”, disse Luiz Carlos Demattê, diretor do Centro de Pesquisas Motiki Okada. Segundo ele, a própria estrutura de materiais genéticos já é uma forma de controle. A produção de milho e soja orgânica, por exemplo, por não passarem pelo processo de fumegação por inseticidas e larvicidas, dependem de uma cadeia de suprimentos mais adequada, não podendo ser estocada por muito tempo. O diretor vê a união de produtores, agricultores e empresas do setor como uma saída para resolver a questão, assim já se produz por demanda com venda garantida e entrega imediata.

Atualmente, 11 produtores foram contratados por 36 meses pela Nestlé. No total, 50 produtores gostariam de entrar no projeto, porém a maioria de suas propriedades não estão aptas para a produção orgânica devido suas localizações e estruturas. Muitos podem sofrer contaminações de fazendas vizinhas ou até mesmo aérea, feitas por aviões que espalham inseticidas nas redondezas.

Mayra Rosa viajou a convite da Nestlé para São Carlos, Itirapina e Ipeúna.