Mãe Terra divulga carta aberta sobre venda à Unilever
Muitos consumidores estão defendendo o boicote à marca.
Muitos consumidores estão defendendo o boicote à marca.
Na semana passada, a Unilever anunciou a compra da empresa brasileira de alimentos naturais e orgânicos Mãe Terra. A notícia caiu como uma bomba para muitas pessoas que conhecem a marca e foi alvo de críticas nas redes sociais.
Entre as reclamações mais comuns, os consumidores dizem que a companhia perderá sua essência, testará produtos em animais e alguns estão até defendendo o boicote. Criada em 1979, a Mãe Terra reagiu às especulações publicando uma carta aberta.
Manter o compromisso de não realizar testes em animais e produzir produtos sem transgênicos e aditivos artificiais é um dos sete pontos levantados na carta, que você pode conferir na íntegra abaixo:
“Amigos e consumidores da Mãe Terra,
Esta semana é um marco na nossa história. Acreditem, foi muito difícil tomar uma decisão de “casar” a Mãe Terra. Sempre fui resistente a esta ideia. Tinha preconceito com empresas grandes e, principalmente, receio que tirassem o que temos de mais precioso: nossa alma.
Escrevo assim esta carta aberta para compartilhar com vocês as razões que me levaram a seguir neste “casamento” da Mãe Terra com a Unilever. Para tanto, acho importante “conectar os pontos” que me fizeram chegar a esta decisão.
Tudo começou com a horta da minha mãe, onde ainda criança me apaixonei pelos alimentos orgânicos e pela terra. “Nós somos o que comemos” foi um mantra que aprendi cedo. Nos primeiros anos de faculdade de administração me sentia inquieto por entender que estava apenas “replicando o sistema”. Buscava um sentido maior para minha vida e, com então 20 anos, viajei para um Mosteiro Zen para o meu 1º retiro de meditação. Olhando para trás, uma das principais intuições que tive no Mosteiro foi entender que a mudança que queria fazer no mundo não estaria lá na “montanha”, mas sim, “dentro do sistema”. A minha 2ª intuição no mosteiro foi sentir que talvez minha missão pessoal fosse aplicar o princípio do “caminho do meio” dentro de uma empresa. Estudando o poder das empresas no mundo, sentia que a grande força motriz de transformação de nossa sociedade teria que ser pelas empresas. Naqueles anos juvenis e idealistas, sonhei em criar uma empresa que pudesse prosperar, crescer, mas que também tivesse um propósito maior. Me formei, aprendi a “jogar o jogo” trabalhando em empresas grandes, trabalhei no Whole Foods nos EUA, empreendi em outros negócios. Até que 10 anos atrás comecei a concretizar minha jornada pessoal na Mãe Terra, uma empresa com um propósito autêntico. É possível lucro com propósito? Sempre achei que sim. A Mãe Terra vem tentando seguir neste caminho.
Esta minha história se conecta diretamente com a escolha da Unilever. Por quê?
O discurso que o mundo está indo para um caminho “incerto” não é só mais dos “radicais”. O mundo precisa de mudanças rápidas no “modelo”. E a mudança maior só vai acontecer se for por “dentro do sistema”. Envolvendo todos, consumidores mudando suas escolhas de consumo, setor público e, com certeza, as grandes empresas. O mundo está precisando de união entre iguais e diferentes que estão em busca de um propósito maior. Com a Unilever, iremos mais longe na nossa missão.
Agradeço de coração os mãe-terráqueos, nossos agricultores, fornecedores, parceiros, minha família e os consumidores que acreditaram na Mãe Terra.
Nossa alma continuará viva.
Um abraço,
Alê Borges”
A carta foi divulgada aqui.
Redação CicloVivo