Viagem precisa fazer bem para todo mundo: para quem viaja, para quem recebe e para o planeta – e isso se torna ainda mais verdadeiro em um mundo pós-pandemia, no qual o turismo sustentável não é apenas uma opção, mas uma necessidade cada vez mais urgente e uma demanda cada vez maior entre os consumidores.
De acordo com uma pesquisa realizada pela iStock, quatro em cada dez pessoas (40%) disseram que o turismo sustentável é mais importante agora do que antes da pandemia.
Esta evidência também surge em outro estudo, conduzida pela plataforma Booking, no qual 90% dos entrevistados brasileiros afirmaram que pretendem viajar de forma ecologicamente correta nos próximos 12 meses: 86% dizem que estão mais propensos a escolher uma acomodação sustentável e 65% reconhecem que os esforços feitos por acomodações e provedores de transporte em prol do meio ambiente têm um grande papel na hora de decidirem contratar esses serviços.
Dentro do cenário nacional, o papel do turismo é particularmente estratégico para a geração de empregos e o combate à desigualdade. Segundo a Confederação Nacional do Comércio de Bens, Serviços e Turismo (CNC), dos 20 municípios que tiveram a maior taxa de expansão do mercado de trabalho formal, no período de junho de 2020 a fevereiro de 2022, metade deles tem o turismo como uma de suas principais atividades econômicas.
Todas essas informações convergem para uma certeza: o turismo sustentável é uma realidade e uma prioridade, o que é estabelecido inclusive nos 17 Objetivos do Desenvolvimento Sustentável estabelecidos pela Organização Mundial das Nações Unidas (ONU) e Organização Mundial do Turismo (OMT). Em seu item 8.9, o documento estabelece a meta de, “até 2030, elaborar e implementar políticas para promover o turismo sustentável, que gera empregos e promove a cultura e os produtos locais”.
Para isso, precisamos compreender o que é o turismo sustentável e como é possível identificar e apoiar iniciativas dentro desta atividade.
O que é turismo sustentável?
O turismo sustentável é aquele que se baseia no tripé da sustentabilidade: ambiental, social e financeiro. Consiste em viagens e outras atividades turísticas que respeitam a cultura, o meio ambiente e as pessoas dos lugares visitados. Preserva tradições locais e a natureza, deixando o protagonismo às comunidades residentes.
Em outras palavras: faz uso dos recursos naturais e humanos de forma consciente e responsável, buscando sempre gerar impactos positivos nas regiões onde é realizado.
Dentre as ações voltadas à questão ambiental, podemos citar:
- A preservação da flora e fauna de forma direta (por meio de trabalho voluntário ou regeneração de áreas, por exemplo) ou indireta (apoiando instituições públicas e privadas que realizam este tipo de trabalho);
- A redução ou eliminação da produção de lixo, o incentivo ao reúso e à reciclagem e a correta destinação dos resíduos na hora do descarte;
- A diminuição e a compensação da emissão de dióxido de carbono; e
- A conscientização dos viajantes e das comunidades a respeito de temas como a preservação do meio ambiente e o aquecimento global.
Em relação à sustentabilidade social, alguns exemplos de ações que podem ser adotadas pelo turismo sustentável são:
- A preservação e valorização dos saberes ancestrais e das culturas regionais, como a música, a dança, o artesanato, a religiosidade e a culinária;
- O protagonismo da comunidade local durante o planejamento e a execução de atividades turísticas;
- O combate a preconceitos e estereótipos relacionados a povos tradicionais, como indígenas, ribeirinhos e quilombolas; e
- A promoção da diversidade em todos os seus aspectos (gênero, etnia, etária, regional, religiosa etc.) e acessibilidade em relação aos viajantes e profissionais envolvidos.
Por fim, no que diz respeito à sustentabilidade financeira, o turismo deve ter como prática:
- Gestão profissional do turismo, com adoção das melhores práticas corporativas em relação a transparência e ESG;
- Remuneração justa e condições dignas de trabalho a todos os profissionais envolvidos direta ou indiretamente com as atividades turísticas; e
- Promoção da transferência de renda e do combate à desigualdade a partir da contratação de serviços locais.
Turismo sustentável e o “greenwashing”
Com o tema da sustentabilidade e do ESG (sigla em inglês que indica a adoção de boas práticas ambientais, sociais e de governança) em alta, surge um novo tipo de problema: o “greenwashing”.
“Greenwashing” (“lavagem verde” em uma tradução livre) faz referência a indivíduos, empresas ou governos que adotam um discurso sustentável em relação a um produto, serviço ou mesmo às próprias atividades, a fim de melhorar a sua imagem perante a opinião pública, sem que isso se reflita em ações e resultados práticos.
Felizmente, existem maneiras de identificar se uma instituição está cometendo “greenwashing”. Dentro do turismo sustentável, algumas dessas iniciativas são:
- Verificar se há indicativos objetivos que demonstram o impacto socioambiental positivo da empresa, como número de pessoas beneficiadas, horas de voluntariado, valores repassados ou investidos ou áreas de atuação, bem como a metodologia utilizada para coleta de dados;
- Observar as comprovações e atestados do impacto positivo, como prêmios, reconhecimentos, certificações, compromissos públicos e registros junto a entidades associativas ou reguladoras;
- Avaliar a reputação da organização junto aos clientes, fornecedores, colaboradores, parceiros e público em geral.
Benefícios do Turismo Sustentável
Praticar o turismo sustentável não é apenas uma forma de contribuir para a preservação do meio ambiente e apoiar comunidades locais. Trata-se de uma experiência transformadora, que oferece uma série de benefícios ao viajante, dentre os quais estão:
- Conhecer profundamente o destino, indo além das atrações convencionais do turismo e entrando em contato com a população que vive ali;
- Evitar o turismo de massa, com lugares superlotados e, muitas vezes, sem personalidade, que apenas reproduzem estereótipos locais;
- Criar fortes laços de amizade com companheiros de viagem e com a população local;
- Viver experiências autênticas, que não são pré-formatadas para turistas;
- Descobrir e desenvolver habilidades pessoais e tornar-se mais consciente em relação a questões socioambientais;
- Investir em experiências ao invés de coisas, tendência do mundo contemporâneo está relacionada ao aumento da sensação de felicidade genuína;
- Melhorar a saúde, a qualidade de vida e o bem-estar por meio do contato com a natureza.
Turismo Sustentável no Brasil
O Brasil é um país com dimensões continentais, a maior biodiversidade, a maior floresta tropical e a maior quantidade de água doce do planeta. Conta ainda com uma extensa costa litorânea e biomas que vão dos pampas à Amazônia, passando por Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica e Pantanal, cada um com uma infinidade de atrativos naturais.
Em paralelo, o Brasil também conta com uma série de comunidades tradicionais – como diferentes etnias indígenas, quilombolas, ribeirinhas, sertanejas e caiçaras – cada qual com sua cultura própria, rica em arte, música, dança, culinária e religiosidade.
No entanto, uma enorme parcela do mundo e até mesmo dos próprios habitantes ainda limita o Brasil ao estereótipo do país do “carnaval e futebol”, com imagens restritas a este esporte, ao samba e às praias.
Vivalá
A Vivalá é um negócio social que atua para mudar essa condição e transformar o país na maior potência de turismo sustentável do planeta, confiando no potencial do Brasil e dos brasileiros. Desde 2017, promovemos Expedições de Turismo Sustentável no Brasil, sempre em áreas protegidas – como terras indígenas, parques nacionais e reservas de desenvolvimento sustentável – e em parceria com comunidades tradicionais.
As Expedições de Turismo Sustentável são experiências de muita conexão com a natureza e imersão nas culturas locais, que proporcionam experiências autênticas nas quais os viajantes podem “furar a bolha”, vivenciar outras realidades, ampliar sua consciência socioambiental e, com isso, ressignificar sua relação com o Brasil.
Alguns dos destinos das Expedições Vivalá são:
- Expedição Amazônia Rio Negro, com saída de Manaus – AM, dentro da Reserva de Desenvolvimento Sustentável do Rio Negro e junto às comunidades ribeirinhas de Lago do Acajatuba;
- Expedição Amazônia Rio Tapajós, com saída de Alter do Chão, em Santarém – PA, de onde parte um barco privativo para as comunidades ribeirinhas de Maguari e Jamaraquá, na Floresta Nacional dos Tapajós;
- Expedição Amazônia Aldeia Shanenawa, com saída de Rio Branco – AC, rumo à Aldeia Shanenawa, na terra indígena Katukina-kaxinawa;
- Expedição Chapada dos Veadeiros, com saída de Brasília – DF, em direção ao Parque Nacional Chapada dos Veadeiros, passando por comunidades rurais de Alto Paraíso de Goiás e pela comunidade quilombola do Moinho;
- Expedição Lençóis Maranhenses, com saída de São Luís – MA, rumo ao Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses, com travessia de 3 dias pelas dunas e noites em redários comunitários das comunidades locais.
Os relatos mostram como as pessoas voltam para casa transformadas após uma Expedição, com sentimentos de felicidade genuína, bem-estar, gratidão e propósito.
Já em relação às comunidades, os benefícios são ainda mais fáceis de serem mensurados, com números muito expressivos: até o final de 2022, realizamos mais de 100 expedições em grupo com mais de 1.500 viajantes de 11 países, somando mais de 8 mil horas de voluntariado, além de termos injetado mais de R$ 1,5 milhão em economias locais através da compra de serviços de base comunitária. Mantemos em nosso site os indicadores de impacto atualizados.
As Expedições Vivalá têm como principais eixos o Turismo de Base Comunitária – TBC e o Volunturismo.
O Turismo de Base Comunitária – TBC é aquele que traz as comunidades locais como protagonistas das atividades, agregando valor à experiência do viajante e impulsionando as economias da região, a partir da geração de emprego e renda, além de preservar e valorizar a cultura, a religiosidade e os saberes tradicionais.
Alguns exemplos de atrativos do Turismo de Base Comunitária são:
- Oficinas culturais (culinária, dança, música, ervas medicinais, artesanato);
- Debates, contação de histórias e rodas de conversa;
- Vivências holísticas (banhos ritualísticos, consagração de medicinas ancestrais).
O TBC também prioriza o uso da infraestrutura e da rede de serviços locais, como hospedagens, refeições, guias e transportes das próprias comunidades onde é realizado.
Já o Volunturismo é a junção do TBC com trabalho voluntário em parte da viagem. Dessa forma, o viajante tem acesso a uma experiência ainda mais imersiva, estando em contato direto com a cultura, o ritmo, o dia-a-dia e os afazeres da comunidade.
Além do TBC e do Volunturismo, também contamos com outras frentes de atuação dentro do Turismo Sustentável, como o TBC de Aventura (Expedições que combinam o Turismo de Base Comunitária com o turismo de aventura), e a Vivalá Educação, a partir da qual promovemos experiências sob medida para escolas, com o intuito de somar na formação socioambiental da próxima geração.
Por sua atuação com turismo sustentável, a Vivalá recebeu diversos prêmios e reconhecimentos nacionais e internacionais em sua trajetória, sendo convidada para compor a rede Young Leaders of Américas do Departamento de Estado Americano, premiada dois anos consecutivos como uma das organizações mais sustentáveis do Brasil pela ONU, Organização Mundial do Turismo e Braztoa, além de ter sido escolhida pela Fundação Grupo Boticário, Aceleradora 100+ da Ambev e PPA, e iniciativa global da Yunus & Youth para fazer parte de seus programas de aceleração para negócios de impacto socioambiental.
No início de 2023, a Vivalá se tornou carbono neutro após um trabalho de mensuração das emissões de dióxido de carbono durante nossas atividades no ano anterior. A compensação foi feita junto ao projeto REDD+ Jari Amapá, uma parceria da Biofílica Ambipar Environment e o Grupo Jari (Jari Celulose e a Fundação Jari) que tem como objetivo a geração de créditos de carbono para a promoção da conservação florestal, beneficiando o clima, a biodiversidade e as comunidades da região de Laranjal do Jari e Vitória do Jari, ambos no Amapá. Para verificar o registro da Vivalá, na plataforma Verra Registry, clique aqui.
Este texto foi escrito por Daniel Cabrera, cofundador e diretor-executivo da Vivalá