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Cientista brasileira é premiada por identificar margaridas “espinhosas”

Paola de Lima Ferreira é a primeira brasileira e a quarta mulher a receber o prêmio considerado a “Copa do mundo” da identificação de plantas

margaridas “espinhosas”
Chuquiraga oppositifolia Foto: CC BY-SA 3.0

O estudo de um grupo de 80 espécies de margaridas “espinhosas” rendeu a Paola de Lima Ferreira o Prêmio Augustin-Pyramus de Candolle, conhecido como a “Copa do mundo” da taxonomia de plantas. Taxonomia é o ramo da biologia que identifica, descreve e nomeia os seres vivos. As espécies são pertencentes à subfamília Barnadesioideae parte da grande família Asteraceae ou Compositae, que também inclui os girassóis e a camomila.

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Paola de Lima Ferreira, doutora pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto da USP, é a primeira pesquisadora brasileira a receber o Prêmio Augustin-Pyramus de Candolle, promovido pela Sociedade de Física e História Natural de Genebra a cada quatro anos desde 1851. Ela também é a quarta mulher e a segunda latino-americana a ser premiada. A cerimônia que oficializou a premiação ocorreu em março deste ano, na Suíça.

No estudo, Paola Ferreira inventariou as espécies do grupo, encontrando dez gêneros e 80 espécies. Três gêneros, Dasyphyllum (27 espécies), Chuquiraga (22 spp.) e Barnadesia (19 spp.), contêm 85% das espécies, enquanto os outros sete gêneros – Archidasyphyllum, Arnaldoa, Doniophyton, Duseniella, Fulcaldea, Huarpea e Schlechtendalia – são representados por até três espécies.

margaridas "espinhosas"
Espécies de margaridas “espinhosas” pertencentes à subfamília Barnadesioideae. | Fotomontagem: Jornal da USP

Segundo a pesquisadora, os resultados mostraram que a diversificação do grupo acompanha as mudanças que ocorreram na biota da América do Sul, com a proposta de hipóteses da sua história evolutiva, além de estudos biogeográficos para entender a origem e os padrões de distribuição geográfica das Barnadesioideae.

“Foi possível explorar a diversidade química da subfamília Barnadesioideae, bem como identificar os componentes químicos que poderiam ser utilizados como marcadores moleculares em estudos de quimiotaxonomia, estudos estes realizados com colaboradores da área de química de produtos naturais”, afirmou Paola.

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A pesquisadora lembra que estes resultados são importantes, pois “só conseguimos preservar a biodiversidade se compreendermos e descrevermos as suas características”. As plantas da subfamília Barnadesioideae só existem na América do Sul, da Venezuela até a Argentina, sendo principalmente encontradas em áreas secas ao longo dos Andes e da Patagônia. Para a pesquisa, Paola Ferreira coletou materiais de vários Estados brasileiros, como Bahia, Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro, mas também em áreas andinas e do Equador, inclusive próximo do vulcão Cotopaxi.

Essas coletas foram depositadas no Herbário do Departamento de Biologia da faculdade da USP, onde serviram de base para o estudo da morfologia e distribuição geográfica deste grupo de plantas.  Agora, a pesquisa ainda permite um mapeamento geográfico, informação que contribui para a conservação de espécies.

“A diversidade química que Paola encontrou na subfamília Barnadesioideae é uma ferramenta valiosa para a compreensão da diversidade biológica e a inferência de tendências evolutivas”, diz seu orientador, professor Milton Groppo, da FFCLRP.

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Para a cientista, o estudo também pode ser usado como modelos de mudanças climáticas, uma vez que essas espécies são encontradas em regiões como a Patagônia e nos Páramos dos Andes, que são mais frias e, consequentemente, podem ser mais suscetíveis às alterações climáticas em curso.

O trabalho de doutorado “Família das margaridas no espaço e no tempo: taxonomia, filogenômica, biogeografia histórica e macroevolução de Barnadesioideae” foi defendido em 2019, no Programa de Pós-Graduação em Biologia Comparada. A co-orientação foi de Alexandre Antonelli, do Royal Botanic Gardens, Kew, Reino Unido, com apoio da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).