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101 filmes ambientais são exibidos gratuitamente em SP

A Mostra Ecofalante chega à 12ª edição com obras premiadas e estreias mundiais; confira os destaques

águas do pastaza
Águas do Pastaza. Chias Etsaa © Inês T Alves

Um dos maiores festivais do Brasil e o mais importante evento audiovisual sul-americano dedicado a temas socioambientais chega à sua 12ª edição. É a Mostra Ecofalante de Cinema que acontece em São Paulo de 1 a 14 de junho, com entrada gratuita. O evento acontece em salas, incluindo o Espaço Itaú de Cinema – Augusta, Centro Cultural São Paulo e Galeria Olido.

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Composta por 101 filmes, a mostra exibe obras premiadas em festivais como Cannes, Berlin, Cinéma du Réel, CPH:DOX e Tribeca, ao lado de produções em pré-estreia mundial ou inéditas no Brasil. Estão presentes também títulos assinados por cineastas consagrados, como Jorge Bodanzky, Gabriela Cowperthwaite, Eduardo Coutinho, Paul Leduc, Gillo Pontecorvo, Ousmane Sembène, Safi Faye, Marta Rodríguez, Jorge Sanjinés, William Klein.

Entre os vários destaques, a programação traz estreias mundiais, uma série de atividades paralelas que incluem uma masterclass com o pensador martiniquês Malcolm Ferdinand, que explora em sua obra o conceito de Plantationoceno (termo se contrapõe ao difundido Antropoceno ao reconhecer os fundamentos coloniais e escravagistas da globalização e do sistema socioeconômico hegemônico hoje), e uma oficina de cinema ambiental com Jorge Bodankzy, além de um ciclo de debates.

Destaques

No Panorama Internacional Contemporâneo, com 27 filmes de 26 países, destaca-se uma seleção de títulos que abordam sobretudo questões ligadas ao racismo, mas que também não deixam de falar do legado do colonialismo e suas muitas consequências socioambientais presentes até os dias de hoje. Entre eles estão “Filhos do Katrina”, longa-metragem que discute racismo ambiental a partir das consequências do furacão Katrina; “Duas Vezes Colonizada”, sobre o ativismo de uma defensora dos direitos humanos inuíte no parlamento europeu; “Uma História de Ossos”, sobre a luta de uma consultora africana para dar um fim digno aos restos mortais de mais de oito mil ‘africanos libertos’, descobertos durante a construção de um aeroporto na remota ilha de Santa Helena.

A seção traz abordagens de fluxos migratórios em títulos como “Recursos”, elogiado no importante festival de documentários IDFA-Amsterdã; “O Último Refúgio”, filme premiado no festival dinamarquês CPH:DOX, que registra um abrigo temporário de migrantes na África; e “Xaraasi Xanne (Vozes Cruzadas)”, filme de arquivo que lança luz sobre a violência da agricultura colonial no continente africano, premiado no tradicional festival Cinéma du Réel, na Suíça.

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Discussões econômicas – sempre presentes no Panorama Internacional Contemporâneo – estão no centro de títulos da seção. Filme mais recente de Gabriela Cowperthwaite, diretora de “Blackfish”, o trepidante “A Apropriação” revela os esforços secretos de governos e multinacionais para controlar comida e água no mundo. Em “Amor e Luta em Tempos de Capitalismo”, produção francesa exibida no CPH:DOX e no Festival de Documentários DMZ com direção de Basile Carré-Agostini, o casal midiático formado pelos sociólogos Monique Pinçon-Charlot e Michel Pinçon, conhecido por suas pesquisas de mais de cinco décadas sobre os ultra-ricos, é retratado no auge do movimento dos Coletes Amarelos.

filmes ambientais SP
Deep Rising: A Última Fronteira

Sobrinha-neta de Walt Disney e herdeira da The Walt Disney Company, Abigail Disney é documentarista e ativista social. Em “O Sonho Americano e Outros Contos de Fadas”, codirigido por Kathleen Hughes, ela aborda a profunda crise de desigualdade nos Estados Unidos, usando o legado de sua família como um estudo de caso para explorar criticamente a intersecção entre racismo, poder corporativo e o sonho americano.

Em “O Retorno da Inflação”, de Matthias Heeder, diretor que causou forte impressão com o premiado documentário “Pre-Crime” (2017), discute-se os mecanismos que contribuíram para o retorno da inflação que atualmente atinge o mundo com força total e como pessoas de diferentes meios sociais reagem a ela.

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“A Máquina do Petróleo”, filme britânico de Emma Davies, toma o exemplo da óleo-dependência do Reino Unido para falar sobre como as principais economias contemporâneas – principalmente no hemisfério norte – se apoiam em boa parte sobre a indústria do petróleo. Já “Deep Rising: A Última Fronteira” revela as intrigas em torno da obtenção de recursos naturais no solo dos oceanos.

Estreias de títulos brasileiros

“Cinzas da Floresta”, de André D’Elia, registra uma expedição com o ativista Mundano que percorreu mais de dez mil quilômetros por quatro grandes biomas: Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica como o objetivo de produzir uma cartela em tons de cinza a partir do carvão e das cinzas de restos de árvores e de animais carbonizados. Com esse material foi pintado um painel a partir da famosa obra modernista do artista plástico Candido Portinari (1903-1962) “O Lavrador de Café”.

O filme “Escute, A Terra Foi Rasgada”, de Fred Rahal Mauro (de “BR Acima de Tudo”) e Cassandra Mello, registra o acampamento Luta pela Vida, em Brasília, no qual lideranças dos povos Mebêngôkre (Kayapó), Munduruku e Yanomami se uniram para escrever uma carta-manifesto em repúdio à atividade garimpeira. Na sessão promovida pela 12ª Mostra Ecofalante de Cinema têm presença confirmada as lideranças indígenas da “Aliança em Defesa dos Territórios”: Davi Kopenawa, Beka Munduruku e Maial Kayapó.

Mostra Ecofalante
Escute, a terra foi rasgada

“Parceiros da Floresta”, de Fred Rahal Mauro, percorre três continentes evidenciando casos de parcerias entre setores privado, público e comunidades locais que geram soluções para a proteção e restauração de florestas tropicais globais aliando tecnologia, negócios e conhecimento tradicional para gerar benefícios verdadeiramente compartilhados.

Fundamentos coloniais

Na Mostra Histórica “Fraturas (pós-)coloniais e as Lutas do Plantationoceno” são exibidos clássicos da cinematografia militante do período das décadas de 1960 a 1980 que refletem sobre as marcas do colonialismo nos diversos territórios, sobretudo do sul global. É o caso de “A Batalha de Argel”, de Gillo Pontecorvo, que a mostra exibe em versão restaurada em 4K pela Cinemateca de Bolonha e Instituto Luce Cinecittà. A obra, que foi proibida pela censura da ditadura militar brasileira, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e foi indicada ao Oscar de melhor filme estrangeiro, melhor diretor e melhor roteiro.

A aculturação de uma minoria mexicana inspirou o cineasta Paul Leduc a realizar o crítico e irônico “Etnocídio”. Marco do documentarismo brasileiro e referência mundial, “Cabra Marcado para Morrer”, de Eduardo Coutinho, também está incluído. Com passagens pelos festivais de Cannes e Berlim (onde foi premiado), “Emitaï” traz as marcas do cinema político de seu diretor, o senegalês Ousmane Sembène, um dos pioneiros do cinema africano. Três filmes dirigidos por mulheres e restaurados pelo Instituto Arsenal, de Berlim, também fazem parte do programa: “Eu, Sua Mãe” (Senegal/Alemanha, 1980), “Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro” (Colômbia, 1982), de Marta Rodríguez e Jorge Silva, e “A Zerda e os Cantos do Esquecimento” (Argélia, 1982), dirigido pela poeta e escritora argelina Assia Djebar e que era considerado perdido antes que uma cópia dele fosse redescoberta nos arquivos do Arsenal há alguns anos.

ecofalante 2023
“Nossa Voz de Terra, Memória e Futuro”

A mostra também traz uma preciosidade recém restaurada pelo Harvard Film Archive, “I Heard It through the Grapevine” (1981), documentário de Dick Fontaine estrelado por James Baldwin, em que o escritor viaja pelos Estados Unidos, ao mesmo tempo em que faz um balanço das lutas pelos direitos civis e melhora das condições de vida das comunidades negras em seu país.

Povos indígenas

Temáticas relativas aos povos indígenas e seus territórios marcam parte das produções selecionadas este ano para a Competição Latino-americana. Destaca-se “A Invenção do Outro”, de Bruno Jorge, que narra uma eletrizante jornada na Amazônia para tentar encontrar e estabelecer o primeiro contato com um grupo de indígenas isolados da etnia dos Korubo, tendo merecido quatro prêmios no Festival de Brasília do Cinema Brasileiro, inclusive o de melhor filme.

Consagrado diretor já homenageado na 4ª Mostra Ecofalante de Cinema, Jorge Bodanzky (de “Iracema – Uma Transa Amazônica”, 1975) assina “Amazônia, A Nova Minamata?”, no qual acompanha a saga do povo Munduruku para conter o impacto destrutivo do garimpo de ouro em seu território ancestral, enquanto revela como a doença de Minamata, decorrente da contaminação por mercúrio, ameaça os habitantes de toda a Amazônia hoje.

No inédito “Mamá”, uma obra de cunho intimista com elaborada narrativa e técnica, o realizador de descendência maia Xun Sero relata como, sendo mexicano tzotzil, cresceu cercado pela sacralidade da Virgem de Guadalupe e da Mãe Terra – e sendo ridicularizado por não ter pai. Já o doc observacional peruano “Odisseia Amazônica”, de Terje Toomistu, Alvaro Sarmiento e Diego Sarmiento, testemunha o trabalho feito nos barcos que constituem o principal meio de transporte de mercadorias e pessoas no rio Amazonas.

filmes ambientais SP
Mamá

Destaca-se na programação ainda um trabalho em realidade virtual, assinado por Estêvão Ciavatta. Trata-se de “Amazônia Viva”, no qual a cacica Raquel Tupinambá, da comunidade de Surucuá (Reserva Extrativista Tapajós Arapiuns, no Pará), guia o espectador em uma viagem pelo rio Tapajós, em um passeio virtual em 360º.

Uma sessão especial exibe “Mulheres na Conservação”, dirigido pela jornalista Paulina Chamorro e pelo fotógrafo João Marcos Rosa. O documentário, desenvolvido a partir da websérie homônima, mostra na prática o trabalho realizado por sete mulheres que lutam pela conservação da biodiversidade no país e que são referência em suas áreas de atuação.

A programação completa sobre as exibições e demais atividades do evento poderão ser encontradas na plataforma Ecofalante:

12ª Mostra Ecofalante de Cinema

  • www.ecofalante.org.br
  • 1 a 14 de junho de 2023
  • Gratuito
  • Espaço Itaú de Cinema – Augusta (Salas 3 e 4) – Rua Augusta 1475, Consolação – São Paulo
  • Circuito Spcine Lima Barreto (Centro Cultural São Paulo) – Rua Vergueiro 1000, Paraíso – São Paulo
  • Circuito Spcine Olido (Centro Cultural Olido) – Av. São João 473, Centro – São Paulo
  • Circuito Spcine Roberto Santos – Rua Cisplatina 505, Ipiranga – São Paulo
  • E ainda unidades do Centro Educacional Unificado – CEU, Casas de Cultura, Fábricas de Cultura e Centros Culturais