Morar ou trabalhar? Casa móvel autossuficiente funciona para ambos

Projetada por estudantes, casa é ideal para nômades digitais que sonham em viver e trabalhar de qualquer lugar

casa móvel autossuficiente
Foto: Adrià Goula

O aumento das oportunidades de trabalho remoto somado ao crescimento do movimento “tiny house” levaram estudantes do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha (IAAC), em Barcelona, na Espanha, a desenvolverem um protótipo de casa móvel. O resultado surpreende: a casinha de madeira é autossuficiente energeticamente, a água é tratada no local e o espaço de armazenamento interno permite ao morador ter uma vida confortável, mesmo em um espaço tão pequeno.

Na casa, batizada de MO.CA, todos os espaços interiores e exteriores possuem iluminação com tiras de LED. O abastecimento é garantido pela energia proveniente do sol. São três painéis solares monocristalinos leves e flexíveis, instalados na cobertura, que ligam-se a um inversor (que também pode ser conectado a uma rede externa) e a uma bateria de reserva. A residência está equipada para suportar 24 horas de uso sem necessidade de recarga. Para tanto, há somente alguns aparelhos básicos que requerem o consumo energético.

O abastecimento de água é assegurado pelo armazenamento e tratamento local de águas. Isso se dá, por exemplo, pela água do chuveiro que é coletada em uma bacia de captação e armazenada no tanque de águas cinzas. Em seguida, o líquido é filtrado e bombeado para o tanque de água reciclada e reintroduzido no sistema. A água é tratada por meio de um sistema de filtragem de três estágios, seguido de um filtro UV.

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Foto: Adrià Goula

No uso doméstico, o banheiro é um grande ponto de desperdício de água não só pelo banho como também pelo uso no vaso sanitário. Um vaso sanitário com válvula e tempo de acionamento de 6 segundos gasta cerca de 12 litros. Já as caixas acopladas mais atuais costumam gastar, em média, 6 litros de água. Essa questão foi resolvida com a instalação de um vaso sanitário de compostagem – o famoso banheiro seco. Em tal sistema, os dejetos humanos são cobertos por matéria orgânica seca (como serragem, folhas secas, palhas), portanto não necessita de água.

A casa busca e aplica antigos métodos sem deixar de lado a conveniência das novas tecnologias. Para controlar os sistemas de água e energia, por exemplo, na parede da cozinha existem indicadores do nível da bateria e do nível da água no tanque. Os controles da torneira permitem que os residentes alternem entre a água do tanque de água doce ou a água do tanque de água reciclada, dependendo do uso pretendido.

Design sob medida

Como a casa é pequena, tudo foi pensado estrategicamente para funcionar perfeitamente. A cozinha é equipada com pia, fogão de uma boca e gavetas embaixo da bancada para armazenamento. Há também uma geladeira e espaços para pendurar utensílios.

No mezanino estão incluídas duas camas (uma delas expansível para dois lugares). Acompanha colchão extensível que permite espaço para duas pessoas. Uma escada móvel, fixada na borda da estrutura da cama, pode ser inclinada para facilitar a acessibilidade.

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Foto: Adrià Goula

Combinando o uso de madeira, tecido e buchas – o que permite uma montagem leve – os móveis foram projetados para serem dobrados e ocuparem o mínimo de espaço. O conjunto inclui mesa, bancos e até espreguiçadeiras. Tiras de tecido são usadas para prender os móveis quando a casa móvel está em trânsito. As portas do armário são leves, feitas de madeira e tecido.

Driblando a falta de espaço, atrás da escada do mezanino, sao guardados um kit de primeiros socorros e um extintor de incêndio. Há ainda espaço para livros, calçados, área para roupa suja e outros itens. Três escadas de acesso são móveis e, portanto, podem ser guardadas quando não estiverem em uso.

A fachada também é móvel, sendo formada por um conjunto de portas de vidro e uma camada de tecido de algodão resistente à água, presas com cordas. Na lateral, a fachada desliza e dobra por meio de uma operação mecânica de polias. O sistema permite ajustes à entrada de luz e ventilação conforme às condições meteorológicas, à hora do dia e às atividades que estiverem acontecendo.

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Foto: Adrià Goula

Flexibilidade e espaços de armazenamento garantem um espaço versátil que pode funcionar para diversos usos e não só como lar: áreas para concertos, biblioteca, escritório, eventos em geral. As peças de mobiliário é que ativam o espaço para acolher as diversas possibilidades de atividades.

Projetada por estudantes

O projeto foi realizado por profissionais e especialistas que integram o programa de Mestrado em Edifícios Ecológicos Avançados e Biocidades (MAEBB) desenvolvido no campus Valldaura Labs do Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha, que está instalado no parque natural Serra de Collserola, nos arredores de Barcelona.

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Foto: Adrià Goula

A equipe foi incumbida de projetar e construir rapidamente um protótipo de casa móvel confortável com capacidade para duas pessoas. Além disso, a casa deveria ser construída com madeira “zero quilômetro” e proveniente de forma sustentável. Assim fizeram, a foi colhida e processada localmente e a casa móvel espanhola foi construída com painéis de madeira laminada cruzada de quatro centímetros de espessura com “cavilhas”, o que reduz a necessidade de adesivos tóxicos e mantém o potencial de reaproveitamento circular. Além de todas as qualidades já mencionadas. O mesmo grupo já construiu uma estufa solar capaz de produzir alimentos e energia.