Mudanças climáticas prejudicam reprodução da Tartaruga-do-Amazônia
Normalmente são registrados mais de 200 mil filhotes. Em 2015, foram apenas 47.800.
Normalmente são registrados mais de 200 mil filhotes. Em 2015, foram apenas 47.800.
Os efeitos do aquecimento global estão se tornando devastadores para a Floresta Amazônica. Osextremos de secas e cheias são cada vez mais frequentes no pulso de inundação da Amazônia. Em 2015, o El Niño agravou ainda mais a situação. Em alguns locais da floresta, como no rio Purus, um afluente do rio Amazonas, houve uma grande cheia seguida de uma seca tardia em relação aos anos anteriores, o que impactou significativamente o número de nascimentos das Tartarugas-da-Amazônia. Anualmente na Reserva do Abufari, no médio Purus, nascem entre 200 a 300 mil filhotes. Já em 2015, foram registrados apenas 47.800 nascimentos, uma redução de quase 80% em relação à média anual.
“A demora na descida do nível das águas, fez com que parte da população de tartarugas que desovam anualmente na Reserva, subisse o rio a procura de outras praias, enquanto outra parte da população permaneceu na Reserva à espera do surgimento da praia”, conta Camila Ferrara, bióloga de Fauna Aquática da WCS Brasil, acrescentando que algumas das tartarugas que subiram o Purus sofreram uma forte pressão de “pesca” e foram intensamente capturadas por pescadores para consumo e venda.
As fêmeas que permaneceram no Abufari se dividiram em dois grupos. A maior parte delas não esperou o aparecimento da praia e desovou em áreas de “barranco”, enquanto que uma minoria aguardou o surgimento da praia para depositar seus ovos. A desova no barranco trouxe consequências drásticas para pelo menos 90% dos ninhos.
“Ao longo do período de incubação, a chuva literalmente lavou alguns ninhos devido à erosão do barranco, além de ter aumentado muito a umidade interna, levando ao aparecimento de fungos na grande maioria dos ovos. Além disso, a compactação do barranco também dificultou a saída do ninho para alguns filhotes. Já a maioria das tartarugas nascidas na praia teve sucesso”, relata a bióloga.
Para Camila, o prognóstico das mudanças climáticas na Amazônia só tende a piorar assim como suas consequências para a fauna local. Para as populações de quelônios do rio Purus, os eventos extremos associados a fenômenos naturais do clima e pressão de caça do homem irão levar rapidamente essas populações a um drástico declínio.
“Apesar de todas as espécies de tartarugas serem protegidas por lei, estas não são rigidamente seguidas. Um mercado ilegal vibrante de tartarugas existe e a cidade de Tapauá e o rio Purus não são uma exceção. As tartarugas-da-Amazônia ainda estão entre os animais mais populares para consumo, uma vez que elas são uma fonte de proteína tradicional para a população local, além do seu alto valor de venda”, finaliza a especialista.
Desde 2013, a WCS Brasil e o ICMBIo trabalham em parceria na conservação, manejo e monitoramento dos quelônios da REBio do Abufari. O objetivo do projeto é entender o status de conservação da população de Tartarugas-da-Amazônia na REBio e criar medidas mitigatórias para a conservação do grupo que vem sofrendo um sério declínio populacional no Brasil e no mundo. Os quelônios são os vertebrados mais ameaçados do planeta.