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Lucas Slater
Betzabeth Villar, Ariela Doctors e Bela Gil durante a formação aos educadores. | Foto: Lucas Slater

Na última quinta-feira (29), chegou ao último módulo o programa “Cozinhas & Infâncias”, do Instituto Comida e Cultura. A iniciativa capacita educadores da rede municipal de São Paulo em educação alimentar. Com a participação especial de Bela Gil, fundadora do Instituto, o encontro contou com aula teórica e prática na cozinha da Faculdade de Saúde Pública da USP.

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Escolher os melhores alimentos, exercer a criatividade a partir dos alimentos disponíveis, entender a sazonalidade e a importância dos ciclos da natureza. Estes foram alguns dos temas abordados na aula.

Mas, como falar de alimentação saudável sem lembrar que a fome aumentou no Brasil nos últimos anos? Erica Fischer, coordenadora institucional e cofundadora do Instituto Comida e Cultura, trouxe esse panorama ao abordar a naturalização da fome no país e a alimentação adequada como direito humano.

Erica lembrou que apesar da Constituição Federal ter incluído a alimentação aos direitos sociais, ter acesso a uma alimentação saudável ainda não é garantido para milhões de brasileiros. Mais especificamente, 33 milhões de pessoas passam fome no Brasil, segundo dados da Rede PENSSAN (Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar).

Cozinhas & Infâncias
Uma das fundadoras do ICC, Ariela Doctors, em uma das aulas práticas do programa “Cozinhas & Infâncias”. | Foto: Lucas Slater

Por outro lado, há caminhos que o país pode seguir para mudar essa realidade. O curso compartilhou estratégias de combate à fome, desnutrição e obesidade, o que inclui lideranças políticas, fortalecimento da agricultura familiar, aumento da renda aos mais pobres e a participação da sociedade civil.

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No contexto escolar, o Instituto Comida e Cultura acredita que a educação alimentar e nutricional precisa entrar no currículo escolar como política pública, o que, entre tantos benefícios, ajudará a formar cidadãos mais conscientes.

Disseminar a importância da alimentação saudável dentro das escolas é essencial, ainda que desafiador. Só a capital paulista possui mais de 3 mil unidades de educação infantil, que atendem bebês desde o nascimento até os seis anos de idade. As instituições somam entre 60 a 70 mil professores.

Shirley da Silva Santos, que atua como formadora da Divisão de Educação Infantil (DIEI) da Secretaria Municipal de Educação, relata que no âmbito da gestão do município é realizado um trabalho quinzenal com formadores, que engloba as Diretorias Regionais de Educação (as divisões administrativas que coordenam a implantação da política educacional do município) até chegar aos professores.

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“É um movimento amplo, em cascata, mas porque a gente acredita nessa homologia de processos”, pontua. “A formação do adulto é o ponto-chave para que eles possam também ofertar uma educação de qualidade para os bebês e crianças. Assim a gente consegue constituir adultos mais conscientes em todos os sentidos, com o ambiente, com a alimentação, com as relações”, completa.

Formando educadores

A partir de uma parceria firmada entre o Instituto Comida e Cultura, a Coordenadoria de Alimentação Escolar da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo e a Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo, teve início em março deste ano a formação “Cozinhas & Infâncias”.

O programa surge com o objetivo de preparar os educadores, fornecendo-lhes conhecimentos sobre a história da alimentação humana e da culinária brasileira, habilidades culinárias e práticas relacionadas à alimentação saudável. Por meio da iniciativa, foram capacitados educadores de 590 escolas da rede municipal de São Paulo em educação alimentar – incluindo todo o conjunto de Escolas Municipais de Educação Infantil e dos Centros Municipais de Educação Infantil (EMEIs e CEMEIs).

alimentação sustentável
Foto: Wendy Wei | Pexels

A expectativa é de que milhares de crianças sejam beneficiadas com as vivências e compartilhamento de experiências entre educadores propostas por este projeto. O Instituto Comida e Cultura, que atua em projetos junto à rede municipal de educação infantil e fundamental, entende a alimentação saudável como o resultado de um processo construído a muitas mãos, além de uma poderosa ferramenta no combate à má nutrição, à obesidade infantil e até mesmo às mudanças climáticas.

A intenção é aproximar os educadores do rico universo dos alimentos e seus impactos, além de apoiá-los nas atividades no chão da escola.

“Diante deste novo cenário político no Brasil, acreditamos que podemos caminhar para muito além do combate à fome. Com programas como o ‘Cozinhas & Infâncias’, por exemplo, ampliamos o acesso ao conhecimento entre educadores e crianças das escolas de educação infantil, que têm papel fundamental na promoção da alimentação adequada, saudável, biodiversa e inclusiva”, defende Bela Gil, uma das fundadoras do Instituto.

De maneira integral, o programa navega pelos tópicos: cultura, história, sistemas alimentares, biodiversidade, nutrição, educação para as relações étnico-raciais e o ensino de história e cultura afro-brasileira, africana e indígena.

talos de legumes
Foto: Monica Hering | Santo Legume

Ao cozinhar com as crianças é possível trabalhar assuntos complexos como os processos produtivos e seus impactos socioambientais, a origem dos alimentos, a ancestralidade, a cultura intrínseca aos diferentes alimentos e modos de preparo e o resgate de receitas tradicionais feitas com ingredientes nativos.

Desde março deste ano, o Instituto também leva o programa ‘Cozinhas e Infâncias’ para a Chapada dos Guimarães, Mato Grosso. E a ideia é continuar a estender o projeto para outras regiões do Brasil.