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agrotóxico monsanto
Foto: Katherine Volkovski | Unsplash

O governo mexicano planeja retirar gradualmente o glifosato da agricultura até seu completo banimento. Por meio de decreto, publicado em dezembro de 2020, o presidente do país, Andrés Manuel López, determinou a substituição do herbicida por alternativas sustentáveis até 2024.

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O México é um grande consumidor de milho. Além de produzir, muitas toneladas são importadas, sendo que o país é o principal destino do milho que é produzido nos Estados Unidos, por exemplo. O glifosato, por sua vez, é bastante utilizado nas safras transgênicas de soja, algodão e milho. Por isso, a preocupação gira em torno de toda a cadeia. O decreto estabelece a substituição do herbicida no “uso, aquisição, distribuição, promoção e importação”. 

Além disso, não serão mais concedidas autorizações para liberar as sementes de milho geneticamente modificadas (milho transgênico) no país, além de revogar as licenças já concedidas. 

Esta última medida é justificada, no documento, como uma forma de “contribuir para a segurança e soberania alimentar e como medida especial de proteção ao milho nativo, a riqueza biocultural, as comunidades camponesas, o patrimônio gastronômico e a saúde humana”. 

“O decreto responde à luta que muitos e muitos mexicanos têm dado nos últimos 21 anos, para defender nosso milho, já que o México é considerado o centro de origem, de domesticação e diversificação de pelo menos 64 raças de milho, e de mais de mil outras espécies, incluindo pimenta, feijão, abóbora, baunilha, algodão, abacate, cacau e amaranto”, afirma o Greenpeace do México.

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Glifosato no México

O glifosato é o ingrediente ativo do Roundup, o herbicida produzido pela companhia Monsanto, subsidiária da Bayer. 

Ricardo Ortiz Conde, diretor geral de Gestão Integral de Materiais e Atividades de Meio Ambiente de Risco, afirma que os herbicidas à base de glifosato são aplicados em mais de 30 tipos de lavouras no México, sendo que é mais utilizado no milho.

Ao longo dos últimos anos, diversos debates em nível nacional ressaltaram os perigos do glifosato para a saúde humana e para a biodiversidade. Em webinar, promovido pelo Ministério do Meio Ambiente do México, especialistas concordaram que a produção agrícola do país pode avançar sem aplicação de glifosato.

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Produto químico herbicida Roundup
Herbicida Roundup é o mais vendido no mundo.

Segundo Conde, desde novembro de 2019, mais de 100 mil toneladas de glifosato tiveram sua entrada negada no país. A recusa teve como base o “princípio da precaução para garantir os direitos humanos à saúde e a um meio ambiente saudável”.

A Comissão Federal de Proteção contra Riscos Sanitários (COFEPRIS), em artigo publicado no site do governo federal, ressalta a mudança de entendimento sobre os riscos do glifosato para a saúde humana ao longo dos anos. 

“O glifosato foi desenvolvido e seu uso iniciou-se na década de 70, sendo considerado na época inócuo para a saúde humana. No entanto, em março de 2015, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) avaliou o glifosato quanto à carcinogenicidade, reclassificando-o como “provavelmente carcinogênico para humanos” (Grupo 2A). A IARC é a agência especializada em câncer da Organização Mundial da Saúde (OMS)”, diz o texto. “Por óbvios motivos de saúde pública, ao mudar a classificação internacional deste herbicida, com base em suas propriedades cancerígenas, a política do governo mexicano evolui no sentido de proteger a saúde das pessoas”, completa em seguida. 

Inúmeros estudos apontam a substância como causa de diversas doenças. O caso mais famoso é do zelador Dewayne Johnson que conseguiu na Justiça a determinação de receber US$ 289 milhões da Monsanto. Após recorrer, a companhia conseguiu reduzir o valor para US$ 78,5 milhões. De todo modo, a decisão da corte abriu caminho para que outros pedidos de indenização fossem abertos. Em junho de 2020, a empresa afirmou que realizou um acordo milionário para solucionar cem mil processos somente nos Estados Unidos. 

As novas evidências e entendimentos sobre o uso descontrolado de agrotóxicos altamente perigosos dão base às restrições que vêm sendo aplicadas em diversos países. O glifosato já foi proibido ou restrito na Áustria, Alemanha, França, Itália, Luxemburgo, Tailândia, Bermuda, Sri Lanka e em partes da Espanha, Argentina e Nova Zelândia.