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Método canadense de análise dos rios pode ajudar a monitorar desastre de Mariana

Nesta metodologia, as análises vão além das informações químicas, é preciso avaliar todos os indicadores biológicos.

Após o desastre de Mariana, muitos órgãos ambientais e pesquisadores brasileiros têm se dedicado a pesquisas sobre a qualidade das águas em rios nacionais. Uma dessas equipes, dispostas a melhorar as metodologias de análise foi até o Canadá para conhecer um método diferente.

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A análise nos padrões canadenses se baseia em dois fatores: a importância de  observar os indicadores biológicos e não apenas os físicos e químicos, e a necessidade de uma pesquisa regular, que não seja feita somente após os desastres. Ao longo das últimas semanas, os brasileiros reuniram com servidores da Agência Ambiental Canadense e pesquisadores da Universidade de Alberta, na cidade de Edmonton.

No estado de Alberta, a comitiva brasileira também visitou o Rio Athabasca que, em outubro de 2013, foi poluído pelo rompimento da barragem de uma mina de carvão. Cerca de 680 metros cúbicos de rejeitos atingiram o leito e escoaram por até mil quilômetros. Posteriormente, na cidade de Vancouver, o grupo conheceu de perto as consequências de outra tragédia, ocorrida em 2014, desta vez envolvendo uma mina de cobre e ouro. A recuperação dos rios contou com a colaboração da metodologia de análise canadense. De volta ao Brasil, os pesquisadores trazem na bagagem uma nova aposta: monitoramentos mensais dos peixes e dos sedimentos que se depositam no fundo do rio.

“No Brasil, estamos acostumados a avaliar somente o contaminante. Pegamos amostras das água e dos peixes e dizemos se ali há contaminação acima do permitido pela legislação. Mas isso não é suficiente. Precisamos de indicadores biológicos ou indicadores de efeito, isto é, analisar o comportamento dos contaminantes, do ambiente e dos seres que nele habitam. Porque um contaminante pode estar acima dos limites legais e não estar causando efeito nenhum. E o contrário também pode ocorrer, de um contaminante dentro dos padrões estabelecidos estar causando algum impacto”, explicou o ecologista e toxicologista Fernando Aquinoga.

Sedimentos e peixes

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A bióloga Tatiana Furley relatou que os pesquisadores canadenses envolvidos com a tragédia do Rio Athabasca estudaram em detalhes os peixes e os sedimentos. “O sedimento no fundo do rio é o depósito final do contaminante. Sua análise é muito importante, pois ele interfere no comportamento do rio. Os crustáceos comem esse sedimento e depois servem de alimentos aos peixes. Além disso, uma enchente pode, no futuro, movimentar os sedimentos e espalhar novamente o contaminante”, disse.

Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil
Foto: Antonio Cruz/Agência Brasil

Na metodologia canadense, a equipe responsável pelo estudo dos peixes precisa ir muito além da análise química. Não basta apenas coletar amostras para dizer se as espécies estão contaminadas por metais pesados. Cada detalhe é importante. “É preciso observar os números da população, se os animais estão saudáveis, se alimentando, se reproduzindo. Peixes refletem a qualidade da água do rio e uma análise precisa nos diz muita coisa. Devemos observar o fígado, os ovos, as gônadas, o metabolismo. É fundamental analisar se o estresse do ambiente está prejudicando o metabolismo. E fazer também uma comparação das populações de uma parte do rio que sofreu impacto e de outra que não foi afetada”, acrescenta Fernando Aquinoga.

Novo protocolo

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Fernando Aquinoga e Tatiana Furley são pesquisadores da Aplysia, uma empresa especializada em avaliação e monitoramento ambiental. Após o rompimento da barragem em Mariana, eles chegaram a fazer estudos no Rio Doce, contratados pela mineradora Samarco. Além dos dois, a comitiva brasileira contou também com o oceanógrafo Felipe Niencheski, professor da Universidade Federal de Rio Grande (Furg). Com base na experiência que têm no Brasil e no que viram no Canadá, o grupo pretende sugerir novo protocolo a ser observado para pesquisas futuras da qualidade das águas das bacias.

Da Agência Brasil