- Publicidade -

Mais de 60 organizações lançam campanha contra poluição por plástico

Grupo chama atenção para projeto de lei, que cria uma Economia Circular do plástico

produção plástico
Uma torneira gigante de plástico – instalação pelo artista e ativista Benjamin Von Wong nas Nações Unidas

A poluição por plásticos é hoje a segunda maior ameaça ambiental ao planeta, segundo a ONU, atrás apenas das mudanças climáticas. A cada minuto, dois caminhões de lixo plástico são despejados no oceano, globalmente. Somente o Brasil lança ao menos 325 milhões de quilos de resíduos plásticos todos os anos no oceano. Para frear este problema, mais de 60 organizações estão unidas para fazer avançar o Projeto de Lei 2524/2022, que cria um marco regulatório para o estabelecimento de uma Economia Circular do plástico no Brasil.

- Publicidade -

Já em tramitação no Senado Federal, o PL propõe resolver o problema da poluição por plástico por onde ele começa: o atual modelo de produção. Além de novas formas de produzir, esse projeto ainda determina novas abordagens para o uso e o descarte do plástico, em que os descartáveis não serão mais produzidos e todo plástico deverá ser reutilizável, reciclável ou compostável. Desse modo, ele voltará ao sistema, e não será mais despejado na natureza e nos oceanos.

“A continuidade do atual sistema linear, baseado em extração, produção e descarte é totalmente insustentável. Com esse Projeto de Lei, o Brasil pode se colocar na vanguarda do assunto, trazendo soluções reais baseadas na circulação de materiais e na regeneração da natureza”, destaca Lara Iwanicki, engenheira ambiental e gerente de campanhas da Oceana.

produção plástico
Água-viva e plástico. Foto: Oceana | Enrique Talledo

Para chamar atenção ao PL, a Oceana, juntamente com outras 60 organizações, lança a campanha Pare o Tsunami de Plástico, nesta terça-feira (15), às 18h, no Salão Nobre da Câmara dos Deputados em Brasília.

Plástico no corpo humano

No ar, na água, nos alimentos que consumimos e até nos órgãos humanos: já foram detectados microplásticos na placenta, no leite, no sangue, no pulmão e até no coração. A poluição por plásticos deixou de ser apenas uma ameaça ambiental e se tornou uma ameaça real à nossa saúde.

- Publicidade -

Em 2019, a professora da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP), Thais Mauad, coordenou a pesquisa que detectou pela primeira vez essas partículas no pulmão humano. “O plástico no organismo carrega uma série de substâncias nocivas, como aditivos, metais pesados, substâncias cancerígenas. Então, não se sabe, nesse momento de pesquisa mundial, o que vai acontecer de verdade com a saúde humana. O que sabemos é que há bilhões de toneladas de plástico no meio ambiente e vai demorar muito para que o planeta seja despoluído”, pontua.

Brasil, maior produtor

Maior produtor de plásticos da América Latina, com uma produção anual de cerca de 7 milhões de toneladas, o Brasil despeja ao menos 325 milhões de quilos de plástico todos os anos no mar.

Apesar disso, o país sequer faz parte da lista de mais de 100 países que implementaram legislações restritivas a pelo menos um item de plástico descartável. Essa já é a realidade de Quênia, Chile, Índia e Canadá, dentre tantos outros do Norte e Sul globais.

- Publicidade -

Teve repercussão internacional a recente descoberta da geóloga brasileira Fernanda Avelar Santos que, em um trabalho de campo, encontrou “rochas de plástico” na remota Ilha de Trindade, localizada no litoral do Espírito Santo. Formadas por detritos plásticos fundidos a sedimentos naturais, essas rochas acendem, na sociedade, o espanto pelo fato de a poluição marinha já afetar até mesmo fenômenos geológicos.

rochas plástico
Exemplo de rocha idêntica às naturais mas composta por plástico. | Foto: Fernanda Avelar Santos

“No caso do que encontramos em Trindade, o ser humano foi o agente geológico em todas as etapas, desde disponibilizar essa poluição no oceano para que chegasse até a ilha, passando pela queima e aproximação desses materiais. Esse processo levaria milhares de anos sem a participação humana”, explica a pesquisadora.

Era do Plástico

O cenário alarmante traz à discussão o que cientistas da Universidade da Califórnia (EUA) chamam de “Era do Plástico” e a possibilidade dessas rochas serem um dos marcos do Antropoceno, teoria em debate por cientistas sobre o início de uma Era geológica caracterizada pelos impactos da interferência humana no planeta.

Além de fenômenos geológicos, a poluição plástica tem sido relacionada também a novas dinâmicas biológicas. É o que revela o estudo publicado pela revista Nature, em abril deste ano, que detectou quase 500 tipos de invertebrados de 46 espécies diferentes vivendo em uma extensa mancha de 1,6 milhão de quilômetros quadrados de lixo, com cerca de 80 mil toneladas de plástico, flutuando no Oceano Pacífico.

Maior do que o território da França, essa “ilha de plástico”, localizada entre a Califórnia e o Havaí, já está sendo chamada de “sétimo continente”. Ela não é a única, existem outras extensas “ilhas de plástico” em diferentes áreas dos oceanos.

microplasticos ecossistemas
Foto: Naja Bertolt Jensen | Unsplash

Sem se limitar a fronteiras, os plásticos descartáveis despejados no mar tanto flutuam na superfície como se espalham pelo fundo oceânico. Até mesmo nas Fossas Marianas, região mais profunda do oceano, localizada há mais de 10 mil metros, os cientistas já encontraram sacolas e embalagens plásticas de bala.

Mesmo sendo um perigo muitas vezes invisível a olho nu, os impactos do microplástico tornam-se cada vez mais explícitos também na fauna marinha. Segundo o relatório “Um Oceano Livre de Plásticos”, publicado pela Oceana, dezenas de milhares de organismos marinhos são severamente prejudicados pela ingestão de plástico, dos zooplâncton a tartarugas, mamíferos e aves marinhas, muitas delas já ameaçadas de extinção.

Diante da escala planetária dessa crise, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem centrado esforços na construção de um Tratado Global Contra a Poluição Plástica. A expectativa é que esse documento esteja pronto até o final de 2024 e que tenha força de lei para todos os países que o ratificarem.

“Precisamos parar de alimentar falsas soluções, como a reciclagem química e a incineração dos resíduos plásticos. Temos que avançar para soluções factíveis como a adoção de uma Economia Circular, começando pela redução da produção exorbitante de itens de uso único. É preciso fechar essa torneira da produção e oferta de plástico”, conclui Lara Iwanicki.