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Crustáceos podem ser os polinizadores do mar, sugere pesquisa

Pesquisa revela que as algas podem estar entre os primeiros organismos a se reproduzir usando animais.

Um crustáceo isópode (Idotea balthica) sobe ao longo de um talo de algas vermelhas (Gracilaria gracilis). | Crédito: Wilfried Thomas / Station Biologique de Roscoff – CNRS, SU

A polinização feita em terra é basicamente a transferência de células sexuais masculinas (pólen), para uma flor feminina. Já em 2016, cientistas fizeram a descoberta de que vários invertebrados marinhos “polinizam” as flores das ervas marinhas, alimentando-se e movendo-se entre as massas gelatinosas de pólen das ervas marinhas, que são descendentes de plantas terrestres. Porém, nada semelhante ainda havia sido documentado em algas.

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Como outras algas vermelhas, a Gracilaria gracilis não possui células sexuais masculinas que nadam livremente. Chamadas de espermácias, suas células sexuais eram tipicamente dispersas em algas femininas pelo fluxo de água, assim como o vento pode espalhar pólen para fertilizar certas plantas terrestres.

No novo estudo, publicado recentemente pela revista Science, Myriam Valero, geneticista populacional da Universidade Sorbonne, em Paris, e seus colegas estavam estudando a genética e o acasalamento da alga Gracilaria gracilis. Depois de coletar amostras de algas marinhas e armazená-las em tanques de laboratório, a equipe continuou notando centenas de pequenos crustáceos com formas alongadas nos tanques. Essa descoberta e a semelhança dos espermatozoides das algas com o pólen levaram a equipe a se perguntar se os crustáceos ajudam a “polinizar” as algas.

Experimênto

No laboratório, os pesquisadores colocaram algas masculinas e femininas a 15 centímetros de distância em tanques sem movimento de água. Em alguns tanques também foram colocados um tipo de crustáceo isópode da espécie Idotea balthica (parentes dos percevejos que vivem na terra), enquanto outros tanques não tinham sua presença. Quando uma fertilização bem-sucedida ocorre no corpo de uma alga vermelha feminina, ela cria uma estrutura semelhante a uma bolha chamada cistocarpo. Ao contar os cistocarpos, a equipe quantificou quantos espermatozóides estavam atingindo e fertilizando as algas fêmeas. Quando os isópodes estavam presentes, o sucesso da fertilização era cerca de 20 vezes maior do que na sua ausência.

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A equipe também montou tanques apenas com algas femininas e crustáceos previamente expostos às algas masculinas. Algumas das algas fêmeas carregavam cistocarpos, oferecendo mais evidências de que os crustáceos transportam células sexuais entre os caules das algas. A equipe confirmou ainda mais o papel dos isópodes ao observar os crustáceos sob um microscópio de alta potência – como abelhas polvilhadas com pólen, as criaturas tinham espermatozóides presos por todo o corpo.

Idotea balthica polinização
Células sexuais de algas (manchas verdes) aderem ao corpo de um crustáceo isópode (Idotea balthica). | Crédito: Wilfried Thomas / Station Biologique de Roscoff – CNRS, SU

A descoberta sugere que as algas podem estar entre os primeiros organismos a se reproduzir usando animais para espalhar células sexuais. As algas vermelhas têm possivelmente mais de 800 milhões de anos, e a vida animal complexa remonta a mais de meio bilhão de anos. Isso significa que a fertilização conduzida por animais pode ter surgido ainda mais cedo do que os cientistas perceberam. “Tal sistema poderia se estender até o pré-cambriano quando as algas vermelhas estivessem presentes”, diz Conrad Labandeira, paleobiólogo do Smithsonian National Museum of Natural History em Washington. 

Segundo os cientistas, o movimento da água ainda pode ajudar a alga vermelha a espalhar sua espermácia. Porém, grande parte da fertilização das algas ocorre em piscinas rochosas na maré baixa, quando a água está calma, diz Valero. “Achamos que a influência do Idotea pode ser muito importante nessas condições.”

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Em troca de seus serviços, os isópodes podem se abrigar das algas espessas e ter acesso a alimentos grudados em sua superfície.