Mais de 200 toneladas de resíduos de óleo foram retiradas no Nordeste
166 praias em 72 municípios dos nove estados da região já foram afetados.
166 praias em 72 municípios dos nove estados da região já foram afetados.
A origem, as causas e responsabilidades do despejo de óleo em praias do Nordeste ainda são desconhecidas. O que se sabe é que 166 praias em 72 municípios dos nove estados da região já foram afetados. Mais de 200 toneladas de resíduos oleosos (mistura de óleo e areia) foram coletadas só pela Petrobras, ou seja, sem contabilizar indivíduos e organizações voluntárias que estão fazendo o árduo trabalho de “enxugar gelo”.
Cerca de 1700 agentes ambientais contratados pela estatal estão coletando os resíduos desde 12 de setembro. Já a Marinha empregou 1.583 militares. O trabalho é realizado em conjunto ao Ibama. Análises já comprovaram que a substância trata-se de petróleo cru, ou seja, não se origina de nenhum derivado de óleo.
Entretanto, não se sabe exatamente a quantidade exata da distribuição de óleo e, pior, os órgãos só conseguem avistar o material quando ele está bem próximo da praia.
“Nós utilizamos satélites, não só brasileiros, mas também estrangeiros. Temos utilizado aeronave do Ibama com um sistema de radar. Essa aeronave percorreu e vem percorrendo todo o litoral brasileiro, sem detecção desse óleo, que vem por baixo da superfície. Ele vem de um sistema subsuperficial, está abaixo do sistema de visualização por radar”, disse o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, na última quarta-feira (16).
O mapa abaixo revela as áreas afetadas até o momento:
O Rio Grande do Norte é o estado com mais praias atingidas, foram encontradas manchas até nos parrachos de Maracajaú: conhecido como o Caribe brasileiro. Há 60 quilômetros de Natal, a área é repleta de piscinas naturais que estão inseridas na Área de Proteção Ambiental dos Recifes de Corais.
Os números até agora são difíceis de mensurar. O Ibama informa que 29 animais foram conhecidamente afetados, entre eles aves e tartarugas marinhas. Porém, considerando que nem todos os casos são computados pelo órgão, o número certamente é bem maior.
Só o Projeto Tamar, por exemplo, recolheu 10 filhotes mortos nas praias da Bahia desde a última sexta-feira (11). Já o Instituto Biota de Conservação registrou, na semana passada, o primeiro golfinho com manchas de óleo no litoral de Alagoas. Ao passo que o caso ganha mais atenção da mídia e da população brasileira, a atenção sobre o impacto aos animais deve aumentar.
O Projeto Tamar afirmou em nota que está monitorando intensamente as praias de Sergipe e do litoral Norte da Bahia. São “áreas consideradas prioritárias para a reprodução e conservação de três das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no litoral brasileiro: a tartaruga-oliva (Lepidochelys olivacea), a tartaruga-cabeçuda (Caretta caretta), e a tartaruga-de-pente (Eretmochelys imbricata)”.
Conter o avanço das manchas sem saber sua origem é uma missão praticamente impossível. O próprio Ibama afirmou, em nota, que o uso de barreiras de contenção para reter o óleo pode não alcançar a eficácia pretendida. Veja abaixo como funcionam tais barreiras:
“Barreiras de contenção são compostas por uma parte flutuante e outra submersa, chamada saia, que tem a função de conter o óleo superficial (substância com densidade menor que a da água), mas o poluente que atinge o nordeste do país se concentra em camada sub-superficial. Por essa razão, as manchas não são visualizadas em imagens de satélite, sobrevoos e monitoramentos com sensores para detecção de óleo.
Além disso, barreiras de contenção geralmente são eficazes em correntes com velocidades de até um nó, o equivalente a uma milha náutica por hora. A vazão dos rios é muito superior a essa capacidade.“
O Ibama também ressalta que, apesar de ser recomendado instalar barreiras em águas calmas, como manguezais, se estas mesmas áreas já estiverem contaminadas a estrutura impede a limpeza natural do ambiente, ou seja, além de não ajudar ainda atrapalha.
O que se afirma, até agora, é que o óleo encontrado não é produzido no Brasil e não foi comercializado ou fruto de operações da Petrobras. Já há análises apontando que material seja de origem venezuelana. A Marinha continua investigando a origem das manchas de óleo, enquanto a Polícia Federal realiza a investigação criminal.
Para quem mora ou está em uma região afetada é importante evitar nadar ou praticar esportes aquáticos e não entrar em contato com a substância – caso aconteça sem querer, buscar a unidade de saúde. Também é importante notificar a prefeitura da cidade sobre os resíduos, inclusive se encontrar um animal coberto por óleo: alguns moradores ao se deparar com a situação lavam o animal por conta própria e devolvem-o para o mar, o que não é recomendado.
Fotos da capa: A imagem à direita é do biólogo Maurício Cardim. A imagem à esquerda é do Instituto Biota de Conservação.