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1% mais rico do mundo polui o mesmo que 66% dos pobres

A quantidade de CO2 emitido por uma pequena parcela da população chegou a 16% das emissões totais do planeta

Published 21/11/2023
rico emissões

Foto: Yaroslav Muzychenko | Unsplash

O 1% mais rico da população mundial produziu tanta poluição em 2019 quanto cerca de 5 bilhões de pessoas (dois terços da humanidade), revela um novo relatório da Oxfam. Tais emissões são suficientes para causar 1,3 milhão de mortes relacionadas ao calor entre 2020 e 2100, aponta a instituição.

O relatório “Igualdade Climática: Um Planeta para os 99%” foi elaborado com dados do Stockholm Environment Institute (Instituto Ambiental de Estocolmo) e avalia os dados nacionais de emissões de consumo para 196 países de 1990 a 2019, do Global Carbon Atlas (Atlas Global de Carbono), que cobre quase 99% das emissões globais. Os dados de renda nacional e os números populacionais foram obtidos do Penn World Table (PWT) e do Banco Mundial.

O relatório mostra o contraste entre as pegadas de carbono do 1% mais rico – que têm muitos investimentos em indústrias poluentes e cujos estilos de vida resultam em grandes emissões de CO2, impulsionando assim o aquecimento global – e da maior parte da população do mundo.

Foto: Indy Bruhin | Unsplash

“É inaceitável que o 1% mais rico continue liderando o mundo ladeira abaixo para um colapso planetário. E quem vem sofrendo o impacto dos danos dessa viagem é a maioria da população. São as bilhões de pessoas impactadas por enchentes, secas, perdas de território, aquecimento e baixa de temperatura desproporcional, problemas de saúde e pobreza”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil.

“Durante anos a sociedade e a academia lutam para acabar com a era dos combustíveis fósseis para salvar milhões de vidas e nosso planeta. Está mais nítido do que nunca que isso será impossível enquanto houver riqueza extrema no mundo e enquanto os governos não cumprirem seus compromissos com uma sociedade sustentável”, completa Katia Maia.

Os dados são apresentados às vésperas da Cúpula Climática na ONU (COP 28), que será realizada em Dubai, entre os dias 30 de novembro e 12 de dezembro deste ano. Um dos temas centrais da COP 28 é a necessidade de manter a meta de 1,5°C no aumento da temperatura global para evitar um colapso climático.

Mais ricos poluem mais

Confira abaixo alguns tópicos de destaque levantados pela Oxfam:

O colapso climático e as desigualdades têm relação direta. O impacto da crise climática é desigual, atingindo mais pessoas que vivem na pobreza, mulheres e meninas, pessoas negras, comunidades indígenas, comunidades quilombolas e tradicionais nos países do Sul Global. Esse impacto está agravando a desigualdade entre e dentro dos países.

Os governos podem enfrentar as crises das desigualdades e das mudanças climáticas, tributando os super-ricos, investindo em serviços públicos e cumprindo as metas climáticas. A Oxfam calcula que um imposto de 60% sobre a renda do 1% mais rico do mundo reduziria as emissões globais arrecadaria US$ 6,4 trilhões que poderiam ser utilizados para o enfrentamento da crise climática, financiando, entre outros, a transição energética a preparação para países e regiões que têm grande parte de sua população afetada.

“É preciso fazer a conexão entre o excesso de riqueza e o colapso climático. Está passando da hora dos super-ricos serem taxados mundialmente. Essa é uma forma de levantar recursos para enfrentar de maneira mais eficaz as mudanças climáticas e as desigualdades. E a sociedade deve se mobilizar e pressionar os governos para que essa taxação ocorra”, salienta finaliza Katia Maia.

O que fazer

As recomendações da Oxfam para colocar os 99% no comando das economias:

Aumento radical da igualdade

Os governos devem implementar políticas comprovadas para reduzir drasticamente a desigualdade e o fosso entre os mais ricos e o restante da população. Menores rendimentos e riqueza dos mais ricos reduzirá emissões. Sociedades economicamente mais igualitárias são vitais para enfrentar desigualdades como gênero, raça, religião e casta.

Guerras, desigualdade social e mudanças climáticas agravam ainda mais o quadro da fome no mundo. Foto: Pixabay

Sociedades mais igualitárias são capazes de gerir os enormes riscos e impactos das condições meteorológicas extremas de forma mais eficaz e justa. Podem alcançar o consenso político necessário para uma transição rápida e permanente dos combustíveis fósseis e da redução do consumo excessivo dos privilegiados para uma vida melhor para todos.

Uma transição rápida e justa para longe dos combustíveis fósseis

Os países ricos e poluentes, que têm a maior responsabilidade e capacidade para reduzir as emissões, devem eliminar rápido e gradualmente o uso dos combustíveis fósseis e cessar imediatamente a emissão de quaisquer novas licenças ou a permissão da expansão da exploração, extração ou processamento de carvão, petróleo e gás. Os governos devem implementar uma nova onda de impostos sobre as empresas e os super-ricos que lucraram com a pilhagem do nosso mundo, para reduzir as emissões de forma significativa e urgente e para financiar a transição.

Foto: Chris Leboutillie | Unsplash

Trilhões de dólares provenientes destes novos impostos podem ser investidos em serviços públicos, tecnologias e bens concebidos para e pelos 99%, centrados especialmente nas mulheres, povos indígenas, pessoas negras e minorias que são mais impactados.

Devem ser apoiadas as ações que construam um mundo mais justo e sustentável, como o fornecimento de energia renovável universal e acessível, habitação segura e eficiente em termos energéticos, transporte ferroviário de alta velocidade e outros transportes públicos ecológicos e acessíveis, proteção para todas as pessoas contra condições meteorológicas extremas, apoio à adaptação e por perdas e danos já sofridos.

Um novo propósito para uma nova era

O atual sistema econômico, orientado para gerar uma riqueza cada vez maior para os já ricos, está levando o mundo ao precipício. O foco no crescimento econômico de qualquer tipo e na extração e consumo excessivo sem fim e a qualquer custo tem de acabar. As pessoas e os seus governos devem voltar a ser responsáveis pelo seu destino. As nossas economias devem ser propositalmente redesenhadas e reimaginadas.

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