Parece simples, mas não é. Entenda como é fabricado um lápis ecológico
Anualmente, 1,9 bilhão de EcoLápis são produzidos no Brasil e exportados para os quatro cantos do mundo.
Anualmente, 1,9 bilhão de EcoLápis são produzidos no Brasil e exportados para os quatro cantos do mundo.
O lápis é um dos instrumentos de escrita mais antigos do mundo. Sua praticidade e eficiência são tão grandes que ele continua a ser usado ainda hoje por pessoas de todas as idades e com diferentes finalidades. Mesmo sendo algo tão simples, ele gera negócio e a sua produção, em larga escala para suprir a demanda, também gera impactos ambientais. Mas, este problema tem solução: o lápis ecológico.
O CicloVivo foi convidado a conhecer todas as etapas de fabricação do EcoLápis, produzido pela Faber-Castell. A empresa, de origem alemã, é a líder mundial no mercado de lápis e também a única do mundo a trabalhar exclusivamente com madeira certificada pelo selo FSC. Afinal, é pela madeira que começa todo o caminho do lápis.
No começo era só uma sementinha
Cada detalhe neste processo industrial conta. Então, as sementinhas são apenas o início do trabalho. Em um viveiro, localizado na cidade mineira de Prata, a Faber-Castell produz as mudas de Pinus caribea a árvore usada para a fabricação do lápis. São necessários 25 anos desde o plantio dessa muda até o momento certo para o corte e manufatura da madeira.
Durante este período, o plantio recebe muita atenção e cuidado. Coisas simples, como a poda das árvores, são essenciais para garantir a madeira de qualidade lá no fim do processo, por exemplo. Mas, não é apenas o produto final que preocupa.
Por ser a maior fabricante de lápis do mundo, é necessário contar com muita matéria-prima. Isso significa que é preciso ter muitas árvores exóticas em uma mesma região. O pinus não é originário do Brasil, portanto existem preocupações específicas para garantir que essa floresta não interfira nas condições da biodiversidade local. Seguindo as normas ambientais brasileiras, a floresta em Prata (MG) tem 26% de sua área coberta por vegetação nativa, distribuídas em Áreas de Preservação Permanente (APP).
A empresa não para por aí. Uma equipe coordenada pelo engenheiro florestal Elias Leal Gonçalves, juntamente com empresas de consultoria terceirizadas, monitoram todas as espécies de fauna e flora da região, para que seja possível entender seus hábitos, analisar a incidência e entender como a ação humana tem interferido na biodiversidade local.
Gonçalves garante que todas as iniciativas de manejo são pensadas de forma a garantir a produção, ao mesmo tempo em que protege a biodiversidade. Quando indagado sobre a escolha do tipo de árvore usada na produção, o engenheiro explicou que algumas espécies nativas do Brasil já foram usadas para a fabricação de lápis. No entanto, a qualidade da madeira, muito mais resistente e densa, dificultava o uso, principalmente pelas crianças, que não conseguem apontar os lápis. Com uma floresta própria e todos esses cuidados ambientais, a empresa é considerada “carbono neutro”, ou seja, todo o carbono gerado na fabricação é neutralizado dentro do próprio processo produtivo.
Os funcionários costumam chamar a fabricação do lápis de mágica. A transformação de uma árvore em um instrumento de escrita conta com o esforço de muitas pessoas e a “mágica” é muito mais demorada e trabalhosa do que os truques de ilusionistas.
A primeira etapa acontece na fábrica próxima às florestas. A madeira cortada é transformada em “tabuinhas”. Como todas as peças da engrenagem trabalhando com extrema precisão, toda a matéria-prima é aproveitada, seja ela usada para a produção dos lápis ou para gerar energia limpa. Todo o maquinário e as estruturas das duas fábricas da empresa no Brasil funcionam a partir da biomassa coletada dos resíduos da fabricação. É tanto material, que é possível ter energia suficiente para o abastecimento e ainda comercializar o resíduo excedente.
São necessários dois meses desde que as “tabuinhas” são finalizadas para que elas passem à segunda etapa, que é quando o lápis começa a tomar forma.
O processo continua, mas em outro lugar. Após sair de Prata, em MG, o material é levado a São Carlos, onde está a outra unidade produtiva da Faber-Castell. É ali que tudo vai ganhar mais cor. Mas, antes que isso aconteça, ainda é preciso atentar aos mínimos detalhes de cada elemento usado na produção.
Em um laboratório químico altamente equipado, especialistas analisam todos os componentes usados nos produtos. As avaliações passam por todos os detalhes, desde o material usado na embalagem até os menores elementos aplicados na fabricação das minas (núcleo do lápis). Tudo é cuidadosamente estudado. Os testes verificam o grau de toxidade, a qualidade, resistência, periculosidade e muito mais, para garantir a segurança de qualquer pessoa que entre em contato com o produto final.
Segundo o engenheiro de produto, Marcel Atássio, as normas usadas pela companhia são as mais restritas do mundo. Ele explica que a Faber-Castell aplica em suas fábricas os padrões estabelecidos nas legislações ambientais internacionais mais rigosas que existem, independente de qual país as criou.
Com tudo aprovado, é hora de ver as coisas tomando forma. As tabuinhas são recheadas com as minas, cortadas e ganham forma de lápis. A finalização acontece com um banho de tinta, carimbo e ponta feita. Aí, então, os EcoLápis são embalados e destinados aos postos de venda.
Paralelo à produção dos lápis, existem muitas coisas acontecendo. Na região de Prata, por exemplo, a Faber-Castell se encarrega de desenvolver ações de conscientização e educação ambiental com a comunidade, além de ser uma das principais colaboradoras do desenvolvimento econômico e social da região.
As atividades incluem educação ambiental, com visita às florestas e coleta de sementes, realizadas com alunos das escolas públicas da cidade; visitas aos produtores para explicar os cuidados necessários com a preservação das nascentes, recursos hídricos e solo; prevenção, monitoramento e conscientização sobre os riscos dos incêndios florestais, entre outras coisas.
Usar um lápis é algo tão simples e natural, que chega a ser difícil imaginar que para que cada um deles seja fabricado é necessário esperar 25 anos e contar com o esforço de muitas pessoas no meio do caminho.
Anualmente, 1,9 bilhão de EcoLápis são produzidos no Brasil e exportados para os quatro cantos do mundo. Mesmo com uma escala tão grande, isso não tem impedido que a sustentabilidade seja considerada em todas as etapas do processo. Como a mágica não é tão simples no mundo real, é preciso contar com muito conhecimento e esforço para transformar negócios tradicionais em negócios sustentáveis. A tarefa é difícil, mas não é impossível.
Por Thaís Teisen – Redação CicloVivo