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Comunidade ribeirinha conta como a vida mudou depois de cisternas e fossas ecológicas

Em 11 meses de projeto, já foram criadas 18 tecnologias sociais voltadas à gestão e segurança hídrica.

“Antes a gente não tinha água boa e guardava em baldes quando chegava o inverno, mas na estiagem acabava tudo. Passamos a comprar os alimentos em São Cristóvão, muita coisa que antes a gente plantava, por causa desse problema da água. E agora estamos aprendendo a construir tudo isso para ter água no nosso quintal”, relata a marisqueira Márcia dos Santos, moradora da Ilha Grande e proprietária da casa onde foi construído o primeiro sistema de captação de água da chuva – a cisterna de ferrocimento – com capacidade de armazenamento de 12 mil litros de água.

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A Ilha Grande localiza-se no município de São Cristóvão, em Sergipe, e tem uma população estimada em 80 pessoas, que vivem basicamente da pesca fluvial e da pequena agricultura de subsistência baseada na produção de mandioca, coco e mangas. Dessa forma, a falta de acesso à água de qualidade é um dos principais entraves à manutenção e ampliação dos cultivos familiares e à saúde de seus moradores.

É para solucionar esse déficit hídrico que alternativas acessíveis e de baixo custo estão sendo implementadas pela ONG Sahude – Sociedade para o Avanço Humano e Desenvolvimento Ecosófico – por meio do projeto “Frutos da Ilha”, contemplado pelo edital Petrobras Integração Comunidades 2013. Em 11 meses de projeto, já foram construídas 18 tecnologias sociais voltadas à gestão e segurança hídricas da comunidade da ilha, através de cursos de capacitação realizados junto à comunidade: sete ecofossas ou bacias de evapotranspiração (BET), dois círculos de bananeiras, quatro sanitários secos compostáveis e cinco cisternas de ferrocimento, além das que estão previstas ao longo do projeto ‘Frutos da Ilha’.

Fotos_Priscila Viana (1)Fotos_Priscila Viana (7)Todas as tecnologias são implementadas com a participação da comunidade. Fotos: Priscila Viana.

De acordo com o coordenador do projeto, o permacultor Guilherme Belchior, o diferencial do projeto está na capacitação dos moradores. “É muito comum acompanharmos projetos e iniciativas que doam tecnologias sociais a famílias agricultoras e ribeirinhas que sofrem com o problema da falta de água. No nosso caso, todas as tecnologias são implementadas através de cursos de capacitação realizados com a participação da comunidade. Dessa forma, estimula-se a autonomia e a geração de renda, pois as técnicas já estão sendo replicadas por eles mesmos em comunidades vizinhas”, afirma Guilherme, que também é membro da ONG Sahude.

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Tecnologias sociais

A BET (bacia de evapotranspiração ou ecofossa) é uma das tecnologias sociais indicadas para o tratamento das águas negras, provenientes da descarga dos vasos sanitários. Além de não gerar nenhum efluente, a ecofossa evita a contaminação do solo e das águas, e produz bananas de ótima qualidade como produto de seu processo final de tratamento. Outra tecnologia é o círculo de bananeiras, indicado para tratar as águas usadas da casa (pias, tanques e chuveiros), as chamadas águas cinzas, além de também beneficiar a produção de bananas em escala humana. Já os banheiros secos compostáveis são uma tecnologia social que dispensa o uso de água para a descarga, apropriado para regiões com problemas de abastecimento como é o caso da ilha. As fezes humanas são tratadas por um processo de compostagem e convertidas em adubo orgânico.

Fotos_Priscila Viana (11)Fotos_Priscila Viana (9)População da Ilha Grande vive basicamente da pesca fluvial e da pequena agricultura de subsistência. Fotos: Priscila Viana.

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A casa da marisqueira e líder comunitária Maria Madalena Santos foi a primeira a receber a bacia de evapotranspiração e é através da tecnologia social que ela colhe os frutos. “Quem vai imaginar que a água da descarga serve pra irrigar a bananeira? Nunca tinha visto isso na minha vida, porque antes ia tudo para o rio. Agora eu colho as bananas e vou vender na feira de São Cristóvão”, relata Madalena.

Até o final do projeto, que tem duração de dois anos, está prevista a construção de mais cinco cisternas de ferrocimento, um apiário comunitário e seis pólos agroflorestais, além de outras intervenções e cursos de capacitação socioambiental nas áreas de fitoterapia, turismo de base comunitária, redução de impactos ambientais, economia solidária e cooperativismo.