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Imagem: Instituto Weizmann de Ciências

Por Agência Fapesp

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Os oncologistas enfrentam um dilema ao diagnosticar um paciente com câncer de próstata em estágio inicial. As duas opções terapêuticas para esses casos – a cirurgia de remoção do tumor e a radioterapia – atingem toda a próstata e podem causar sérios efeitos colaterais, como disfunção erétil e incontinência urinária.

Um novo método para o tratamento de tumores de próstata em estágio inicial, desenvolvido no Instituto Weizmann de Ciências, em Israel, poderá oferecer aos médicos uma alternativa às terapias convencionais, reduzindo o risco de danos desnecessários aos pacientes. A nova técnica, não invasiva, usa uma droga fotossensibilizante e uma fonte de luz para atacar especificamente os tumores prostáticos, sem danificar tecidos saudáveis e o trato urinário.

“Combinamos princípios e ideias da natureza com a fotônica para desenvolver um novo tratamento contra o câncer de próstata”, disse Avigdor Scherz, professor do Instituto Weizmann de Ciências e um dos criadores do novo tratamento. Ele veio ao Brasil para participar como palestrante da São Paulo School of Advanced Science on Modern Topics in Biophotonics.

Tumor é destruído em até 24 horas

O novo método, chamado terapia fotodinâmica vascular dirigida (VTP, na sigla em inglês), consiste na infusão intravenosa por 10 minutos de uma droga à base de um pigmento sensível à luz obtido da clorofila produzida por bactérias aquáticas fotossintetizantes – que captam energia da luz solar.

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Denominada bacterioclorofila, a droga sintetizada a partir dessa substância é ativada pela exposição ao laser infravermelho durante 22 minutos, por meio de fibras ópticas finas inseridas no local do tumor com a ajuda de ultrassonografia.

A ativação da droga no tecido doente por meio do laser provoca uma reação em cadeia e gera moléculas altamente reativas, que fecham os vasos sanguíneos responsáveis por alimentar os tumores, impedindo que recebam oxigênio. Dessa forma, os tumores são destruídos entre 16 e 24 horas após o procedimento, enquanto as estruturas e as funções de tecidos sadios permanecem intactas.

“A combinação da droga fotossensibilizante com a exposição ao laser no interior dos vasos sanguíneos provoca a geração simultânea de radicais de óxido nítrico e de oxigênio. Isso leva a um rápido colapso da vascularização do tecido tumoral”, explicou Scherz.

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Os pacientes submetidos ao tratamento são liberados poucas horas após o procedimento, que tem duração aproximada de 90 minutos e é feito em apenas uma sessão. O fármaco permanece na circulação sanguínea por um período de três a quatro horas.

A fim de avaliar a eficácia e a segurança do novo método foram feitos testes clínicos com 413 pacientes, em 47 hospitais de 10 países europeus e em centros médicos no Canadá, México e em Israel.

Os resultados dos ensaios clínicos feitos na Europa, publicados em 2016 em The Lancet Oncology, mostraram que 49% dos pacientes entraram em remissão completa. Apenas 6% tiveram de retirar a próstata, em comparação com 30% entre os que não foram submetidos ao tratamento. Os efeitos secundários foram semelhantes aos de uma biópsia convencional.

A terapia já foi aprovada em Israel e no México e está sob avaliação da agência europeia de medicamentos (EMA) e da agência regulatória de fármacos dos Estados Unidos – a Food and Drugs Administration (FDA) –, além da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil.

O desenvolvimento do novo tratamento resultou em 15 patentes.

Imunidade antitumoral

Os pesquisadores pretendem testar em modelos animais a terapia fotodinâmica contra o câncer de próstata em estágios mais avançados, bem como avaliar se a modulação do sistema imunológico durante o tratamento melhora a eficácia e a segurança do novo método. Ou, até mesmo, se pode ajudar a desenvolver imunidade antitumoral.

De acordo com Scherz, essa nova abordagem mostrou resultados promissores em estudos com animais e poderá ser usada para o tratamento de câncer de próstata em estágio inicial e nos casos mais avançados, além de outros tipos de tumores, como o de pâncreas, e na degeneração macular pela idade.

“Como as árvores, com suas folhas, a natureza se desfaz de órgãos com mau funcionamento por meio da geração simultânea de óxido nítrico e de radicais de oxigênio. É assim também com o método que desenvolvemos”, comparou Scherz. “Queremos usar o mesmo princípio para tratar os tumores malignos e outras doenças.”

O tratamento inovador é resultado de 20 anos de pesquisa do químico Scherz com o botânico Yoram Salomon, também professor do Instituto Weizmann de Ciências, que faleceu em 2017.Mais informações sobre o evento São Paulo School of Advanced Science on Modern Topics in Biophotonics, acesse aqui.