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Arquiteta da USP faz projeto de moradias para ribeirinhos do Amazonas

A proposta prevê a construção de edificações de uso misto: comércio, equipamentos comunitários e moradia.

Imagem: Reprodução | Sobre as águas da Amazônia

Por Victoria Borges | Jornal da USP

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Inspirada em comentários de professores sobre as palafitas — habitações comuns em regiões alagadiças, construídas sobre troncos ou pilares —, Danielle Khoury Gregorio, ex-aluna da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU) da USP, em São Paulo, decidiu que o tema de seu Trabalho Final de Graduação (TFG) seriam as moradias ribeirinhas. Durante as aulas, a arquiteta achou interessante a harmonia das construções tradicionais com a paisagem e com o território amazônico e decidiu estudar mais profundamente o assunto, que deu origem ao trabalho.

A proposta do projeto, intitulado Sobre as Águas da Amazônia – Habitação e Cultura Ribeirinha, consiste em um conjunto habitacional em Manaus, capital do Estado do Amazonas, voltado para populações ribeirinhas que vivem em situação de vulnerabilidade. Ressalta a importância de resgatar as qualidades da arquitetura tradicional, incorporando nos desenhos características habituais aos moradores de palafitas e flutuantes. O trabalho é também uma crítica ao modelo atual de habitação social, que cria modelos de moradia genéricos e desconsideram as especificidades sociais e culturais da região.

O trabalho recebeu diversos prêmios. Dentre eles, o primeiro lugar no concurso internacional da IE School of Architecture and Design, de Madri, na Espanha — que, além do prêmio, forneceu à arquiteta uma bolsa integral para mestrado na universidade. Danielle não estava com tantas expectativas quando inscreveu o projeto no concurso, mas acredita que o tema da pesquisa cooperou para a conquista. “O cuidado com a região amazônica está bastante em alta. Eu fiquei feliz por conseguir o prêmio, mas também por dar um destaque maior a esse tema”, disse ela.

Para a realização do trabalho, Danielle atentou-se às particularidades sociais e culturais da região amazônica. “Primeiro, foquei bastante na parte teórica. Como não sou de Manaus, achei muito importante entender exatamente qual era o contexto de lá. Pesquisei muito sobre a história da região, a cultura e a arquitetura local.”

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A arquiteta conta que as diferenças geográficas entre a região amazônica e a cidade de São Paulo, onde vive, foram a maior dificuldade na hora de elaborar o trabalho. Foi preciso estudar as particularidades do local e evidenciá-las durante todo o processo. Depois de finalizar a pesquisa teórica, Danielle começou a desenhar o projeto. Clique aqui e confira o projeto completo.

Uso racional dos recursos

“Enfrentar o desafio da edificação em ambientes com níveis elevados de oscilação do meio aquático mostrou-se uma questão instigante”, destaca a professora Helena Ayoub Silva, professora do Departamento de Projeto da FAU que orientou o trabalho. Ela explica que mesmo que a Amazônia, a cidade de Manaus e a cultura ribeirinha não fizessem parte dos conhecimentos da estudante, uma ampla pesquisa possibilitou trazer subsídios para escolha do Igarapé do Quarenta como local de intervenção, área que atualmente é ocupada por palafitas construídas autonomamente pelos moradores.

Habitação ribeirinha em Nhamundá, na Amazônia - Fotos: Eduardo Girão | Acervo Museu da Casa Brasileira, 2013

“A proposta prevê a construção de edificações de uso misto: comércio, equipamentos comunitários e moradia, destinadas à remoção da população que habita áreas de risco, sujeitas à inundação ou desmoronamento, procurando considerar as particularidades, espacialidades e soluções adotadas pela habitação tradicional ribeirinha da região”, ressalta a professora.

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Outro ponto de destaque, de acordo com Helena, é que a estudante também investigou materiais que melhor se adequassem às condições físicas e de temperatura do local, além de ter uma atenção especial com as questões ambientais, do conforto, da eficiência e aproveitamento energético, utilização adequada e racional dos recursos empregados, entre outros aspectos.

Projeto considerou particularidades locais e uso racional dos recursos - Fotos: Reprodução | Sobre as águas da Amazônia - Habitação e Cultura Ribeirinha

Danielle ingressou no curso de Arquitetura e Urbanismo em 2013. Conta que nem sempre quis ser arquiteta, mas escolheu seguir essa área durante o ensino médio. “Não era um desejo que eu tinha desde pequena. Na adolescência, gostava bastante de desenhar e, junto a isso, conversando com alguns arquitetos, descobri que tinha interesse na profissão”, diz.

Em 2016, fez um intercâmbio na universidade alemã Karlsruher Institut für Technologie (KIT) e, no mesmo ano, começou a estagiar num escritório alemão, onde teve o primeiro contato com projetos arquitetônicos. Concluiu a graduação em 2019, com a apresentação do TFG na FAU.

“Nos próximos anos, pretendo continuar nessa pesquisa. Também pretendo montar meu próprio escritório e começar a fazer novos projetos”, conclui.

O trabalho completo pode ser baixado.