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Vila Bela da Santíssima Trindade, um paraíso no interior do Mato Grosso

Primeira capital do Estado, a pequena cidade é cercada por belezas naturais de tirar o fôlego. Ecoturismo com caniôns, cachoeiras e paisagens deslumbrantes.

Vila Bela da Santíssima Trindade

“É uma cidade muito simples, mas temos passeios lindos”. Quem liga para fazer uma reserva no hotel em Vila Bela da Santíssima Trindade, recebe o aviso. E é exatamente assim: pouca infraestrutura, cercada por belezas naturais de tirar o fôlego.

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Para chegar, são aproximadamente 550 quilômetros desde a capital do Mato Grosso, Cuiabá. A capital atual, porque Vila Bela foi a primeira capital do Estado. As riquezas minerais da região levaram portugueses a povoar a Capitania de Mato Grosso, mas a distância dos grandes centros e falta de rotas comerciais fez com que a capital fosse transferida para Cuiabá, em 1835. Vila Bela da Santíssima Trindade então foi abandonada por grande parte dos moradores. A principal atração da área urbana são justamente as ruínas da catedral, construída no período colonial.

Hoje, a cidade tem cerca de 17 mil habitantes e pouquíssimas opções de hotéis, restaurantes ou outros serviços comuns aos centros desenvolvidos de turismo. Mas, o potencial é enorme. Os passeios são realmente lindos, como avisou a Sandra, do Hotel Cascata, onde fiquei hospedada.   

Fotos: Arquivo pessoal | @agenteescolhe

A viagem até Vila Bela durou cerca de 6 horas, partindo de Cuiabá. Estrada de mão dupla, pista única e muitos caminhões – pede paciência e cuidado, mas a paisagem ajuda.

Chegando lá, Pitoco, um simpático cachorrinho que mora no hotel, já deu as boas vindas e Sandra apareceu depois de limpar os quartos. Ela recomendou aproveitar a tarde para conhecer a Cachoeira dos Namorados, já que a trilha até lá é relativamente curta.

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É necessário cruzar a ponte sobre o Rio Guaporé e percorrer 17 quilômetros de estrada de terra. O carro fica num estacionamento na entrada da trilha, local bem sinalizado e cheio – música alta, muita gente e uma certa decepção de quem tinha a ideia de um passeio na paz da natureza.

A trilha envolve 4 travessias pela água em cerca de 30 minutos de caminhada. No primeiro trecho, a música já fica para trás. A água caindo, os pássaros e nossos passos são os únicos sons. É uma trilha relativamente fácil, a maior dificuldade são as travessias pelo curso de água, com profundidade de cerca de 1 metro, alguma correnteza e pedras nem sempre firmes. A tristeza ficou por conta de algumas latas de cerveja encontradas no caminho.

Cem metros antes de chegar na Cachoeira dos Namorados, já é possível ver a água caindo, no alto do paredão. O barulho é impressionante e a força da água se comprova: antes mesmo de terminar a trilha, uma névoa molha os visitantes. Quem atravessa a mata, para e contempla o que vê. Uma cachoeira alta, com um volume de água incrível, uma grande piscina e a certeza de que a viagem valeu a pena.  

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Janeiro é mês de cheia, por isso o volume de água é tão grande.
Não é recomendado mergulhar muito próximo à queda pois além da
força da água, troncos ou pedras podem ser arrastados por ela.

Muitas araras e emas são vistas na estrada de terra, na volta para a cidade. A fome de quem fez trilha e nadou na cachoeira também aparece. Vila Bela tem poucas alternativas para o jantar: food trucks, um bar que serve espetinhos e a loja de conveniência do posto de gasolina, que serve pratos e porções. Quem é vegetariano ou vegano tem problemas para encontrar pratos sem proteína animal – a economia da região e as opções gastronômicas giram em torno da pecuária.

Voltando para o hotel, é preciso passar repelente no quarto e mudar a cama de lugar, por conta de uma goteira. Fora este inconveniente, a cama é confortável e o ar condicionado funciona e – para mim o mais importante – acordamos com um café da manhã reforçado para as trilhas do dia seguinte. No quintal do hotel, araras dão um show à parte.

O próximo destino só pode ser conhecido com a presença de um guia. Alcindo Chaves é o responsável por conduzir o grupo de 8 pessoas pela trilha do Jatobá. Pegamos a mesma estrada que leva à Cachoeira dos Namorados e seguimos por mais alguns quilômetros. Estacionamos o carro, algumas araras vermelhas nos fazem companhia. Antes de entrar na trilha uma oração e recomendações.

É uma trilha bate-volta, vamos e voltamos pelo mesmo caminho. Alguns trechos são bastante íngremes e é necessário usar cordas. São 5 quilômetros para ir e 5 para voltar. Quem se sentir cansado, precisa avisar o grupo. Repelente e protetor solar são necessários. Mais uma vez, todos os avisos se confirmam.

A trilha é cansativa e os mosquitos marcam presença. Nos trechos mais íngremes, as pernas cansam e o grupo precisa fazer algumas paradas para recuperar o fôlego. São cerca de 2 horas de caminhada até a nossa primeira atração, o deslumbrante Mirante dos Macacos.

Seguimos por mais vinte minutos até avistarmos a Cachoeira do Jatobá. Segundo nosso guia, ela tem 252 metros de altura, mas foi catalogada com menos. É a quarta maior cachoeira do Brasil. Todas estas informações perdem importância frente à beleza do que se vê. É possível passar um bom tempo olhando ao redor, sentir a paz que a natureza traz e ser absorvido pela magnitude da paisagem.

Para fechar com chave de ouro, uma nova trilha até o alto da cachoeira e um banho na piscina natural que se forma antes da queda d’água. A água é tão limpa que é possível matar a sede e encher as garrafas para a volta. Mais duas horas de caminhada pela mata, com a alma lavada.

Ao terminar a trilha, o almoço é servido no Balneário Tucano. Comida caseira, bem temperada e mesas na sombra das árvores. Arroz, feijão, salada com abacaxi, farofa de banana, carne e frango. Cada um serve o próprio prato e pode repetir à vontade.

Nosso guia explica que este serviço é uma novidade e que os turistas têm aprovado esta recepção pós-trilha. Para ele, Vila Bela tem um potencial incrível para o turismo, mas precisa investir na infraestrutura e dar mais opções para quem vêm conhecer as belezas naturais da região. Mais uma vez, ele tem toda razão.

Na área urbana a principal atração são as ruínas da antiga catedral, localizadas na praça central e protegidas por uma enorme estrutura de metal. As ruínas estão tomadas por teias de aranha, pombos e, fora um informativo, não é possível conhecer bem a história do local ou da cidade.

O último dia em Vila Bela foi reservado para os cânions, que prometiam ser o “passeio mais lindo”. A decepção ficou justamente por conta da atração principal. Chuvas na região das nascentes deixaram a água turva, marrom. Alcindo acredita que o aumento das queimadas na região contribuiu para que mais matéria orgânica fosse arrastada pelas águas.

Ele conta que já viu chuvas mais fortes e o nível da água mais alto, mas nunca com esta cor. Mesmo com a água escura, a paisagem dos cânions é linda e foi bom passar um tempo por lá.

No hotel, Sandra conta que somos o primeiro grupo que encontrou água assim nos cânions. A solução vai ser voltar para Vila Bela. A cidade é realmente simples, mas a simpatia e o sorriso no rosto das pessoas faz a diferença e a natureza do lugar é um espetáculo único.