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Como fazer ecoturismo no Peru estimula a conservação de uma cultura

A jornalista Paulina Chamorro esteve na Trilha de Salkantay, no Peru, e nos conta como foram suas impressões.

Por Paulina Chamorro

Algumas operadoras de turismo no Peru têm se dedicado a explorar novos caminhos incas que levem a Machu Picchu e que tragam mais experiências e vivências. Muito além da aventura em si, hoje é possível passar dias por caminhos que levam para uma cultura que ainda preserva algumas tradições incas nas muitas pequenas comunidades da região.

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Uma delas é a rota da Trilha de Salkantay, que começa em Cusco, passando por vales e sítios arqueológicos incas, até chegar aos pés da imponente montanha que dá o nome ao caminho.

Adoro fazer ecoturismo. Na sua essência. Aquele que estimula o contato e convivência com a cultura local.  Os caminhos por estes lados, de Mollepata a Machu Picchu, foram desenvolvidos pela Mountain Lodges of Peru, uma operadora focada também em deixar impactos positivos do turismo nas comunidades e desenvolver junto a elas opções de desenvolvimento e manutenção de sua rica cultura.

Para abrigar desde projetos de recuperação de fauna e flora, reciclagem, reflorestamento (com desenvolvimento de viveiro próprio!), saúde das mulheres e muitos outros, criaram em 2006 a ONG Yanapama, que significa “ajuda” em quechua- língua ainda predominante por estas alturas.

Na noite anterior a minha saída, conversei longamente em Cusco com a diretora da ONG, Dora Quintana. Uma mulher da região, que conhece profundamente a necessidade dos povos altiplanicos e também com muitas ideias para unir um turismo positivo e o desenvolvimento mais justo para elas.  Por isso a variedade de projetos que vão desde saúde a reflorestamento.

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“As pessoas não podem viver comendo só batatas. Precisam de educação e saúde também.  Por que condená-los a não ter oportunidades? E para que as oportunidades cheguem até eles, um dos caminhos é o turismo. O turismo positivo, que contribua e apoie.”

Escolhi conhecer o projeto que a ONG desenvolve com mulheres, na região de Mollepata, no alto de uma montanha, em um lugar conhecido como El Pedregal.

Por aqui a transformação é total. Começou como um projeto de estímulo a pequenas produtoras e hoje é uma experiência de empoderamento de mulheres, sem igual para quem quer passar um tempo mergulhando em uma cultura totalmente conectada com a natureza.

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As mulheres se organizam em cooperativa e produzem desde geleias (a partir das frutas vindas da agrofloresta que também fica no El Pedregal), e um artesanato colorido e único, com muita lã de alpaca e ovelha.

Fruta da região chamada ‘tomate de arbol’ (Tomate de árvore)

E é aqui que quero contar uma história. Porque falar de artesanato e produção local exatamente nesta região, é remeter a métodos ancestrais, que não mudaram em 200 anos.

Tingimento da lã

O método de tear é antigo, e o método de tingimento também. Cenouras, folhas, raízes, flores. Tudo vira insumo para pintura das lãs em diferentes tons. O tecido feito no tear, com ferramenta, é chamado em quechua de away.

A artesã Lusmila me conta que é um método usada pelos bisavós, inteiramente feito a mão. “Agora todos usam máquinas. Aqui resolvemos recuperar uma arte que estava sendo perdida.”

Enquanto isso, fico hipnotizada com o trançado das mãos que se mexem habilmente com a ajuda de pedaços de madeiras ou osso usados como ferramentas para separar no tear as múltiplas cores das lãs.

Os desenhos são das montanhas de Cusco ou dos rios. E a pintura das lãs também.

Artesã no tear

Cochonilhas (Dactylopius coccus) um minúsculo inseto muito usado para os tons avermelhados. Em meia hora de agua fervendo, saí uma lã lindamente tingida com tons que lembram o bordô. Mas as opções são inúmeras: até 16 tons a chochonilla pode fornecer.

Para fixar as cores, limão fermentado por três meses.

Ouvi também sobre folhas, raízes, ervas, cebola, milho roxo, cenoura, cascas de madeira….

“Antes era usada a anilina. Mas para estas cores, nós mesmas criamos estes processos naturais”, conta Adriana. Além de tingir ela também faz a arte do tear.

Artesã no tear

Depois de tingidas, a escolha das cores. E no tear uma peça pode demorar semanas para ficar pronto.

Saio de lá com a certeza de que ter uma peça das mãos dessas mulheres, é um luxo. O verdadeiro luxo pelo tempo e particularidade que teve para ser feita. Diversas personalidades femininas atuando: desde o tom de cada cor na hora de tingir, até os desenhos e a combinação.

Levamos cultura e ancestralidade. Os tesouros de Peru a mais de três mil metros de altitude.

Lago Salkantay

Para conhecer o novo roteiro de 3 dias pela Trilha Salkantay: www.mountainlodgesofperu.com

Paulina Chamorro no lago Salkantay

Crédito das fotos: Arquivo pessoal de Paulina Chamorro

Paulina Chamorro,  jornalista com mais de duas décadas de cobertura de temas socioambientais. Medalha João Pedro Cardoso em 2016, apresenta o podcast Vozes do Planeta, colabora com a National Geographic Brasil e é cofundadora da Liga das Mulheres pelos Oceanos.