As substâncias poli e perfluoroalquílicas (PFAS) – também conhecidas como “produtos químicos eternos” – pertencem a uma classe de produtos químicos encontrados em tecidos, móveis e utensílios domésticos. Testes recentes agora apontam altos níveis de “produtos químicos eternos” em certos tipos de alimentos e questionam o impacto na saúde humana.
Em produtos de consumo, a presença dos “químicos eternos” não é novidade. Eles são aplicados para torná-los antiaderentes, impermeáveis e resistentes a manchas, por exemplo. Entretanto, é crescente a preocupação ao detectá-los também em produtos alimentícios e bebidas.
Um novo estudo liderado pela Escola de Medicina Keck da USC, em Los Angeles, Califórnia (EUA), que o maior consumo de chá, carnes processadas e alimentos preparados fora de casa está associado ao aumento dos níveis de PFAS no corpo ao longo do tempo.
“Até onde sabemos, este é o primeiro estudo a examinar como os fatores dietéticos estão associados às mudanças no PFAS ao longo do tempo”, diz Jesse A. Goodrich, PhD, professor assistente de ciências populacionais e de saúde pública na Escola de Medicina Keck e pesquisador do estudo.
“Estamos começando a ver que mesmo alimentos que são metabolicamente bastante saudáveis podem ser contaminados com PFAS”, ressalta Hailey Hampson, estudante de doutorado na Divisão de Saúde Ambiental da Escola de Medicina Keck e principal autora do estudo. “Estas descobertas destacam a necessidade de olhar para o que constitui comida ‘saudável’ de uma forma diferente.”
Os resultados foram publicados recentemente na revista Environment International.
Como foi realizado o estudo
Os pesquisadores estudaram dois grupos multiétnicos de jovens adultos, um com amostra representativa nacionalmente e outro principalmente hispânico.
Cada participante respondeu a uma série de perguntas sobre a própria dieta alimentar, incluindo a frequência com que consumiam vários alimentos (como carnes processadas, vegetais verde-escuros e pão) e bebidas (incluindo bebidas desportivas, chá e leite). Eles também relataram a frequência com que comiam alimentos preparados em casa, em um restaurante fast-food ou em outro restaurante qualquer.
Os participantes também deram amostras de sangue, sendo que um dos grupos foi testado duas vezes ao longo de quatro anos. De acordo com o estudo, comer mais alimentos preparados em casa está associado a níveis mais baixos de PFAS – o que foi detectado em pessoas em todo o país.
Os pesquisadores sugerem que as descobertas apontam as embalagens de alimentos, que muitas vezes contêm PFAS, como o problema. No caso da ligação entre o chá e os altos níveis de “químicos eternos”, a suspeita é que o problema esteja nos saquinhos de chá – embora sejam necessárias mais pesquisas.
Já maiores ingestões de carne suína, cachorro-quente, carne bovina e outras carnes processadas foram associadas a concentrações mais altas de PFAS. Os “químicos eternos” podem se acumular em produtos cárneos através de diversas fontes de exposição. Carnes processadas como salsichas, bacon e cachorros-quentes podem ser provenientes do contato durante o processamento ou cozimento. Outras formas de carne, como carne suína e bovina não processada, podem vir de animais criados em áreas contaminadas com PFAS ou embalados em invólucros resistentes a gordura que contenham PFAS.
As conclusões sugerem também que a monitorização pública de determinados produtos, como bebidas, poderia ajudar a identificar e eliminar fontes de contaminação. Para os pesquisadores, as descobertas destacam a necessidade de mais regulamentações. Tal fato é ainda mais evidente frente ao crescente consumo de refeição por delivery.
Os PFAS são conhecidos por serem prejudiciais à saúde: podem perturbar os hormônios , enfraquecer os ossos e aumentar o risco de doenças. Eles também têm sido associados ao câncer, defeitos congênitos, doenças renais e outros problemas graves de saúde.