Fogo destruiu 80% do Parque Juquery, última reserva do Cerrado em SP

Quando se fala em Cerrado, poucas pessoas se lembram do Estado de São Paulo. Mas, os “campos de altitude” descritos nas correspondências de José de Anchieta e do padre Manoel da Nóbrega no século XVI eram o que atualmente os biólogos chamam de Cerrado. De lá para cá, a ocupação territorial em São Paulo foi tão intensa que pouco se salvou da vegetação original de Cerrado. Com 2 mil hectares de extensão, o Parque Juquery, que pegou fogo neste domingo, 22 de agosto, é o último remanescente preservado na região metropolitana de São Paulo.

De acordo com Mariana Napolitano, gerente de Ciências do WWF-Brasil, a recuperação do Juquery poderá ser mais difícil do que outras áreas afetadas pelo fogo por se tratar de uma área situada em uma região bastante fragmentada. Embora a flora do Cerrado seja adaptada ao fogo, no caso do Parque Juquery pode ser diferente. “Incêndios que ocorrem em áreas extensas e nos períodos de seca costumam ter impactos maiores, especialmente em remanescentes de Cerrado com pouca conexão com outras áreas protegidas deste bioma. A recuperação pode ser mais difícil”, explica.

Os animais do Cerrado também têm estratégias para se proteger ou fugir do fogo, mas o isolamento do Parque Juquery é um fator de risco. Localizado em matriz urbana, ao lado de Franco da Rocha e cercado por estradas, o parque não tem conexão com outras áreas de Cerrado para onde os animais possam fugir. Nesse cenário, o fogo pode ter consequências dramáticas. “O trabalho de monitoramento da equipe do parque será muito necessário, no pós fogo, para mapear como os animais sobreviventes vão se adaptar”, destaca.

O Parque Juquery não foi o único que queimou nesta temporada de seca. De 1 a 22 de agosto o Estado de São Paulo registrou 1646 focos de calor – o maior número desde 2010 , quando foram registrados 2.400 focos. “Com a ausência de chuvas e a baixa umidade do ar, somadas à vegetação seca e solo sem umidade, qualquer ação pode induzir a grandes queimadas”, adverte Mariana. “Existe uma conjunção de fatores, a começar pelas mudanças climáticas, que geram invernos mais quentes e secos, vegetação mais inflamável. De forma geral, em todo o Brasil há mais desmatamento, ciclos hídricos mais secos e essa dinâmica vai se retroalimentando. O Pantanal voltou a queimar e aqui em São Paulo tudo indica que não será diferente”, analisa. “Existe outro agravante: a umidade já está baixa e com mais fuligem no ar, as doenças respiratórias se agravam e podem contribuir para sobrecarregar o sistema de saúde, que já está ocupado com a COVID-19”, acrescenta.

Governo faz apelo sobre balões

Está em andamento uma campanha de conscientização para que a população colabore e siga as orientações preventivas de não: fazer fogueiras, queimar lixo, jogar cigarros nas rodovias próximas à mata, soltar balões, entre outras. As ações ocorrem em estações de trem, postos de combustível, rodovias, por meio de SMS da Defesa Civil, que alerta sobre as regiões mais secas etc. Além do tempo mais seco, a queima criminosa, atos de vandalismo e outras ações humanas contribuem para a ocorrência de incêndios florestais.

As principais informações apontam que a queimada no Parque Estadual Juquery, no município de Franco da Rocha, ocorreu após a queda de um balão. Acontece que fabricar, vender, transportar ou soltar balões é considerado crime ambiental (Lei Nº 9.605/98) e coloca em risco a vida humana e toda a biodiversidade. A pena prevista é de detenção de um a três anos ou multa.

No sábado (21), a capital também registrou um incêndio de grandes proporções na região do Parque Estadual Jaraguá, próximo à área de reserva indígena. O fogo começou durante a manhã, chegou a ser controlado, mas novos focos foram registrados à noite. Os agentes estaduais atuaram em parceria com a comunidade e conseguiram extinguir as queimadas no fim do sábado. As causas serão apuradas pelas autoridades competentes. A área atingida também será avaliada.