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Castanha-da-amazônia movimenta mais de R$ 2 bilhões por ano

A castanheira e seu fruto mostram a potência da bioeconomia com a floresta em pé.

Published 22/05/2023
castanha-da-amazônia castanha-do-pará

Foto: Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA)

A castanha-da-amazônia, também conhecida como castanha-do-pará, é um ótimo exemplo de como a floresta em pé pode garantir renda e uma economia potente: a cadeia de valor da castanha movimenta anualmente mais de R$ 2,3 bilhões. Este fruto tem como peculiaridade uma coleta quase que 100% proveniente do  agroextrativismo por povos indígenas e comunidades tradicionais da Amazônia, o que torna a castanheira e seu fruto elementos centrais para a conservação da maior floresta tropical do mundo e para os modos de vida dos povos que a produzem.

Fotos: Reprodução | A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor

Fundamental para a economia da sociobiodiversidade brasileira, a castanha é um alimento saudável e ajuda a proteger as florestas, culturas e tradições nos sete estados onde é produzida. Mas, sua cadeia ainda precisa ser aperfeiçoada, porque os castanheiros e castanheiras ainda são mal remunerados. Dos mais de R$ 2,3 bilhões movimentados todos os anos pela cadeia da castanha, as etapas com maior representatividade financeira são as mais próximas do consumidor: o atacado e o varejo. Esses elos movimentam aproximadamente R$ 1,9 bilhão, que representam 84% do total, seguidos das usinas processadoras, que movimentam R$ 278 milhões, representando 12% do total do valor.

Por fim, as organizações comunitárias, povos indígenas e comunidades tradicionais que vendem a castanha in natura movimentam R$ 99 milhões, representando apenas 4% do total. “Os indígenas conservam a natureza. E isso não é valorizado pela maioria, como deveria ser. Estamos conservando a nossa terra com nossos conhecimentos, nossa força, e nossa luta”, opina Maria dos Anjos, liderança da aldeia Novo Paraíso, da Terra Indígena (TI) Caititu, no Amazonas.

Imagem de colheita de castanha-da-amazônia na Terra Indigena Caititu. Foto: OCA

Todas estas informações estão no estudo “A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor, publicado pelo Observatório Castanha-da-Amazônia (OCA) no final de abril. “O estudo buscou estimular o diálogo sobre questões que são fundamentais para a cadeia, como a valorização dela e das economias de base florestal, dos produtos e dos produtores extrativistas da Amazônia, mas especialmente as melhores formas para repartir os benefícios socioeconômicos dos envolvidos”, explica Renata Toledo, coordenadora da pesquisa que gerou o estudo.

Foto: Reprodução | A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor

A pesquisa inédita entrevistou produtores, associações, cooperativas, usinas comunitárias e privadas, empresas e atores-chave da academia e do mercado multinacional para tentar explicar a complexidade dessa cadeia tão importante para povos indígenas e comunidades tradicionais que atuam como produtores de castanha.

Este é o segundo estudo sobre a castanha. O primeiro foi publicado pelo Imaflora em 2016 e ganhou uma visão atual e ainda mais aprofundada da cadeia da castanha, em parceria com o OCA. Segundo o novo relatório, os produtores não chegam a absorver nem 5% da movimentação total da cadeia, e há situações em que a margem de lucro chega a ser inexistente. Por outro lado, a pesquisa estima que as margens dos outros atores da cadeia variam de 12% a 30%.

Foto: Adriano Gambarini | OPAN

Segundo André Machado, representante do secretariado-executivo do OCA, o estudo aponta que a cadeia da castanha é complexa, uma cadeia longa, com vários intermediários e canais de distribuição pulverizados. Há diversos elos, etapas e atores que variam de acordo com a área de produção e origem; a logística de escoamento é bastante complicada e o volume das safras são de difícil previsão. Além disso, o perfil, localização e maturidade das organizações comunitárias é muito heterogêneo, assim como a demanda dos compradores.

“Essas variáveis tornam a caracterização da cadeia uma tarefa árdua. Os números do estudo são aproximações dessa complexidade, mas têm o objetivo de contribuir para o debate da valorização dos seus diferentes elos e atores, especialmente o produtor extrativista, que é o grande responsável por gerar valores ambientais, sociais e culturais importantes, mas que não são reconhecidos e remunerados adequadamente pela cadeia”, explica.

Para Machado, existe espaço para o desenvolvimento de um comércio mais justo, com maior sensibilização de consumidores e compradores dispostos a pagar mais pelo valor ‘invisível’ que os produtos da sociobiodiversidade carregam, mas que essa solução sozinha não dá conta de resolver todos os problemas de estruturação da cadeia.

Foto: Adriano Gambarini | OPAN

“O estudo mostra que a castanha-da-amazônia tem um potencial de geração de renda enorme em todos os sete estados produtores, mas a forma como a cadeia de valor é estruturada não permite que esse potencial se materialize na forma de remuneração adequada para os mais de 60 mil produtores espalhados pela região”, afirma Luiz Brasi Filho, Coordenador da rede Origens Brasil® no Imaflora.

Luiz Brasi Filho completa dizendo que o Imaflora e seus parceiros vêm buscando conectar o setor empresarial com as populações tradicionais e povos indígenas por meio do comércio ético, visando sensibilizar e engajar o mercado a criar relações mais justas, diretas e com transparência na cadeia.

Foto: OCA

Como tornar a cadeia de valor mais justa?

O manejo sustentável de castanha-da-amazônia é uma atividade que produz alimento de alta qualidade nutricional, enquanto protege a floresta. “Esse trabalho tem uma enorme importância para a gestão dos territórios. Temos que entender que esses territórios estão com a floresta em pé por causa do trabalho de ocupação territorial dos castanheiros e castanheiras”, explicou Diogo Henrique Giroto, coordenador do Programa Amazonas da Operação Amazônia Nativa (OPAN).

Foto: Adriano Gambarini | OPAN

Apesar dos inúmeros atributos socioambientais que a castanha carrega, eles estão longe de ter um peso significante na decisão de compra por parte do setor industrial e comercial, já que o preço é o principal fator para tomadas de decisão. A depender da volatilidade de preços na safra da castanha, ela é substituível por outras nozes e castanhas que muitas vezes são plantadas em monoculturas e não possuem o mesmo valor socioambiental e cultural que a castanha-da-amazônia tem.

Foto: Reprodução | A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor

Iniciativas como o Raízes do Purus, projeto realizado desde 2013 pela OPAN, com patrocínio da Petrobras e do Governo Federal, busca fortalecer a cadeia produtiva da castanha-da-amazônia, atuando na TI Caititu, no Amazonas, realizando oficinas de boas práticas, fortalecendo a organização social e o planejamento coletivo das famílias para as safras e prospectando canais para a comercialização conjunta e mais justa deste produto da sociobiodiversidade.

“Mudar o cenário não é fácil, mas ele não pode ser deixado para depois. A gente precisa melhorar a infraestrutura produtiva, comercial, logística, fazer o fomento adequado da produção, da gestão e da comercialização da castanha e, especialmente, dar o devido valor aos atributos socioculturais e socioambientais da castanha”, finaliza Renata.

Para conferir o estudo completo, clique AQUI.

Foto: Reprodução | A Castanha-da-Amazônia: Aspectos Econômicos e Mercadológicos da Cadeia de Valor

 

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