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Custo da adaptação climática é 50% maior do que o estimado

Pnuma alerta ainda que o financiamento para adaptação aos efeitos da mudança climática está desacelerando, apesar das crescentes necessidades

Published 06/11/2023
Adaptação Climática

Enchente em Lajeado em setembro de 2023. | Foto: Mauricio Tonetto

Os fundos necessários para adaptação aos efeitos da mudança climática devem atingir uma faixa de US$215 bilhões a US$387 bilhões por ano nesta década. É o que aponta um relatório global publicado na última quinta-feira (2) pelo Pnuma (Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente).

Segundo a agência ambiental da ONU, o progresso no financiamento na adaptação climática está desacelerando quando deveria estar aumentando. Até porque a demanda se mostra maior do que a “oferta” atual.

As necessidades de financiamento são 10 a 18 vezes maiores que as finanças públicas internacionais atualmente destinadas à adaptação climática nos países em desenvolvimento – mais de 50% mais elevadas que a estimativa média anterior. Apesar das necessidades crescentes, os fluxos multilaterais e bilaterais de financiamento para adaptação recuaram 15%, atingindo US$21 bilhões em 2021.

Necessidade versus ação

Intitulado a “Lacuna de Adaptação Climática 2023”, o documento expõe uma divisão crescente entre necessidade e ação quando se trata de proteger as pessoas de extremos climáticos. “A ação para proteger as pessoas e a natureza é mais urgente do que nunca. Vidas e meios de subsistência estão sendo perdidos e destruídos, com os mais vulneráveis sofrendo mais“, afirma o secretário-geral da ONU, António Guterres.

Moradores enfrentam enchentes nas Filipinas. | Foto: Noel Celis | IFRC

Como resultado da crescente necessidade de adaptação financeira e fluxos flutuantes, a atual lacuna de adaptação financeira está agora estimada em US$194-366 bilhões por ano. Ao mesmo tempo, o planejamento e a implementação da adaptação parecem estagnados. Essa falha em adaptação tem implicações massivas para perdas e danos, particularmente para os mais vulneráveis.

A diretora executiva do Pnuma, Inger Andersen, alerta que neste ano, as mudanças climáticas se tornaram, novamente, mais disruptivas e mortais: recordes de temperatura foram quebrados, enquanto tempestades, enchentes, ondas de calor e incêndios florestais causaram devastação.

Para ela, os episódios nos dizem que o mundo deve, urgentemente, acabar com as emissões de gases de efeito estufa e aumentar os esforços de adaptação para proteger as populações vulneráveis. No entanto, segundo ela, nenhum dos dois está acontecendo.

De acordo com Inger Andersen, mesmo que a comunidade internacional parasse de emitir todos os gases de efeito estufa hoje, “a disrupção climática levaria décadas para ser dissipada”.

Assim, ela pede aos formadores de políticas que prestem atenção no documento, intensifiquem o financiamento e façam da COP28 o momento em que o mundo “se comprometa integralmente a proteger os países de baixa renda e os grupos desfavorecidos de impactos climáticos prejudiciais”.

Novos financiamentos

Uma adaptação ambiciosa pode melhorar a resiliência – a qual é particularmente importante para países de baixa renda e grupos desfavorecidos – e evitar perdas e danos.

O relatório aponta para um estudo que indica que as 55 economias mais vulneráveis ao clima têm, sozinhas, registrado perdas e danos de mais de US$500 bilhões por ano nas últimas duas décadas. Os custos aumentarão acentuadamente nas próximas décadas, particularmente na ausência de mitigação e adaptação vigorosas.

Sahy, no litoral Norte, um dos locais mais afetados pelos temporais em fevereiro de 2023. Foto: Rovena Rosa | Agência Brasil

Estudos indicam que cada bilhão investido em adaptação contra inundações costeiras leva a uma redução de US$14 bilhões em danos econômicos. Enquanto isso, U$$16 bilhões por ano investidos em agricultura poderiam impedir que aproximadamente 78 milhões de pessoas passassem fome ou fome crônica devido aos impactos climáticos.

No entanto, nem a meta de dobrar os fluxos financeiros internacionais de 2019 para os países em desenvolvimento até 2025, nem uma possível Nova Meta Coletiva Quantificada para 2030, por si só, fecharão significativamente a lacuna de financiamento da adaptação e proporcionarão tais benefícios.

Este relatório identifica sete maneiras de aumentar o financiamento, incluindo gastos internos e financiamento dos setores internacional e privado.

Trabalho de desobstrução da rodovia Rio-Santos na altura da Barra do Sahy, litoral norte de São Paulo. | Foto: Sérgio Barzagui | Governo do Estado de São Paulo

Outros caminhos incluem remessas, financiamento ampliado e sob medida para Pequenos e Médios Empreendedores, implementação do Acordo de Paris sobre a mudança dos fluxos financeiros para vias de desenvolvimento de baixo-carbono e resiliência climática, e uma reforma na arquitetura financeira global, como proposto pela Iniciativa de Bridgetown.

O novo fundo para perdas e danos também será um importante instrumento para mobilizar recursos, mas os problemas persistem. O fundo irá necessitar avançar em mais mecanismos de financiamento inovadores para alcançar a escala necessária de investimento.

Veja aqui o relatório completo (em inglês).

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