Cervejaria na Austrália usa algas para filtrar CO2
Biorreator produz tanto oxigênio quanto um hectare de floresta australiana.
Biorreator produz tanto oxigênio quanto um hectare de floresta australiana.
A fabricante australiana de cerveja artesanal Young Henrys está testando usar algas como conversor natural e eficiente para transformar dióxido de carbono (CO2) em oxigênio. Desta forma, a companhia corta as emissões de CO2 geradas durante a produção.
Na fabricação de cerveja, o CO2 é produzido naturalmente durante o processo de fermentação. Inclusive, parte do composto químico gera a efervescência natural da bebida. Ainda assim, não é pouco. Uma árvore leva dois dias para absorver o CO2 gerado na fermentação de um simples pacote de seis unidades de cerveja.
A solução do “The Algae Project”, realizado pela cervejaria em parceria com cientistas do clima, é retirar o excesso do dióxido de carbono para alimentar um biorreator de algas de 400 litros. Ali, 20 trilhões de células de microalgas agem para absorver o CO2, criar mais algas e oxigênio. A substância resultante pode ser liberada no ar sem causar danos ambientais.
Os idealizadores estimam que o biorreator produz tanto oxigênio quanto um hectare de floresta australiana. “É como se estivéssemos instalando uma mini floresta no chão da cervejaria”, afirma o Dr. Leen Labeeuw, biotecnologista do instituto de pesquisa Climate Change Cluster da Universidade de Tecnologia de Sydney, na Austrália.
As microalgas são plantas minúsculas que podem crescer em água doce e salgada. Os cientistas da universidade estão trabalhando em uma variedade de aplicações com algas para ajudar a combater as mudanças climáticas, incluindo a criação de produtos como alimentos, produtos farmacêuticos e plásticos.
No Brasil, por exemplo, empresas estão testando o uso de microalgas para fazer corantes para cosméticos e tratamento de efluentes.
“As algas oferecem muitas soluções para a emergência climática. Realmente acredito que o potencial de uso de algas em um futuro sustentável é ilimitado, diz o professor Peter Ralph, diretor executivo do Climate Change Cluster.
Usar a matéria-prima para substituir produtos à base de petróleo é uma das alternativas mais promissoras tanto em termos de lucro como em benefícios ambientais.
A pesquisadora de bioprodutos, Dra. Janice McCauley, explica que as algas têm três blocos de construção químicos principais: proteínas, carboidratos (açúcares) e lipídios (óleos). “Com as microalgas em particular, podemos manipular as vias regulatórias para que possamos acumular um ou outro desses blocos de construção – para que possamos usar algas para criar combustível, alimentos e outros produtos”.
A maior ambição da cervejaria Young Henrys é se tornar neutra em carbono. Entre outras ações já implementadas está a doação de grãos usados a fazendas locais – que servirão como ração para o gado -, o uso de vidro recarregável para a vizinhança, uso de latas de alumínio (infinitamente recicláveis) para venda. Além disso, o topo da cervejaria é coberto por painéis solares e a companhia já se prepara para instalar outro sistema solar em seu segundo armazém. O objetivo é que 100% das necessidades energéticas sejam abastecidas por energia renovável até o final de 2021.
Apesar dos importantes esforços, é importante salientar que os impactos ambientais da produção de cerveja vão ainda muito além. A água, por exemplo, é mais de 95% da matéria-prima e o processo de extração da indústria causa estresse hídrico. A água também é usada na agricultura no cultivo de grãos, o que também causa grandes impactos no solo.
Neste sentido, uma marca estadunidense lançou uma cerveja com “gosto” de mudanças climáticas. A ideia foi mostrar na prática como a devastação impactará no sabor dos ingredientes disponíveis no futuro, como o de grãos e da própria água.
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