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Conheça a cidade brasileira que vive do guaraná

Isolada na Floresta Amazônica, são necessárias 20 horas de barco de Manaus para chegar até lá.

alimentos disposição energia
Guaraná da Amazônia | Foto: Felipe Panfili

Segundo a lenda do guaraná, foi depois que uma mãe enterrou o olho de seu filho, considerado um protegido dos deuses indígenas, que nasceu o primeiro fruto de Guaraná. Essa é história que contam em Maués, a terra do guaraná, habitada pelo povo Saterê-Mawé.

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A cidade ribeirinha de Maués, no interior do estado do Amazonas, tem raízes indígenas e sua vida e economia baseada principalmente no cultivo do guaraná. São mais de dois mil produtores da espécie na região. Para chegar à cidade, isolada na Floresta Amazônica, são necessárias cerca de 20 horas de barco partindo de Manaus. A outra forma de chegar até o local é fretando um avião bimotor.

Maués tem aproximadamente 60 mil habitantes, mas o curioso é que dois terços de seus cidadãos vivem em casas isoladas e em pequenas comunidades ao longo dos rios que permeiam o município, tendo o barco como único meio de transporte.

População ribeirinha | Foto: Felipe Panfili
População ribeirinha | Foto: Felipe Panfili

É em uma dessas pequenas propriedades, no rio Limão, que vive a Dona Ester Meister que mora com marido e filhos. Ela produz guaraná há muitos anos, aprendeu com seu pai. “Desde criança eu sempre fui da roça. Eu sempre gostei de trabalhar com o guaraná, sou apaixonada pelo meu trabalho e pelo o que eu faço”, conta dona Ester.

O plantio do guaraná em sua propriedade permite que ela e sua família tenham um renda extra no final do ano. Eles plantam, colhem e torram a semente do fruto, que é vendido em sacas de 40 quilos.

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Dona Ester | Foto: Felipe Panfini
Dona Ester Meister | Foto: Felipe Panfini

O guaraná, ou wa’raná, em tupi, é uma espécie de cipó amazônico, que gosta de clima quente e úmido. Sua safra se dá apenas uma vez ao ano, entre os meses de outubro e dezembro. Para produzir o pó, que contém o energético natural, é necessário separar a semente do fruto e torrá-la, como no processo do café. A semente do guaraná é a parte preta do fruto, que é semelhante à pupila de um olho. O Brasil é o único produtor comercial de guaraná do mundo.

O pó do guaraná é rico em substâncias funcionais como a cafeína, a teobromina, a teofilina e a catequina. Além de seus efeitos já conhecidos, como dar energia e disposição, suas propriedades também auxiliam no emagrecimento, ajudam o sistema imunológico, melhoram a pressão sanguínea, reduzem o colesterol, possuem substâncias anti-inflamatórias e antioxidantes, prevenindo também o envelhecimento.

Fazenda Santa Helena

O maior produtor e comprador de Guaraná em Maués é a Ambev, que utiliza o ingrediente para produzir o refrigerante Guaraná Antarctica. Noventa por cento do guaraná utilizado pela fabricante é produzido por cerca de 1.500 pequenos produtores da região que vivem da agricultura familiar, como a Dona Ester. Os outros dez por cento são cultivados na Fazenda Santa Helena, fundada em 1970 em Maués pelos donos da Antarctica, hoje pertencente ao grupo Ambev.

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Fazenda Santa Helena | Foto: Felipe Panfili

São 18 mil hectares em meio a Amazônia. Por estar em uma região de reserva legal, apenas 20% desta área é destinada ao plantio da espécie, os outros 80% são de mata preservada. É de lá que saem todas as mudas de guaraná que são doadas aos produtores locais. “São mais de 50 mil mudas por ano, cultivadas pelo método de estaquias de plantas matrizes selecionadas, elas levam cerca de dois anos para dar seus primeiros frutos”, explicou Miriam Figueiredo da Frota, Gerente Agronômica da Ambev.

Na fazenda o cultivo utiliza adubação natural, mas eles ainda complementam com adubos químicos, em baixas quantidades. “O solo da região já é muito rico e o guaraná é uma espécie endêmica de Maués, por isso não são necessárias grandes quantidades de insumos. Na safra deste ano, por exemplo, nós utilizamos apenas adubo orgânico”, explicou o Engenheiro Agrônomo da Fazenda Santa Helena, Roosevelt Hada Leal.

O pé de guaraná com seu fruto | Foto: Mayra Rosa
O pé de guaraná com seu fruto | Foto: Mayra Rosa

Com a ambição de tornar o processo produtivo ainda mais sustentável, existem dois projetos piloto acontecendo no local, que funciona também como um centro de estudos do guaraná: cultivo em sistema agroflorestal e cultivo orgânico.

Plantio agroflorestal

No sistema agroflorestal, são combinadas diferentes espécies que se complementam em uma mesma área. Isso evita que as plantas sejam atacadas por pragas e criam a condição perfeita com os nutrientes necessários para que o guaranazeiro cresça saudavelmente.

Plantio piloto agroflorestal | Foto: Felipe Panfili

No caso da fazenda Santa Helena, estão combinado ao plantio do guaraná, o ingá, a andiroba e o pau-rosa. O ingá é uma leguminosa que fixa o nitrogênio do ar no solo. Antes de plantar o pé de guaraná, eles irão podar suas folhagens e usá-las na cobertura do solo, o que ajuda a dar ainda mais nutrientes. “É como se a gente estivesse reproduzindo a regeneração natural que ocorre no ambiente. Primeiro vem a mata secundária, as espécies pioneiras, como o ingá e a andiroba e depois de estabelecidas, vamos entrar com espécies primárias, como o guaraná e o pau-rosa”, explicou Roosevelt.

Método orgânico

Outro projeto que está acontecendo também na fazenda é o cultivo orgânico. Os engenheiros agrônomos estão utilizando o bagaço do guaraná, a borra que sobra durante o processo da fabricação do extrato, como adubo orgânico. Também é utilizado esterco de galinha. As plantas cultivadas pelo método já deram frutos este ano e estão notavelmente mais fortes, verdes e viçosas, agora eles estão quantificando quanto de cada adubo é necessário e ideal para o plantio.

Cultivo orgânico do guaraná | Foto: Felipe Panfili
Cultivo orgânico do guaraná | Foto: Felipe Panfili

Ambos os projetos estão em fase de testes e análises para que possam ser replicados, principalmente nas fazendas dos pequenos produtores, que anualmente são treinados sobre as melhores práticas de plantio.

Toda a produção de sementes da fazenda é enviada para a fábrica de extratos, que também fica na cidade. Lá os grãos ensacados, já torrados, são transformados em extrato líquido. Esse extrato é enviado duas vezes por mês de barco para Manaus, onde é finalizado o xarope de guaraná que finalmente será enviado para diversas fábricas da Ambev no Brasil e em Portugal.

Aliança do Guaraná

A Ambev, juntamente com a USAID, esta também encabeçando a Aliança do Guaraná, que tem por objetivo levar melhorias socioeconômicas, culturais e educacionais para toda a região. Em fase inicial, o projeto está sendo liderado pela IDESAM, Instituto de Conservação e Desenvolvimento Sustentável da Amazônia. Segundo Eric Brosler, Coordenador Técnico do projeto, neste momento eles estão fazendo levantamentos e discutindo os problemas mais emergenciais de Maués. Após esta fase, serão desenvolvidos projetos específicos que devem ser implementados já em 2018.

Mayra Rosa viajou a convite do Guaraná Antarctica para Maués durante a Festa do Guaraná, evento anual da cidade com shows e atrações culturais que celebram o fim da colheita.